Primeiro teste Providence - Foto Amanda Lelis |
Imagine ter informações sobre a
biodiversidade da floresta amazônica em tempo real, tudo em seu computador ou
smartphone, a poucos cliques de distância. Muito além de um item de
curiosidade, essa pode ser uma maneira inovadora para monitorar e proteger a
biodiversidade da maior floresta tropical do mundo.
Essa é visão do projeto
Providence, uma parceria internacional de pesquisa liderada pelo Instituto
Mamirauá. Em abril, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, estado
do Amazonas, tiveram início os primeiros testes das tecnologias que farão parte
do projeto.
Os experimentos foram conduzidos
na floresta e na água em longos trechos dos aproximados 11.000 km² da reserva.
Além dos pesquisadores do Instituto Mamirauá, participaram dos testes de
tecnologias de imagem um grupo da australiana Commonwealth Scientific and
Industrial Research Organisation (CSIRO). O componente acústico está a cargo do
Laboratório de Aplicações Bioacústicas da Universidade Politécnica da
Catalunha, na Espanha, por meio da Fundação Sense of Silence, representada pelo
especialista em bioacústica, Michel André.
Os resultados foram promissores
para a equipe de cientistas. "Estamos muito animados com o andamento do
projeto e os frutos que ele pode render para toda a sociedade", disse o
coordenador de monitoramento do Instituto Mamirauá e líder do projeto, Emiliano
Esterci Ramalho.
Imagens da Amazônia para o mundo
Foram testadas tecnologias de
gravação e detecção de espécies de animais em vida livre, como um dispositivo,
que conjuga a captação de imagens em alta definição com as de câmeras
infravermelho. "A ideia é unir esses métodos para melhor realizar a
identificação de espécies", diz o pesquisador sênior Ash Tews, responsável
pela tecnologia.
O engenheiro sênior de software
da CSIRO, Ross Dungavell, está desenvolvendo um sistema de comunicação entre os
sensores do Providence que serão instalados na floresta. Ele contou que "a
maioria dos testes feitos na floresta mostraram bom desempenho das tecnologias
na captação de imagens de animais e também na transmissão de dados para
diferentes distâncias".
De volta à Austrália, a equipe da
CSIRO segue no desenvolvimento das tecnologias, tendo consigo, agora, o
conhecimento das adaptações e novas estruturas que serão necessárias ao
projeto.
Os sons que vêm da floresta
"Captamos sinais das
diferentes espécies da vida natural na Reserva Mamirauá, como onças e macacos,
incluindo morcegos, animais com frequências ultrassônicas, e sons subaquáticos
que vêm dos botos", explicou o cientista bioacústico, Michel André.
Michel André é uma referência
mundial em bioacústica. Reconhecido por seu longo trabalho sobre poluição
sonora nos oceanos, ele recebeu em 2002, o Prêmio Rolex por um projeto que previne
colisões de navios contra baleias. Agora, o cientista bioacústico transporta
sua experiência do fundo dos mares para a floresta amazônica.
"Temos uma equipe de doze
cientistas fazendo a análise acústica dos dados coletados. O sistema que
estamos construindo vai gravar todos os diferentes sons da fauna para
classificar automaticamente as espécies tanto na floresta quanto na água,
processá-los em tempo real e enviá-los ao mundo", disse.
Próximos passos
O coordenador do projeto pelo
Instituto Mamirauá, Emiliano Ramalho, ressaltou que o foco do projeto é criar
uma tecnologia que permita, pela primeira vez, o monitoramento da
biodiversidade da Amazônia em tempo real. "Estamos na primeira fase do
projeto, desenvolvendo testes com foco específico na Reserva Mamirauá para
comprovar que o conceito do projeto funciona", afirmou.
O objetivo final dos testes é
chegar a um modelo de equipamento, chamado de "módulo Providence",
que vai unir os componentes de áudio e imagem para o melhor reconhecimento da
fauna. "A meta inicial do projeto é construir dez módulos Providence e
instalá-los em pontos diferentes da Reserva Mamirauá". A primeira fase do
Providence vai até o primeiro semestre de 2018. Nas próximas etapas, os
pesquisadores pretendem expandir a abrangência dos testes para outras regiões
da Amazônia.
Junto com o Instituto Mamirauá,
unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações, e as instituições internacionais, também faz parte do projeto
Providence a Universidade Federal do Amazonas. O projeto conta com um
financiamento de 1,4 milhão de dólares (cerca de 4,36 milhões de reais) da
organização filantrópica e de apoio a ciência e biodiversidade Fundação Gordon
and Betty Moore.