Uma jornalista paraense foi esfaqueada
no pescoço pelo ex-marido, Roberto Baima, na noite desta sexta-feira, 17, no bairro do Una, em Belém. Ela está
internada no Hospital Metropolitano e passa bem, segundo informações de amigos da vítima. O crime teria sido motivado
por ciúmes por parte do ex-companheiro. Segundo relatos, Roberto teria sido
agredido por populares após cometer o crime e também se encontra internado.
Assim que receber alta, será preso pela Polícia. O Sindicato dos Jornalistas do
Pará se pronunciou sobre o fato e a repercussão do caso na mídia local.
Leia nota
do Sinjor/PA
“Na noite da última sexta-feira, 17/02,
mais uma colega jornalista foi vítima de violência em Belém. E não foi uma
violência qualquer, foi uma tentativa de feminicídio, uma agressão de natureza
doméstica e familiar e de gênero. Para além de debatermos o necessário
enfrentamento do sexismo e do machismo em nosso País, é necessário apontar a
revitimização em manchetes da imprensa. Substituir o rosto do agressor pelo da
vítima em capa de jornal para estampar que ela é repórter do jornal
concorrente, expondo seu nome e sobrenome, fez com que a profissão e o emprego
dela ganhassem mais importância do que o crime ocorrido. Da mesma forma, expor
a imagem da vítima em portal de notícias, mesmo que ao lado do criminoso, mas
fazendo o uso da tarja preta não passa de "ética de açougue." A tarja
não esconde nada e, historicamente, foi usada para supostamente preservar a
imagem de adolescentes em conflito com a lei. Afinal, que crime a vítima
cometeu, nesse caso? O de ser mulher? Ser jornalista?
Nós jornalistas, empregados de grupos de
comunicação que se digladiam no cotidiano, somos instrumento dessa disputa no
trabalho e até quando somos vítimas. É necessário reavaliar a nossa conduta de
trabalho, focar a ética na profissão, o coleguismo e a autopreservação de uma
categoria já massacrada por assédio, injustiças e precarização.
Aliás, em situação anterior, em que a
vítima de tentativa de feminicídio foi repórter do grupo adversário, o mesmo
que estampou agora o rosto da nova vítima, a postura dos colegas de imprensa
foi completamente distinta. O nome e a imagem da jornalista foram preservados,
causando surpresa a reação adversa, agora, o que só contribui para o
desentendimento entre a classe. Da mesma forma, postagens em redes sociais que
expõem a vítima também só contribuem para reafirmar a falta de ética e de
solidariedade. Felizmente, nem todos os jornalistas partilham da mesma opinião
e, pautados na ética e na defesa dos Direitos Humanos, se manifestam
publicamente em repúdio à situação colocada.
No caso desta sexta-feira, a jornalista
vinha sendo acompanhada pelo Sinjor-PA devido a perseguições que estava
sofrendo. Temos notícia de que o quadro da colega jornalista é estável e que o
agressor, que também está internado, vítima da agressão popular, já teve o
flagrante de prisão lavrado contra si.
Nós, do Sindicato dos Jornalistas do
Pará (Sinjor-PA) e da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), estamos
solidários à jornalista que foi vítima de tentativa de assassinato em Belém, e
continuaremos atentos às posturas de veículos e jornalistas sobre o episódio,
não estando descartadas providências jurídicas futuras, bem como estamos
empenhados que o criminoso seja punido e a segurança da jornalista seja
garantida.
É importante lembrar que o Sinjor-PA tem
uma Comissão de Direitos Humanos, que foi criada, exatamente, para tentar
reduzir as violações de direitos humanos no exercício do jornalismo. E esse é
mais um caso de violência contra a mulher, publicado de forma desrespeitosa pela
imprensa às vésperas do Dia Internacional da Mulher, demonstrando que há
necessidade de uma mudança urgente de conduta por parte dos profissionais e
veículos de comunicação. Os interessados em participar da Comissão podem
comparecer na próxima quarta-feira (22), às 18h, na sede do Sinjor-PA”.