Fronteiras se abrem para o açaí paraense em programa de industrialização




Fica no Pará a cidade que é conhecida como a capital mundial do açaí. Igarapé-Miri, no Baixo Tocantins, localizada a 78 quilômetros de Belém, respira e vive do fruto que está na mesa do paraense há gerações. Com o desafio de transformar essa Meca da produção açaizeira em uma potência industrial, o Governo do Estado colocou o município na rota da Caravana Pará 2030, para apresentar aos empresários e produtores locais os benefícios de fazer parte do programa que traça novos horizontes e mercados para o açaí nosso de todo dia.

Na última passagem da caravana por Igarapé-Miri, no mês passado, pelo menos sete empresas que hoje extraem a polpa do açaí buscaram informações junto à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia (Sedeme) para saber mais sobre o programa de incentivos fiscais cujo objetivo é estimular a verticalização da produção.

No município, três já são incentivadas: Amazon Palmitos Ltda., Nutrilatino Indústria e Comércio de Exportação e Importação Ltda. e Bony Açaí. As empresas que aderem ao programa recebem incentivo fiscal de até 95% e, em contrapartida, se comprometem a colocar no mercado produtos de maior valor agregado.

Ingrediente de produtos diversos, como néctar, barra de cereal e até bebida alcoólica –, o açaí ainda é beneficiado no Pará, em grande parte, de maneira artesanal. O fruto colhido nos diversos rincões do Estado chega às feiras e mercados livres e, desses locais, é repassado aos tradicionais batedores ou às pequenas indústrias. A polpa encorpada, sinalizada pelas indefectíveis bandeirinhas vermelhas, chega à casa dos paraenses para ajudar a compor a refeição do dia a dia – em alguns casos, ela é o principal produto consumido no almoço, por exemplo.

Segundo dados da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap), o Pará produziu 1,2 milhão de toneladas em 2016, que geraram R$ 481 milhões em movimentação financeira. São quase 99% da produção nacional. A Pesquisa Agrícola Municipal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que os 20 municípios que mais produzem açaí no País são paraenses, com destaque para Igarapé-Miri, o maior produtor do mundo, com 305,6 mil toneladas e 28% da produção nacional.

Estímulo

Apesar dessa pujança, o Estado brasileiro que se destaca como maior exportador de produtos industrializados derivados do açaí é o Ceará. É aí que entram as estratégias do programa de industrialização do Pará 2030, com incentivos para empresas que agreguem valor, e o diferimento fiscal é ainda maior quando as indústrias se estabelecem em municípios paraenses com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

A ação já vem surtindo efeito. Já foram 11 adesões ao compromisso de verticalizar o fruto dentro do Estado. A maior indústria de açaí do Brasil, a Frooty Açaí, que usava a polpa paraense para industrialização no interior de São Paulo, está implantando uma indústria em Mocajuba, no Baixo Tocantins, gerando 250 empregos.

Em Igarapé-Miri fica outra das grandes, a Bony Açaí, que levava polpa para Campos dos Goytacazes, interior do Rio de Janeiro, e lá beneficiava o fruto. “Essa é uma das empresas que aderiram ao programa no Pará. Graças ao incentivo, elas já investem na ampliação do parque industrial e trabalham com a perspectiva de crescer também a geração de empregos. Um dos compromissos que assumem é lançar, em prazos determinados pelo governo, linhas de produtos diferenciados e de maior valor agregado no mercado”, explica a secretária operacional da Comissão da Política de Incentivos da Sedeme, Marília Amorim.

O empresário João Gonçalves, da Açaí Miriense, foi um dos que buscaram informações junto à Sedeme durante a Caravana Pará 2030 em Igarapé-Miri. Localizada na PA-151, fundada em 2015 e com 22 toneladas de polpa produzidas por dia, a empresa comercializa a produção para São Paulo. Como beneficia o açaí em apenas uma linha, a indústria deixa de funcionar na entressafra, ou seja, fica parada por mais da metade do ano. Uma das consequências diretas é a subtração de empregos.

“Com os incentivos do governo, posso ter condições de ampliar o leque de produtos e a capacidade de congelamento e armazenamento. Poderia também manter o emprego dos trabalhadores. Tenho hoje em média 30 funcionários. O que mais me dói é empregar as pessoas em agosto e ter que demiti-las em dezembro porque a fábrica deixa de produzir”, diz o empresário, que também quer investir na exportação de produtos industrializados.

“Nossa indústria fica a 70 quilômetros do porto de Vila do Conde, cuja localização é estratégica, mas não exportamos. Comercializo para São Paulo, onde o açaí é industrializado e exportado direto do porto de Santos, que fica mais longe dos mercados internacionais que o nosso porto de Barcarena. Nós é que temos o açaí. Por isso, cabe a nós dar o preço e ditar as regras da comercialização. O governo acertou em cheio ao incentivar a verticalização aqui”, completou.

Expansão

Na Caravana por Igarapé-Miri, uma comitiva formada por secretários de Estado e técnicos de diversas áreas visitou duas indústrias participantes do programa de industrialização, onde a perspectiva é, no mínimo, dobrar a produção. A Nutrilatino, por exemplo, vai passar de 60 para 120 toneladas ao dia.

O número de empregos subirá de 110, no período de safra, para 170. “Para fazer os novos produtos, precisaremos de mais espaço, como nova área para congelamento e armazenamento. Como recebemos o açaí direto do agricultor familiar, a qualidade está garantida. Agora é trabalhar para cumprir as metas estabelecidas”, avalia o dono da empresa, Reinaldo Mesquita.

Para o empresário Bony Monteiro, da Bony Açaí – marca conhecida no mundo todo pelo patrocínio oficial do UFC –, o fruto pode projetar o Pará internacionalmente, mas, para isso, é preciso avançar na criação de linhas de produtos que satisfaçam os mais variados públicos e estejam acessíveis nas gôndolas dos supermercados. “Sem esse incentivo que o Estado está oferecendo, as empresas locais não teriam condições de competitividade nos mercados mundo afora. Então a iniciativa do governo é vital para que possamos levar o nosso querido fruto para outras fronteiras, deixando aqui um legado de desenvolvimento”, assinalou.

A produção de matéria-prima da Bony (que já produz açaí em latinha e em embalagem tetra pak, por exemplo) deve subir de 80 toneladas por dia para 150 toneladas diárias, com aumento médio de 50% no número de empregos. “Teremos, além do aumento de postos de trabalho, a qualificação da mão de obra, já que os produtos refinados exigem trabalhadores mais preparados. Outro acerto da iniciativa do Estado de estimular a verticalização, pois o programa certamente vai acabar formando um profissional altamente preparado para atuar na indústria”, assinala Bony.

Projeto

Com o programa “Pará 2030”, o governo quer melhorar a renda da população paraense, fazendo com que o Produto Interno Bruto (PIB) per capita – que é a soma das riquezas produzidas no Estado, dividida pela população – possa observar um crescimento sustentável e permanente. Hoje, o PIB per capita do Pará é de R$ 15,2 mil, enquanto que a média nacional é quase o dobro: R$ 26,5 mil. Serão colocadas em prática 1,4 mil ações específicas envolvendo as secretarias e órgãos do Estado, percebidos como decisivos para o propósito de elevar a renda per capita do Estado em 5,3%, a cada ano, até 2030. Um conjunto dessas iniciativas já está em curso.

Esses investimentos são apostas feitas pelo governo para dinamizar a médio e longo prazo a economia e melhorar os indicadores socioeconômicos das regiões paraenses. Para alavancar o setor financeiro e o desenvolvimento social, o projeto elegeu 12 cadeias produtivas prioritárias, mesmo mantendo as atenções em outros setores. Os pilares levaram em consideração a vocação do Estado, com destaque para os setores como agronegócio, agricultura familiar, pesca e aquicultura, atividade florestal, biodiversidade, mineração, serviços ambientais, logística, energia, turismo e gastronomia.