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Só Sucesso

Gospel

Orquestra Sinfônica ajuda a tirar jovens das ruas de Belém

Professor Áureo de Freitas e seus alunos

O que faz dezenas de jovens carentes se interessarem por uma orquestra sinfônica, ter aula de música clássica e tocar instrumentos pouco comuns, como o violoncelo e o violino?. O professor Áureo de Freitas tem a resposta: “Eles sempre gostaram de música, só não tinham a oportunidade”, garante o educador, que coordena 20 jovens, entre crianças e adolescentes, na Orquestra de Violoncelistas da Amazônia (OVA), da Escola de Música da Universidade Federal do Pará. Mas, qual o segredo para atrair os jovens alunos?. “O produto que eu apresento é a música popular, que vai dar um retorno financeiro imediato”, completa.

Então, o segredo do professor Áureo de Freitas é formar uma orquestra sinfônica que toca música clássica e popular. Mas não é só. O repertório ainda passa pelo rock and roll e heavy metal. “A maioria dos meninos carentes, que precisa de recursos, tem que abraçar aquilo que vai te dar oportunidade. Aquele sonho que era estudar um certo tipo de música vai terminar virando um pesadelo”, explica o educador.

Áureo argumenta que, por intermédio da música erudita, num país como o Brasil, numa cidade como Belém do Pará, jamais a OVA iria se apresentar com tantas crianças, adolescentes e adultos no exterior. A saída foi montar um repertório inovador, que reúne compositores da música erudita, música popular paraense e rock. E ele tem razão. A mistura de ritmos atraiu o adolescente Daniel Castro para a OVA. Ele diz que não tem palavras para expressar o que sente ao participar da orquestra. “Eu toco violoncelo e a música faz parte da minha vida desde criança. Ela me traz felicidades”, disse. “Me apaixonei pela música clássica”, completa Daniel.

O músico Gustavo Borges toca violoncelo. Ele é aposta de sucesso da OVA, de onde já saíram nomes consagrados, como Diego Carneiro, Joaçi Cardoso, Diego Cardoso e Vagner Matos, que hoje residem no exterior. “É muito bom participar de uma orquestra eclética, passear pelos estilos musicas e aperfeiçoar muito tecnicamente”, diz Gustavo, que também foi atraído pelo desafio de tocar rock no violoncelo. “Já tocamos Led Zepellin, Metálica, Guns N’ Roses e Titãs”, enumerou.

Após cumprirem um ciclo, os estudantes deixam a orquestra. “Eles precisam verticalizar para outro nível, ir para uma universidade, ou seja, seguir a carreira dele e dar oportunidade para outros, senão o programa de inclusão acaba sendo um problema de exclusão”, afirma Áureo, que concluiu seu bacharelado em Violoncello Performance na University of Missouri at Columbia em 1989. O mestrado foi em 1992, na Louisiana State University – Baton Rouge e o doutorado em Ph.D. em Educação Musical na University of South Carolina, em 2005.

A filosofia do educador Auréo de Freitas é incentivar crianças e adolescentes nas comunidades a tocar o violoncelo visando manter e apoiar alunos que queiram posteriormente ingressar em uma universidade, onde possam ter uma educação musical e cultural do mais alto nível, contribuindo para o seu desenvolvimento econômico e social.

Apresentações e viagens



A Orquestra de Violoncelistas da Amazônia (Amazon Cello Choir) foi criada em 1998, pelo professor Áureo de Freitas. “É a menina dos meus olhos”, disse ele. Atualmente, o grupo é formado por cerca de 20 músicos, essencialmente, jovens e adultos. Eles pertencem a Escola Técnica de Música e ao Curso de Licenciatura em Música da UFPA. “Esta é a quarta formação, que agora se transformou numa banda rock and roll. Nós temos violoncelistas, pianista, baterista, baixista e guitarrista”, conta Áureo.

O trabalho musical desenvolvido com a orquestra permitiram participações em programas de rádio e televisão tais como Radio BBC, TV BBC, National Public Radio, TV Educativa, Sem Censura, Gente Inocente, Jô Onze e Meia, Jornal do SBT Brasil, Bom Dia Brasil, Programa Ação e Bom Dia Pará.  Os integrantes da orquestra vem representando o Estado do Pará em turnês realizadas no Brasil e exterior: Turnê Holanda 2004; Turnê Estados Unidos 2002; Turnê Rio de Janeiro 2000, 2001, e 2004; e Turnê Curitiba, 1999.

A OVA fez apresentações internacionais: na Suíça, onde se apresentaram na cidade de Lausanne e na França, onde participaram do 26º Festival Eurochestries. “Já fizemos outros shows internacionais e dentro do Brasil também. Fomos convidados por causa da nossa perseverança, fizemos shows em praças e conseguimos recursos para manter o grupo, essa atitude se tornou tema de palestra na Suíça e, assim, surgiu o convite”, declarou o coordenador da OVA.

Ian Souza, de 19 anos, já fez apresentações na China com a orquestra. “Já tenho experiência em tocar fora do Brasil, mas a adrenalina é a mesma da primeira vez. É muito bom mostrar o nosso trabalho para o mundo, voltamos com um aprendizado ainda maior”, disse Ian.

Mas o sonho da turnê quase vai por água abaixo. A falta de recursos inviabilizava a viagem dos integrantes. O jeito, segundo o professor Áureo, era criar uma campanha pelas ruas da cidade. E assim foi feito. O convite para as turnês só contava com a alimentação e hotel. Mas faltavam as passagens e o recurso para se manter no exterior. “Eu estava contando com os políticos locais e há três meses não tinha um estendendo as mãos para a agente”, disse.

 Então, segundo o professor Áureo, o jeito foi pedir nos semáforos. Conseguiram uma doação de uma operadora de telefonia e sortearam um celular de última geração. Após a campanha, os membros da OVA contaram os lucros. E que lucros!. Ao todo, foram arrecadados R$ 45 mil. Depois de três meses compraram todas as passagens dos integrantes.


Trabalho especial com crianças especiais


Foto Celso Freire

Na Orquestra de Violoncelistas da Amazônia (OVA) tocam dois músicos autistas. O professor Áureo de Freitas diz, com orgulho, que a presença deles é um resultado de sete anos de pesquisa. “Eles não estão ai brincando, estão realmente tocando”, afirma. Carlos Augusto tem 31 anos e é autista. Segundo ele, “é muito bom tocar violoncelo”. “Me apresento em shows e gosto muito de Beethoven, Vivaldi...”.

O seu trabalho de pesquisa com os alunos englobou os estudos do transtorno do desenvolvimento de dificuldade de aprendizagem, grupo apoiado pelo programa Cordas da Amazônia, pelo núcleo de atendimento a pessoas com necessidade específicas da UFPA, crianças e adolescente com autismo, dislexia, com déficit de atenção e atividade e com síndrome de down.

Tudo começou quando Áureo de Freitas retornou do doutorado, e teve a missão de mapear a Escola de Música da UFPA. Saber o que estava faltando. E ele descobriu que a inclusão social não estava sendo feita. Até o ano de 2006 nenhum professor trabalhava com a inclusão. “Depois consegui a adesão do professor de viola, depois veio a professora de violino, que trabalha com alunos cegos e de baixa visão. Somos quase 50 professores, por isso, precisamos de mais adesão”, completou.

Levar essas crianças para o mundo da música faz com que elas se sintam melhores. “É muita gratidão, mas ao mesmo tempo, tenho aquele sentimento de desespero em saber que se trabalha tanto, e que só existe uma pequena luz no final do túnel e que há grande caminho para percorrer”, disse o educador. A solução para vencer os desafios, segundo professor Áureo, é formar opinião. “As pessoas precisam participar das palestras, precisam ver o que está acontecendo no mundo inteiro”, finaliza.