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Búfalos - Foto Ascom/UFOPA |
O trabalho de conclusão de curso
do primeiro agrônomo formado pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa)
foi destaque no 11º Congresso Mundial de Búfalos, realizado em novembro de 2016
em Cartagena, Colômbia. Intitulada “Avaliação produtiva e econômica da
suplementação injetável de cobre e zinco em búfalos no Oeste do Pará,
Amazônia”, a pesquisa desenvolvida pelo então aluno da Ufopa, Felipe
Stelmachtchuk, teve orientação do professor Antonio Minervino e ganhou o prêmio
de melhor trabalho de pesquisa na categoria graduação durante o congresso,
considerado o evento científico mais importante na área da bubalinocultura
mundial.
Desenvolvida no âmbito do
laboratório de Sanidade Animal (Larsana), vinculado ao Instituto de
Biodiversidade e Floresta (Ibef) da Ufopa, o projeto de Felipe e Antonio teve
inicio em 2013, quando foi diagnosticada uma deficiência de cobre, fósforo e
zinco em animais criados em áreas de várzea na região do Oeste paraense. Eles
passaram, então, a investigar formas alternativas de suplementação mineral para
bubalinos que vivem nessas áreas, na região de Santarém.
Segundo o Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o rebanho nacional de búfalos, em
2015, era de 1,18 milhão de cabeças. O estado do Pará é o maior produtor
nacional, responsável por 40% dos animais criados no Brasil. A região do Baixo
Amazonas é a segunda maior produtora regional, ficando atrás apenas do Marajó.
Os búfalos adaptaram-se bem ao ecossistema amazônico, em especial ao da várzea,
que se mostrou um habitat propício para o desenvolvimento desses animais. Em
geral, nessas regiões, os animais são criados de maneira extensiva, soltos, ocupando
grandes áreas de pastagens naturais. Na época do verão amazônico, as terras da
várzea são bastante favoráveis à pecuária, devido à abundância e à boa
qualidade do capim produzido. Durante o inverno da região, com chuvas intensas
e rios cheios, os animais costumam ser deslocados para pastos mais altos ou
levados para pastagens de terra firme.
É como explica o orientador do
estudo de Felipe, professor Minervino: “Um dos gargalos presentes na região de
várzea são as grandes extensões de áreas, uma vez que os animas de vários
proprietários são criados juntos, sem delimitações com cerca. Esse método
dificulta o controle do rebanho e a utilização de técnicas viáveis de produção,
como, por exemplo, a suplementação mineral, que aumenta a eficiência produtiva
dos animais”.
Via de regra, a suplementação é
oferecida pelos criadores através de uma mistura mineral oferecida num cocho.
Assim, o animal consome o “sal” à vontade. “Esse sal contém macro e
micronutrientes e seu consumo é regulado pela quantidade de sódio presente na
mistura. Na várzea, como os rebanhos se misturam, a suplementação oferecida da
forma tradicional torna-se inviável, pois animais de outros criadores podem vir
comer o sal mineral oferecido pelo produtor e isso tem um custo elevado”, explica
Minervino.
Segundo o orientador da pesquisa,
a falta de suplemento mineral acarreta numa série de prejuízos para os
produtores, como a diminuição no ganho de peso, na produção de leite e nos
índices reprodutivos dos búfalos. “O animal pode estar gordo, bonito e
saudável, mas, devido à carência de elementos minerais importantes, ele pode
apresentar uma produtividade menor, não atingindo todo o seu potencial”,
avalia. Alguns dos minerais essenciais para o metabolismo animal, dentre macro
e micronutrientes, são: cálcio, fósforo, magnésio, potássio, sódio, cloro,
enxofre, ferro, cobalto, cobre, iodo, molibdênio, zinco e selênio.
A deficiência de cobre pode
causar, por exemplo, diarreia, desordem de níveis ósseos, nervosos e
cardiovasculares, anemia, problemas reprodutivos, perda de pigmentação da pele,
desenvolvimento retardado e osteoporose. Já a falta de zinco pode ocasionar,
dentre outros problemas, perda de apetite, ressecamento e rachaduras de casco e
pele, fotossensibilização, queda na taxa reprodutiva, deficiência do sistema
imune, retardo no crescimento e menor produção de carne e leite.
Considerando a carência de cobre,
fósforo e zinco detectada nos rebanhos estudados por Felipe e a dificuldade de
suplementação através do manejo tradicional, eles começaram a avaliar
alternativas para a suplementação desses animais. “O fósforo é um macromineral,
então, como o búfalo precisa dele em grandes quantidades, é um pouco mais
difícil criar uma suplementação desse elemento para ser usada na várzea. O que
conseguimos realizar agora foi a suplementação de cobre e zinco e, em vez de
dar no cocho, nós injetamos o produto”, ressalta Minervino.
O produto (Suplenut®) é um
medicamento de origem argentina, que já traz em sua composição o cobre aliado
ao zinco. A princípio, a intenção da equipe era criar o próprio suplemento
injetável, formulado com distintas fontes de cobre que fossem sendo absorvidas
pelo animal em diferentes velocidades ao longo do tempo. “Foi então que
descobrimos esse medicamento argentino, que passou a ser distribuído no Brasil,
e resolvemos testá-lo”, conta Minervino. O produto tem fórmula de absorção
lenta e pode ser aplicado com intervalos de até 60 dias, o que facilita o
manejo do produtor, especialmente na várzea.
O experimento foi realizado na
propriedade do senhor Antônio Ferreira Lima, em Mojuí dos Campos, e durou 150
dias, entre junho e novembro de 2015. Nesse período, foram feitas duas
aplicações, uma no início do trabalho e outra depois de 80 dias. Foram
selecionados 80 animais, com idade entre 18 e 36 meses. Eles foram divididos em
dois grupos, chamados “controle” e “tratados”. Os tratados receberam as
aplicações com suplementação e os “controle” receberam solução fisiológica,
pois precisavam passar pelo mesmo estresse da aplicação. A cada 30 dias, os
animais eram pesados.
“Observamos um resultado muito
interessante em termos de ganho de peso”, destaca Felipe. Os animais que
receberam o produto tiveram um ganho de peso diário 40% maior que os animais
que não receberam. No decorrer dos quatro meses, o grupo controle ganhou em
média 282 gramas por dia, enquanto os animais tratados ganharam 399g/dia. “Essa
diferença deveria ser ainda maior. Os resultados não foram tão bons devido à
seca prolongada que tivemos em 2015, que acabou prejudicando um pouco o nosso
experimento”, avalia o agrônomo.
A pesquisa também considerou uma
análise econômica do uso do suplemento e chegou-se à conclusão que, para cada
R$ 1,00 gasto, o produtor pode ganhar até R$ 1,29, ou seja, a taxa de retorno
sobre o investimento chega a 29%. “Considerando o custo do medicamento e o
custo da mão de obra, cada aplicação custou, em média, R$ 1,50 por animal. Isso
varia porque a dose depende do peso do animal. Os mais pesados recebem uma
dosagem maior, usamos 1ml do medicamento por cada 50kg de peso vivo”, explica
Felipe.
Durante o estudo, os animais
estavam na área de terra firme e tinham livre acesso ao suplemento mineral de
qualidade. “O produto (Suplenut®) tem enorme potencial para ser utilizado em
áreas de várzea, onde dificilmente ocorre a suplementação no cocho e existe uma
comprovada carência de cobre”, acredita o professor.
De acordo com Minervino, o
projeto está em andamento. “Estamos avaliando os efeitos dessa suplementação
mineral, adicionada a suplementos vitamínicos, sobre índices reprodutivos dos
animais submetidos à inseminação artificial em tempo fixo. Além disso, por meio
de parceria com a professora Kariane Nunes, do Instituto de Saúde Coletiva
(Isco) da Ufopa, está sendo delineado no Laboratório P&D Farmacotécnico e
Cosmético uma formulação para administração oral, contendo fósforo e cobalto,
para ser utilizada como suplemento, especialmente em animais mais novos”,
enfatiza o docente. Para Felipe, o objetivo agora é propagar o conhecimento.
“Vamos planejar uma forma de levar essas informações para os produtores da
região e tentar aumentar a produtividade dos rebanhos”, conclui.