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Japurá (AM) - Pelotão especial de fronteira, em Vila Bittencourt, próximo à ColômbiaValter Campanato/Agência Brasil |
A apreensão de drogas é frequente
na região da Amazônia. Apenas no início de janeiro, o Exército Brasileiro
apreendeu 905kg de skunk, maconha com alto teor de THC, no rio Japurá. A droga
foi encontrada boiando no rio após o naufrágio de um barco e os traficantes
fugiram. Mais de vinte pacotes foram recolhidos e encaminhados à Polícia
Federal. O avanço do crime organizado na região é uma das principais
preocupações das autoridades na região onde, atualmente, atuam 21 mil
militares. Na década de 1950, mil profissionais exerciam a missão de garantir a
tríade “integridade nacional, soberania e defesa da pátria” nos 9.762 km de
fronteira brasileira da região com Venezuela, Colômbia, Peru e Bolívia. Nessa
faixa, as Forças Armadas exercem o chamado poder de polícia em 150 km, por meio
de 24 pelotões e um efetivo de 1.500 militares provenientes de todo país.
Nas áreas de selva amazônica, que
compreende o território de oito países, a chamada Amazônia Legal, ainda atuam
dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que não
aceitaram o acordo de paz com o governo do país, além de um efetivo de 400
guerrilheiros do grupo peruano Sendero Luminoso. No ano passado, o diálogo
entre o governo colombiano e as Farc se intensificou e, após um acordo que não
foi aceito pela população colombiana, as partes firmaram um novo acordo em
novembro.
"Está havendo um processo de
pacificação, de desarmamento, mas nos preocupa a Frente Número 1 [das Farc,
composta por 200 guerrilheiros], que existem indícios de que alguns elementos
talvez não fossem aderir ao processo de pacificação. A droga, a cocaína, o
skunk, que entra aqui dentro no nosso país [por essa região] é proveniente
dessa área”, explica o general Miotto.
Segundo o ministro da Defesa,
Raul Jungmann, o arsenal de armas dos dissidentes das Farc pode inclusive
chegar às facções criminosas responsáveis pela atual crise no sistema
penitenciário brasileiro. “Com o acordo de paz [descumprido], o arsenal deles
está ficando uma de parte na mão dos dissidentes ou mesmo não sendo entregue.
Essas armas podem vir a chegar aos nossos centros metropolitanos, agravando a
crise de segurança [pública no país]”, aponta.
Fronteiras
O Brasil tem, ao todo, 17 mil km
de fronteiras. Em toda a América do Sul, o país só não faz divisa com Chile e
Equador. Os desafios, no entanto, vão além do tráfico de drogas. De acordo com
o general Miotto, as tropas militares enfrentam diariamente a pesca ilegal, o
tráfico de armas, contrabando, garimpo ilegal, dragas nos rios, imigração ilegal,
desmatamento, infrações ambientais, pistas de pouso ilegais, extração ilegal de
madeira e tráfico de animais silvestres.
“Tudo isso que ocorre na
fronteira vai impactar nos grandes centros urbanos do nosso país e com
organizações criminais fomentando”, disse. Segundo o militar, o tráfico
internacional de animais silvestres paga valores exorbitantes por uma espécie
rara ou em extinção, como a jiboia, que chega a ser negociada por US$ 1.500
dólares; a cobra coral verdadeira, por R$ 31 mil dólares e a arara-azul que
pode valer R$ 60 mil dólares, com destinos a países europeus e aos Estados
Unidos.
Isolamento
As grandes distâncias dos centros
urbanos impõem aos militares e moradores das regiões de fronteiras limitações
como infraestrutura precária e até mesmo ausência de serviços do Estado em
decorrência de verdadeiros vazios demográficos. O acesso restrito é realizado
por meio dos rios ou rotas aéreas que, em determinadas regiões, são quinzenais.
“Estou acostumada com o
isolamento. A família militar aqui no pelotão é a minha família. Em uma cidade
grande as opções de lazer são mais diversas. Aqui é uma vida muito tranquila e
até mesmo limitada, mas a experiência nessa região é algo que vou levar para o
resto da minha vida. Atendemos uma área muito importante para o país”, conta a
tenente Fernanda Nascimento, farmacêutica de 25 anos. A militar é uma das duas
oficiais mulheres da tropa do Exército em Vila Bittencourt. (TEM FOTO)
Quarenta minutos de lancha
separam Vila Bittencourt de La Pedrera, a cidade mais próxima, na Colômbia. É
de lá que os moradores podem sair de avião a cada quinze dias. A comunidade,
que abriga um pelotão de fronteira, está localizada a 1.062 km da capital,
Manaus. Aparelho presente na mão de vários moradores do vilarejo, o celular
permite acesso ao restante do país por meio da internet. “Apesar de fraca, a
internet nos conecta com o restante do país. Mas sinto falta do telefone, de
ligar e ouvir a voz das pessoas da minha família”, afirma Fernanda.
O técnico de enfermagem em Vila Bittencourt,
cabo Rosuel Matos, de 22 anos, não pretende deixar a região. Nascido em
Tabatinga (AM), o jovem pretende cursar enfermagem em Manaus e retornar para um
dos pelotões de fronteira do país. “É perigoso conviver com a guerrilha, o
local não tem infraestrutura adequada, às vezes tenho muito medo de ataques do
narcotráfico, mas gosto dessa região e quero continuar na fronteira, apesar de
todas as dificuldades”, diz. Em geral, os militares vão acompanhados de seus
familiares quando servem nos pelotões de fronteira por períodos que duram, no
mínimo, um ano.
SisFron
Em visita ao centro de controle
do Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron), em Dourados
(MS), o ministro Raul Jugmann ressaltou o importância da atuação do 35 mil
militares da Marinha, Exército e Aeronáutica nas regiões de fronteiras de todo
país. O sistema, desenvolvido pelo Exército Brasileiro, com orçamento de R$ 450
milhões previstos para 2017, permitirá a fiscalização da faixa limítrofe com os
10 países sul-americanos.
“A fronteira está distante
fisicamente, mas está mais do que nunca, perto das nossas cidades, das nossas
metrópoles. É na defesa delas, na segurança, que vamos conseguir reduzir essa
onda de criminalidade. Vamos conseguir combater, aqui no seu início, as drogas,
o contrabando, o descaminho”, ressaltou.
*A repórter viajou a convite do
Ministério da Defesa