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Em Belém, mestras debatem o papel da mulher no Patrimônio Cultural





A atuação da mulher paraense como mestras do Patrimônio Cultural do Brasil é tema de debate às 15h desta sexta-feira, dia 06 de março, em Belém (PA) durante o Conversa Pai d’Égua: falando sobre patrimônio. Quatro mulheres serão as palestrantes: duas mestras carimbozeiras e duas capoeiristas, que vão falar sobre o protagonismo das mulheres detentoras na política de salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial. A atividade faz parte das ações do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em alusão ao 8 de Março, Dia Internacional de Luta das Mulheres.

“O Patrimônio Cultural da Amazônia tem uma forte ligação com os saberes e práticas de mulheres que estão nas capitais, municípios e vilas. Do Carimbó aos Modos de Fazer Cuias, da Festividade de São Sebastião ao Círio de Nazaré, a mulher é protagonista”, avalia a superintendente do Iphan-PA, Rebeca Ferreira. “O nosso evento busca mostrar essa característica da cultura, as lutas da mulher carimbozeira, por exemplo. E, também, dar visibilidade para os saberes que só essas mulheres carregam e transmitem à população amazônica.”

Claudete Barroso e Maria Vieira são as mestras do carimbó; da capoeira, as palestrantes são Denilce Rabelo e Leca Marinho. As quatro detentoras têm experiências junto às manifestações, mas também participam de ações de salvaguarda junto ao Iphan. Dentre as questões a serem discutidas, estão a diversidade e a pluralidade do Patrimônio Cultural. O debate também vai propor uma visão: o papel das políticas públicas de preservação do Patrimônio como forma de desconstrução da cultura patriarcal e na promoção da equidade de gênero.

“Infelizmente, apesar das discussões da última década terem mudado muita coisa, a capoeira ainda é um ambiente muito masculinizado”, afirma a professora Alessandra Marinho, 37, a Leca nas rodas de capoeira. “A capoeira é uma manifestação de resistência, mas que traz a contradição do machismo. Hoje não vejo tanto, mas quando comecei, muitos homens diziam que não gostavam de jogar com mulher. Olhavam torto quando uma mulher tocava berimbau”, diz Leca, que é treinel no grupo Eu sou Angoleiro e pratica capoeira desde os 23 anos.

Ela também faz parte de outro coletivo: Flores de Angola, criado há três anos e composto apenas por capoeiristas mulheres. Segundo Leca, pela tradição angoleira, é preciso estar em um grupo, “mas muitas mulheres foram se afastando por causa de situações de machismo”. O Flores de Angola, diz a treinel, tem como proposta reunir mulheres para “treinar, fortalecer e tentar se reaproximar”, retomando o diálogo entre as praticantes. “Acredito que a capoeira é um movimento libertador. A capoeira é coletiva. Ela não existe com uma pessoa só. E não existe sem as mulheres.”

Carimbó e capoeira

O Ofício dos Mestres e a Roda de Capoeira foram inscritos no Livro Registro dos Saberes e no Livro de Registro das Formas de Expressão, respectivamente, em 2008. Já em 2014, a Roda de Capoeira foi reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, título concedido pela Organização das Nações para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

“A Capoeira é uma prática cultural afro-brasileira multifacetada e multidimensional. Ao mesmo tempo em que é luta, também é dança, é compreendida como folclore, como esporte e até como arte”, descreve o dossiê da Roda de Capoeira, que aponta o século XVII como período de origem da manifestação, “construída pelos africanos escravizados, uma estratégia social para lidarem com o controle e a violência”.

O Carimbó, por sua vez, foi inscrito no Livro das Formas de Expressão em 2014, tornando-se Patrimônio Cultural do Brasil, o que demarcou sua origem na Amazônia colonial “das influências culturais de índios, negros e europeus (portugueses)”, aponta o dossiê de registro do bem. A cultura do carimbó abarca um conjunto de festas, músicas e danças espalhadas de Belém ao interior do Estado. “O carimbó é comumente divulgado como uma das mais significativas formas de expressão da identidade paraense e brasileira”, conclui o dossiê.

Serviço

Conversa Pai d’égua: falando sobre patrimônio
Data: 06 de março de 2020, às 15h
Local: Superintendência do Iphan-PA
         Avenida Governador José Malcher, nº 1131, entrada pela Travessa Dom Romualdo de Seixas – Nazaré, Belém (PA)