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Alex Brabo é fundador da Acerva Paraense - Foto Celso Freire |
Já pensou em fabricar aquela
cervejinha, que você bebe nos bares nos finais de semana, em sua própria
residência? Pois é, muita gente não só pensou como também já colocou em
prática. Essas pessoas mostram que o sonho não é tão difícil de ser realizado,
como se imagina. O empresário paraense Alex Brabo era um desses sonhadores que
partiram para por a mão na massa, ou melhor, na cerveja. Ele fabrica a bebida
preferida dos brasileiros em sua própria cozinha. “Mas não é pra vender. É para
beber com os amigos”, revelou o empresário.
O negócio deu tão certo, que os
próprios amigos que bebiam com ele, também resolveram fabricar a “gelada” em
suas próprias casas. Resultado: ninguém compra mais cerveja em supermercados e
alguns até investiram em vendas. “Em nossas festas, todo mundo traz as suas
(cervejas)”, revelou Alex. E não é pouca cerveja, não. Cada um fabrica, no
mínimo, 20 litros da cerva. Com tanta gente fabricando, o ideal seria reunir
todos numa associação.
Em Belém não havia nada que
pudesse balizar os estudos sobre fabricação de cervejas. As informações só
podiam ser consultadas na rede mundial de computadores. Numa dessas pesquisas,
Alex Brabo descobriu a Acerva (Associação dos Cervejeiros Artesanais), no Rio de
Janeiro. O empresário não perdeu tempo e voou para a Cidade Maravilhosa. Após
alguns dias, voltou empolgado e com o maquinário de fabricação na bagagem.
Fundou há três anos, a Acerva Paraense.
“Todas as pessoas interessadas
podem participar, inclusive donos de bares”, disse Alex, que já conta hoje com
70 sócios, que fabricam suas cervejas, criam os nomes e produzem seus próprios
rótulos. Muitos associados aproveitaram a oportunidade e abriram suas
cervejarias ou mesmo utilizam a cozinha dos bares e restaurantes para
fabricarem as cervejas, é a chamada cervejaria cigana.
A Acerva Paraense foi criada no
dia 17 de julho de 2013, com 28 sócios fundadores. De lá pra cá, vem promovendo
diversos encontros, cursos, e palestras. No ano passado, o destaque foi o
workshop Sommelier de Xervejas, ministrado por Gil Lebre. Durante dois dias, os
participantes tiveram a oportunidade de conhecer mais detalhes de diversos
estilos de cervejas. Este ano, o principal evento já está sendo elaborado: é o
1º concurso de cerveja artesanal. A Acerva Paraense ainda incentiva seus sócios
a fabricarem suas cervejas, inclusive emprestando seus maquinários, com suporte
técnico para produção individual.
Ainda que tenha ares de novidade,
a produção das cervejas no quintal de casa é algo muito antigo, vem dos
mosteiros seculares que já fabricavam a bebida bem antes de serem criadas as
primeiras grandes cervejarias. Na Idade Media, cabia aos padres e às mulheres
este preparo, que era parte da dieta cotidiana de proletários e burgueses.
Aprendendo na Universidade
Estadual
Universitários paraenses estão
aprendendo, na prática, a fabricar cerveja artesanal. A Universidade do Estado
do Pará (Uepa) mantém o curso de extensão Elaboração de Cerveja a base de
frutas regionais. Os alunos aprendem todas as etapas de produção da cerveja. O
diferencial da bebida é o sabor do líquido, produzido a partir de frutas
regionais como cupuaçu, acerola, manga e açaí, com teor alcoólico de 1,3% a 5%.
A bebida pode ser feita em casa.
O doutor em recursos naturais e
coordenador do curso de extensão, Marcos Augusto Eger da Cunha, que também foi
professor do empresário Alex Brabo, presidente e fundador da Acerva Paraense,
ressalta que o objetivo é o mercado, que sempre está à procura de novos
produtos.
O curso realizado no Laboratório
de Tecnologia de Alimentos, do Centro de Ciências Naturais e Tecnologia (CCNT)
da Uepa, é destinado à fabricar qualquer tipo de cerveja. “Nós fazemos de
acerola, muruci, bacuri, taperebá...”, exemplificou o professor. Mas, não é
fácil produzir cerveja com a polpa de fruta. Muitos fazem apenas com a
essência. O açaí, por exemplo, possui muitas fibras, o que atrapalha na hora da
filtragem. “Muitos produtores preferem acrescentar apenas extrato, essência da
fruta para dar aquele gosto, do que passar todas as dificuldade de produzir”,
revela o professor.
Marcos destaca que a bebida se
diferencia das feitas industrialmente. “A nossa cerveja é toda natural e os
alunos verão os produtos que vamos colocar. A cerveja tem que ter cevada,
lúpulo, fermento, e no nosso caso, a fruta. Qualquer fruta. A cerveja em si é
um remédio. O lúpulo serve contra enxaqueca, dor de cabeça. A cevada é
revigorante”, diz ele.
A cerveja artesanal é feita a
partir da fermentação de cereais, que começa na separação dos grãos, moagem e
maltagem até a fervura, maturação, pasteurização e armazenamento. Ainda de
acordo com ele, devido aos benefícios que a bebida traz, seria interessante que
as pessoas, na hora do almoço e janta, tomassem um corpo de 300 ml de cerveja
para permanecer com a saúde em dia. “Não é tomar uma garrafa, e sim um copo. A
cerveja é tida como remédio, o único empecilho é o álcool”.
No mais recente curso, 24
garrafas de 600 ml de cerveja sabor açaí foram produzidas pelos alunos e
servidas para degustação dos participantes e convidados. O universitário Danilo
Videira gostou da iniciativa. Ele ressalta que a região Norte tem duas características
que se sobressaem em relação as demais regiões do Brasil: é rica em volume de
água e tem diversificadas frutas regionais. “é uma oportunidade de ganhar
dinheiro porque o custo é muito baixo. Vai do próprio aluno ter força de
vontade de querer empreender”, ressalta Danilo. Além de Belém, o curso já foi
ministrado nos municípios de Paragominas, Marabá, Cametá e Salvaterra.
Vamos produzir a cerveja caseira?
O engenheiro de produção e
empresário do ramo, André Abacal, fez as contas necessárias para saber quanto se
gasta na fabricação de uma cerveja artesanal, levando em consideração todos os
fatores da produção, desde a mão de obra e custos indiretos, quanto a
depreciação do equipamento usado na produção.
Para uma receita de 20 litros de
uma cerveja de trigo do estilo Weizen, por exemplo, são necessários perto de 5
quilos de malte de cevada e trigo para a receita, além de lúpulo e o fermento.
Em um dos fornecedores de insumos no Brasil, o custo total sai a
aproximadamente R$ 20. É preciso ainda aproximadamente 40 litros de água para
essa produção, a um custo de R$ 14.
Os custos também abrangem os
equipamentos. Considerando que um equipamento para a produção de 20 litros faz
em torno de 40 brassagens (4 anos) e o custo total de panelas e afins é de R$ 2
mil, cada brassagem “consome” perto de R$ 50 reais em equipamento. Se decidir
usar um cornélius para a distribuição, um equipamento custa R$ 600 e dura 100
brassagens, a um custo de R$ 6 reais por brassagem.
Para completar, segundo André
Abacal, tem os custos da higienização, produção, troca de fermentadores e
envase, dura cerca de 12 horas, que a um custo de R$ 20 reais por hora totaliza
R$ 240 reais por brassagem. Uma brassagem para venda, levando em conta todos
esses custos, sairia perto de R$ 330, ou R$ 16,50 por litro de cerveja.
Mas um ponto de vista positivo é
que o aumento de produção barateia o custo por litro. Fazendo as mesmas contas
com uma leva de 50 litros, considerando o aumento de insumos, o custo por litro
diminuiria consideravelmente, chegando a perto de 8 reais, menos da metade.
Receita básica da cerveja
artesanal
O mestre cervejeiro Jaime Pereira
Filho ensina que o kit básico, que ocupa o mesmo espaço que um botijão de gás.
O “maquinário” consiste de duas panelas grandes de alumínio, uma balança, uma
colher grande de polipropileno, um termômetro culinário, uma peneira, um
fermentador (um balde hermeticamente fechado com saída de válvula e uma
torneira para engarrafar), mangueiras de transferência, um densimetro, um
dispositivo para fechar garrafas e um moedor de cereais .
Ingredientes
- 35 litros de água mineral de
boa procedência
- 6 quilos de malte claro e
escuro
- 20 gramas de lúpulo
- 11,5 gramas de fermento
* Celso Freire/Revista Pará Mais
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