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Barcarena não tem plano emergencial em caso de desastre ambiental




Nas oitivas da última terça-feira (17.04), os deputados membros da Comissão Parlamentar de Inquérito que apura desastres ambientais na bacia hidrográfica do rio Pará puderam ouvir dos depoimentos colhidos que ainda não existe, em Barcarena, um plano de ação emergencial para casos de catástrofes no município. Barcarena reúne em seu polo industrial várias empresas minerometalúrgicas e com registro de mais de 20 eventos de contaminação ambiental desde o ano 2000 em seu território, rios e igarapés.

Os deputados foram informados ainda que o inquérito da Capitania dos Portos que apurou o naufrágio do Navio Haidar foi concluído em 2017, com as devidas indicações de culpados e responsabilidades. Anteriormente, os parlamentares foram informados de que o inquérito somente encerraria depois que o navio fosse içado do fundo do rio.

Tomaram conhecimento ainda de que o Ministério Público Federal já iniciou os procedimentos de responsabilização dos fatos. O deputado Coronel Neil, presidente da CPI, considerou os depoimentos importantes para o aprofundamento dos trabalhos de investigação.

 “Conseguimos saber e deter mais informações técnicas sobre a ação da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Barcarena nos dois eventos: naufrágio do navio com bois e despejo irregular de dejetos; e possível vazamento das bacias da empresa”, disse.

A secretária de meio ambiente de Barcarena, Juliana Nobre, informou que o plano de ação emergencial exigido está em formulação, detalhou ainda os procedimentos tomados e explicou que a Defesa Civil do município agiu prontamente assim que o sinistro foi registrado, diferentemente de 2015, quando o navio Haidar naufragou.

“Desde o início, quando recebemos a denúncia, nos deslocamos para o local com a equipe de fiscalização e passamos a acompanhar o evento para possíveis resoluções e mitigação dos fatos, a monitorar todas as áreas, acompanhando todos os locais que, possivelmente, sofreram impacto, conversando com a população, indo até às praias e assim por diante”, explicou a secretaria.

Ela considerou ainda que as licenças ambientais para a instalação de grandes projetos fossem feitas de forma compartilhada, hoje elas são de completa responsabilidade do Estado. “Estes licenciamentos, sem dúvida, precisariam ter um acompanhamento nosso mais próximo e assim teríamos mais propriedade para agir em situações como estas”, explicou.

O Capitão do Portos da Amazônia Oriental, José Alexandre Santiago, detalhou o acidente, ocorrido em 2015, com o Navio Haidar, de bandeira libanesa, que adernou atracado e que operava com uma carga viva de mais de 5 mil bois.

Ele se comprometeu em fornecer uma cópia do inquérito, já concluído, e que contém mais de 600 páginas apontando responsabilidades. Pelo inquérito, a própria Companhia das Docas do Pará, responsável pela administração do Porto de Vila do Conde onde o sinistro aconteceu, foi culpada por não possuir, na época, um plano de emergência. O armador também foi considerado culpado por ter colocado o navio para fazer uma operação sem a devida condição necessária de segurança e com uma tripulação inexperiente.

A empresa de apoio portuário marítimo se negou em ceder o rebocador para as operações feitas para impedir o adernamento da embarcação. “E mais a operadora da carga, pelo dano ambiental que ocasionou por conta do combustível que ainda existia na embarcação e da própria carga viva, os animais que depois vieram morrer por conta de terem ficados presos ao navio e aqueles que morreram afogados”, pontuou Santiago sobre os culpados.

O Procurador da República, Ricardo Negrini, informou aos membros da CPI que o Ministério Público Federal não tem mais dúvidas sobre os crimes ambientais em Barcarena. “A respeito da responsabilização pelos fatos, que já consideramos demonstrados, e do quais precisamos providenciar as indenizações a serem pagas”, disse Negrini. Falta somente saber sobre o alcance do dano e identificar as pessoas atingidas.

Para o MPF, está comprovado que a empresa Hydro Alunorte fez a utilização de uma tubulação clandestina para despejo de efluentes, a utilização do canal reserva. “Nós destacamos também o canal do depósito de carvão, que foi utilizado para lançamento de água da chuva misturado a resíduo sem tratamento”, disse Negrini. Ele informou ainda que considera como comprovado o tombamento de um caminhão na estrada carregado de lama vermelha.

Os promotores da MPF continuam verificando se houve o transbordamento das bacias da empresa, denunciado pela comunidade e com indícios de ter ocorrido por laudos e imagens obtidas por órgãos técnicos.