CNJ viabiliza doação de mais de 700 livros a presos no Pará


Um acordo assinado entre o Ministério da Educação (MEC) e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) viabilizou a doação de 780 livros à Superintendência do Sistema penitenciário do Estado (Susipe). Além do Pará, outros 25 estados e o Distrito Federal foram contemplados, totalizando a doação de 20 mil obras. A distribuição dos livros para os centros de recuperação do estado ocorre a partir desta sexta-feira (19).

A doação contempla livros de literatura e técnicos para a formação de professores nas áreas de química, biologia, língua portuguesa, entre outras. No Pará, as unidades penitenciárias que receberão as doações são: Centro de Recuperação Feminino (CRF) de Ananindeua, Centro de Recuperação Especial Anastácio das Neves (CRECAN), Colônia Penal Agrícola de Santa Isabel (CPASI), Centro de Recuperação Penitenciário do Pará II (CRPP II) e o Centro de Recuperação Regional de Castanhal (CRRCAST), com 156 unidades cada.

Para o ministro da Educação, Mendonça Filho, a leitura é uma aliada para a ressocialização e garantia de direitos. “A leitura é instrumento importante de respeito aos direitos humanos e, ao mesmo tempo, de humanização das penitenciárias brasileiras, que se encontram, em grande parte, em uma situação bastante crítica”, afirmou.

Foram escolhidas as unidades que desenvolvem o projeto de remição de pena pela leitura, observando suas necessidades. O projeto foi criado em 2015 e é desenvolvido pela Susipe em parceria com a Secretaria de Estado de Educação (Seduc) e a Defensoria Pública do Estado. Neste período, mais de 200 detentos foram beneficiados. Na iniciativa, o interno que possui até o ensino médio tem 30 dias para ler e produzir um relatório sobre a obra, e aqueles que possuem o ensino superior têm o mesmo prazo para elaborarem uma resenha.

Todas as produções textuais são avaliadas por meio de notas de 0 a 10, sendo aprovado o leitor que atingir nota igual ou superior a cinco. Alcançando a nota mínima, um atestado de desempenho é encaminhado ao juiz que concede ou não a remissão de quatro dias da pena. Cada obra lida possibilita a remição de quatro dias de pena, com o limite de doze obras por ano, ou seja, no máximo 48 dias de remição por leitura a cada doze meses.

Com a doação, 24.451 livros estão à disposição dos internos em 24 casas penais. Um crescimento no número de livros e de possibilidades para os detentos que se libertam do espaço físico por meio da leitura.

O último livro lido por Alessandro de Sousa, custodiado na CPASI, foi "O Monge e o Executivo", best seller do escritor James C. Hunter. Para o interno que também é monitor bibliotecário, o projeto ajuda a conhecer um novo universo com base na literatura.

“Eu comecei a ler aqui dentro. Eu li o primeiro livro, gostei e com a leitura eu comecei a interpretar diferente o modo que eu pensava, de certas atitudes e situações. Me mostrou formas corretas de como enfrentar as coisas lá fora”, afirmou.

O detento Janison Sousa dos Anjos também é leitor assíduo da biblioteca da CPASI e está ansioso pela chegada de mais livros. Para ele, o projeto proporciona expectativas e mudança de vida.

“Esse é um projeto essencial que tá ligado diretamente à reintegração social do interno porque muda o comportamento quando se há novidade de pensamento. Estou ansioso para conhecer os novos livros que vão chegar porque abrem-se janelas para outros horizontes”, disse o detento acrescentando, que o seu objetivo não é somente obter conhecimento, mas também que essa leitura o ajude a superar os momentos que agora ele não pode viver, como estar próximo à família. “É uma injeção de ânimo”, finalizou.

O professor Sérgio Brandão avalia positivamente a inclusão de mais livros na biblioteca das unidades prisionais do Estado. “É imprescindível. A contribuição é de extrema importância porque o elemento principal do nosso projeto são os livros. Então é a partir desse acervo literário que nós vamos desenvolver o nosso trabalho, e quanto mais ampliado, melhor”.

Para o diretor de Reinserção Social da Susipe, Ivaldo Capeloni, as novas obras irão somar aos projetos já existentes e possibilitar que mais internos sejam beneficiados. “Os livros doados vão ao encontro da nossa necessidade, pois são livros técnicos que irão ajudar na rotina dos profissionais e a coleção, que são livros literários estão sendo destinadas aos internos nas unidades que já haviam solicitado novas obras”, concluiu. 

Incentivo - Mais leitura, menos cumprimento de pena. Mais de 20% dos custodiados do Pará estudam ou realizam algum tipo de atividade educacional, número superior à média nacional correspondente a 13% de acordo com o mais recente Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias do Estado (InfoPen).

Para estimular o hábito, o projeto de biblioteca móvel Arca da Leitura, desenvolvido pela Coordenadoria de Educação Prisional da Susipe já mudou a vida de mais de 2 mil detentos no cárcere, desde 2012. No projeto uma estante móvel com 150 livros fica sob a responsabilidade de um interno em cada unidade prisional.

Atualmente, o acervo de 25.347 obras está distribuído em 24 penitenciárias paraenses e, existe graças às doações de editoras, instituições privadas e públicas e por pessoas que tomam conhecimento do projeto. Mais de 2 mil detentos foram beneficiados com o Arca da Leitura.

"O objetivo é viabilizar o acesso à leitura dentro do bloco carcerário, possibilitando que todos os detentos tenham contato com a literatura e possam assim adquirir maior conhecimento e buscar uma mudança de pensamento por meio do hábito da leitura. Com a educação nós buscamos uma efetiva reintegração no meio social, além é claro da redução do tempo de pena do preso", conclui Ivaldo Capeloni.