O país enfrenta uma das piores crises do emprego
em sua história: números recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) apontam que atualmente 11,4 milhões de pessoas encontram-se
na busca por uma colocação profissional. Devido ao cenário preocupante, cada
vez mais trabalhadores procuram formas de garantir a renda e superar as
dificuldades de um mercado mais acirrado. Dentre as alternativas, a prestação
de trabalho autônomo - o freelance - é uma das principais apostas.
De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (Caged), somente no último ano mais de 1,5 milhão de brasileiros
perderam seus empregos – e o saldo negativo no número de cargos abertos em todo
país fez com que mais profissionais optassem pelo trabalho autônomo. Dados do
IBGE indicam que durante o período de crescimento da economia brasileira (entre
2003 e 2011) observou-se uma redução dessa categoria de trabalho. Em
contrapartida, no último ano, o Brasil voltou a apresentar aumento no número
desses profissionais, atualmente 19,4% dos trabalhadores desempenharam
atividades por conta própria em 2015.
Áreas mais concorridas
O cenário pode ser analisado sob óticas
diferentes: enquanto alguns trabalhadores encontram novas oportunidades
apostando na profissionalização de hobbies, outros enfrentam maior concorrência
devido essa “migração” de área.
De acordo com Celso Pereira, fotógrafo há 25
anos “O mercado está mais acirrado e menos lucrativo – com mais pessoas
oferecendo seus serviços e menos oportunidades, muitas vezes é preciso baixar o
valor do serviço para conseguir fechar um contrato.” A profissão é uma das mais
tradicionais no meio e sofre, já alguns anos, com a queda de empregos formais –
“A baixa de cargos em agências e produtoras já é fruto da dinâmica do mercado –
porém, com o agravamento da crise, o mercado fica mais saturado e mais pessoas
concorrem por um mesmo segmento”. O profissional se refere principalmente ao
ramo de eventos: como a demanda é alta, muitas pessoas recorrem à atividade
para conseguir um rendimento extra. Para o profissional a maior problemática é
que o ofício requer muito investimento “A profissão é totalmente dependente de
equipamentos fotográficos de alto nível, que não são tão acessíveis. Portanto o
valor do serviço não é apenas lucro, devemos levar em conta o investimento em
câmeras profissionais, acessórios, e muitas vezes, na criação de um estúdio
fotográfico.” – conclui.
A área de tecnologia, indiscutivelmente, é uma
das mais concorridas – profissionais de T.I. e atividades relacionadas a meios
digitais enfrentam o mesmo dilema: a alta especialização é, muitas vezes, um
entrave para conseguir uma recolocação. A analista de sistemas Rafaela Santos
trabalhou por 8 anos em uma empresa de consultoria e, após perder o emprego,
optou pela modalidade por falta de vagas atrativas “Acredito um dos maiores
problemas é que as vagas exigem muita qualificação e oferecem baixos salários.
Por mais que a crise seja uma realidade, é preciso considerar todo o
investimento que envolve certas formações. Ainda mais na área de T.I. onde
sempre precisamos fazer cursos e certificações.” – atualmente a profissional
faz serviços de consultoria, projetos e reparos esporádicos por conta própria
para conseguir se manter e, ainda assim, acha a oportunidade mais atraente.
Apostas promissoras
Mesmo que com os desafios, ainda existem apostas
vantajosas, sobretudo em áreas menos exploradas, muitos trabalhadores
aproveitam a baixa do mercado para empreender. Diante da queda do consumo, mais
pessoas recorrem aos serviços de manutenção e reparo. E essa tem sido a aposta
de muitos profissionais que recorrem ao trabalho autônomo. Para se ter uma
ideia, pesquisas de mercado apontam que um dos produtos mais adquiridos pelo
brasileiro – os smartphones – seguirão em queda acentuada justamente pela alta
procura pelo conserto dos aparelhos. Na mesma linha, os serviços de mecânica e
manutenção de computadores serão alternativas diante da queda do consumo de
itens novos. A tendência é que o consumidor recorra cada vez mais à soluções
que contribuam para preservação de bens e até mesmo o barateamento de serviços
– nessa linha uma atividade que tem despertado cada vez mais o interesse tanto
de clientes, quanto de prestadores é o transporte privado. Muitas pessoas estão
optando pelo serviço de motorista particular, mesmo que a questão da
legalização da atividade no país ainda esteja em discussão. José Francisco
atuou como corretor de seguros por 10 anos, e agora diante da dificuldade em
conseguir recolocação profissional, considera associar-se à um famoso
aplicativo de táxi por demanda graças à flexibilidade do trabalho “o mercado de
seguros, antes mesmo da crise, estava complicado. Grandes companhias supriram o
poder de venda dos corretores. Utilizar do meu próprio meio de transporte para
gerar renda e sustentar minha família me parece uma boa opção” – explica. A
expectativa de Francisco é que o ofício permita que ele colabore com orçamento
familiar e ainda consiga estabelecer uma rotina de trabalho mais flexível.
Reinventar-se é preciso
Para convencer o cliente e até mesmo mantê-lo,
as atividades que estão em baixa devido à queda do consumo, precisam apostar no
diferencial. Para Rosangela Oliveira, cabeleireira, a crise afetou em cheio o nicho
de beleza “Por mais que a brasileira se preocupe com o visual, a rotatividade
cai muito em tempos como esse. Se antes o cliente realizava serviços
semanalmente, agora aparece a cada 15 ou 20 dias. Consequentemente, o
rendimento do negócio é afetado.” – explica. Como alternativa, a profissional
tem apostado em horários alternativos, atendimento à domicílio e também pacotes
de serviços. A realidade é que, para se manter no mercado, independente da
atuação, o profissional deve se adaptar e buscar meios de redescobrir o próprio
mercado. Em meio à uma cenário pouco convidativo, a criatividade é um grande
aliado do trabalhador.
Fonte: eMania