Deputados ouvem depoimentos sobre naufrágio do navio "Haidar Beirute" com bois vivos em 2015

Os deputados integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura os danos ambientais causados na bacia hidrográfica do rio Pará ouviram, nesta quarta-feira (11.04), o diretor presidente da Companhia Docas do Pará (CDP), Parsifal Pontes, e o tenente coronel Adailton Costa, comandante do 24º Grupamento do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Pará, com o objetivo de colher informações sobre o naufrágio do navio Haidar Beirut, de bandeira libanesa, no Porto de Vila do Conde – Pier 300, ocorrido no dia seis de outubro de 2015, por volta das 7 horas da manhã, no município de Barcarena, com mais de cinco mil bois vivos.

O tenente coronel acompanhou todo o processo de intervenção dos bombeiros logo após o incidente, já o diretor Pontes estava à frente da CDP há 15 dias quando ocorreu o naufrágio. Em decorrência do desastre, foram afetadas mais de nove mil pessoas, sendo quase 500 desalojadas e as demais afetadas diretamente em 51 localidades de Barcarena. Aproximadamente 300 bois foram recuperados vivos e 520 mil litros de óleo foram recolhidos. Parsifal informou que 30 mil litros de óleo escaparam da rede de contenção.

Em seu depoimento, o diretor presidente da CDP explicou em detalhes as responsabilidades das diversas autoridades presentes em um porto e as competências de cada instituição pública e privada presentes em um embarque e/ou desembarque de carga. Na sua impressão, houve falha humana no acidente, falha oriunda no manejo do lastro do navio. “Essa falha humana tem que ser colocada nos ombros do comandante do navio, o único responsável pelo embarque e o desembarque dentro do navio”, responsabilizou.

O inquérito do navio ainda não foi concluído porque a Marinhado Brasil precisa que a embarcação afundada seja puxada e flutue para acabar a investigação. “A licitação para a realização da salvatagem da embarcação foi adiada por duas vezes porque ainda existem pendências judiciais entre o responsável pela carga do navio e a seguradora” informou Pontes. Para o diretor presidente da CDP, o naufrágio do Aidar está completamente resolvido. “Houve problemas ambientais evidentemente, mas todos foram mitigados”. Ele explicou ainda que, devido o ineditismo do acidente, não havia um procedimento, protocolos nacionais e internacionais de como agir nestes casos.

O tenente coronel detalhou aos deputados a ação que os bombeiros militares empreenderam desde o momento que tomaram conhecimento do evento. Ele ressaltou como inédito a forma do acidente, por ter sido com uma embarcação com cinco mil bois atracado, com carga viva e combustível, e depois relatou as ações desencadeadas de assistência e de mitigação para evitar o impacto ao meio ambiente.

Quase três anos após o incidente, o tenente coronel Adailton de Souza manifestou que o município de Barcarena e o Porto de Vila do Conde são preocupações constantes para os bombeiros em particular e para todo o sistema de segurança. “Vejo que está faltando um plano de contingência para cada tipo de atividade portuária”, recomendou o oficial. Detalhou ainda informações  sobre a importância de uma resposta rápida do Conselho Municipal de Defesa Civil em casos como este, bem como os órgãos da prefeitura para minimizar os impactos ambientais e sociais que estes acidentes podem causar.

Para o deputado Cel. Neil, os depoimentos colhidos na sessão foram esclarecedores, pois permitiram ter uma visão global de como funciona o processo de embarque e desembarque, responsabilidades e consequências destas operações e ainda saber sobre a ação empreendida pelas autoridades municipais, estaduais e federais no caso de sinistros. “Os depoimentos serviram para perceber e estabelecer as responsabilidades de cada órgão e instituição pública e de empresas privadas”, disse. Ele destacou como negativa a demora de intervenção da ação do Conselho Municipal de Defesa Civil, da empresa contratante do navio e da própria CDP. “Este atraso de até sete dias para a retirada do óleo vazado fez com que o impacto fosse muito grande, atingindo a população na pesca, na saúde e na sobrevivência”.

Já para o relator da CPI, deputado Celso Sabino, apesar do acidente ter sido inédito, algumas cautelas que poderiam ter sido tomadas não foram. “Prefiro agora não imputar, mas, possivelmente, houve omissão e cuidados que poderiam ter sido tomados. É um absurdo não ter sido instalado o Conselho Municipal de Defesa Civil onde apresentava um risco ambiental”, avaliou. Sabino disse ainda que a preocupação da CPI será o de identificar quem é o principal autor, quem agiu ou deixou de agir para que esse desastre acontecesse.