Especial: As opiniões se dividem sobre a Ferrovia Paraense



Nem bem a Ferrovia Paraense saiu do papel, ela já está dividindo opiniões. Os mais preocupados são os moradores próximos aos trilhos. Diversas instituições e comunidades, como por exemplo, quilombolas, indígenas, camponeses, agroextrativistas e ribeirinhos, já mostraram apreensão. Eles reclamam, principalmente, da falta de diálogo com o Governo do Estado. Além disso, segundo eles, as datas de audiências públicas foram marcadas sem ao menos as lideranças terem sido consultadas previamente sobre a intenção do empreendimento.

O líder da comunidade remanescente de quilombo Macapazinho (Santa Izabel do Pará), Aurélio Borges, participou de uma dessas audiências públicas. Sua principal dúvida era sobre o destino das terras remanescentes de quilombos que ainda estão em processo de regularização. “O Estado fala em desenvolvimento, mas queremos que esse desenvolvimento chegue a nós, também. Precisamos ser ouvidos”, declarou.

O defensor público Johny Giffoni, do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado do Pará, ouviu as reclamações dos representantes da Associação Quilombola do Baixo Caeté-África e Laranjituba (AQUIBAC) e demais moradores da comunidade quilombola Laranjituba e África, em Abaetetuba. Segundo o defensor, essas populações tradicionais deveriam ter sido consultadas previamente, conforme prevê a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), decretada no Brasil em 2004.

Pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA), representantes da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE), do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) também já se mostraram preocupados e acompanham o andamento das audiências públicas. O coordenador da FASE Programa Amazônia, Guilherme Carvalho, ressaltou que “muitos postos de gasolina estão surgindo e se espalhando nestes territórios”.

O advogado Marcelo Barros, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB- PA), afirmou que o projeto é importante para o Estado, mas questionou sobre as garantias de o empreendimento prosperar, diante da crise econômica nacional. O secretário afirmou que todos os esforços possíveis vêm sendo empreendidos com a iniciativa privada e as esferas municipal, estadual e federal. “Esse é um projeto de sociedade, da integração inédita de nosso território, de sul a norte. Ele exige que a sociedade o abrace e o defenda. Ele não é do Governo do Pará; é do povo do Pará”, enfatizou o secretário.

Resposta

Foto: Agência Pará
O Governo do Estado garante que o traçado não passa por áreas indígenas ou quilombolas. "Em todo o Brasil existem muitas áreas de reserva ambiental e de comunidades tradicionais e, por isso, todo o traçado foi pensado para que não gerasse impacto nessas áreas, o que garante mais agilidade para o próprio estudo e processo de licenciamento", disse o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Adnan Demachki



O produtor agrícola e vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), Luciano Guedes, ressalta que a logística ainda é um entrave para ampliar a produção agrícola do sul e sudeste do Pará. “O modelo rodoviário é muito caro. Uma ferrovia irá diminuir substancialmente esse custo. Vai melhorar a rentabilidade do produtor, aumentar a produtividade, gerar empregos e riqueza. É uma ação de governo que vai viabilizar que a região seja um dos principais polos agrícolas do país”, comentou.

O produtor agropecuário nos municípios de Santana do Araguaia, Redenção e Xinguara, Vitório Guimarães da Silva, destacou a precariedade atual do transporte na região. “Com a ferrovia poderemos triplicar a área plantada na região. Vai melhorar a produção, sem erro, e será extraordinário para o desenvolvimento da região caso consigamos implantá-la”.



# Reportagem Celso Freire