Prefeitura de Belém impõe condição para tirar crianças venezuelanas das ruas



Com o agravamento da situação do município de Belém em decorrência do aumento do número de imigrantes venezuelanos, propício à disseminação de doenças de fácil transmissão e pessoas em situação de mendicância, o prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, assinou, nesta terça-feira, 17, o decreto que declara situação de emergência social na capital, e solicita o apoio financeiro ao Ministério do Desenvolvimento Social para o atendimento à população imigrante dos índios Warao.

A medida foi tomada durante reunião no Palácio Antônio Lemos, sede da Prefeitura, com representantes do Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público do Trabalho (MTB), Secretaria de Estado de Educação (Seduc), Secretaria de Estado de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda (Seaster) e órgãos municipais, como Fundação Papa João XXIII (Funpapa) e Secretarias Municipais de Assuntos Jurídicos (Semaj), de Meio Ambiente (Semma), de Saúde (Sesma) e de Educação (Semec).

“Esse grande mutirão da rede de proteção aos imigrantes venezuelanos refugiados na nossa cidade é fruto de um projeto comum, com o protagonismo do Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho e secretarias estaduais e municipais, que busca o atendimento humanitário dessa população vulnerável. Hoje, o município assina este decreto em razão da legislação eleitoral que impede a transferência voluntária de recursos por parte do governo. Assim, a gente assina o decreto de emergência e, conjuntamente, a rede estará subscrevendo o encaminhamento ao governo federal, requerendo também a sua parceria para o co-financiamento das despesas para acolhida aos Warao”, explicou o prefeito Zenaldo.

Somado a isso, o município também está ofertando vagas para 100% das crianças Warao, de zero a dez anos, com projeto pedagógico de acolhimento, já desenvolvido pela Semec, que foi apresentado aos órgãos e recebeu aval para iniciar as ações.  “Agora, com o apoio de todos, vamos retomar o projeto para acolhida das crianças, que, se Deus quiser, vai acabar com essa exploração indevida e a utilização das crianças nas ruas para mendicância, correndo riscos. E todos nós, como cidadãos, queremos a acolhida delas, como ponto primeiro para as definições das ações conjuntas”, completou o prefeito.

Por meio do projeto, a Prefeitura está oferecendo escola em tempo integral, com alimentação, pedagogos, psicólogos, assistentes sociais e educação trilíngue [warao, espanhol e português] para as crianças a serem acolhidas. A escola será reativada, com o apoio de toda a rede, a partir do dia 01 de agosto.

O procurador da República Felipe Moura vê com entusiasmo a mobilização de todos. “O trabalho começa agora, porque a gente precisa efetivar essas políticas públicas que município e Estado estão se comprometendo a realizar, e, além de efetivar [o projeto pedagógico], vamos avaliar, e esta tem que ser uma avaliação contínua, para que a gente consiga um modelo de acolhimento não só indígena, mas para a imigração como um todo”, declarou.

O propósito do município é que, tanto na área da assistência social quanto na saúde e educação, haja a acolhida dos imigrantes que estão fugindo da grave crise econômica e política da Venezuela, com um apelo, principalmente, às crianças.

A medida, no entanto, não exclui a oferta de serviços que já são feitos pelo município, que vem adotando uma série de medidas de acolhimento na área de saúde pública para essa população. A expectativa, com o decreto, é a de garantir recursos futuros.

O procurador do MPT, Sandoval Alves da Silva, destacou o empenho das várias instituições para cuidar do interesse coletivo e resolver o problema imigratório. “Não existem brasileiros, venezuelanos, indígenas e não indígenas, o que existe é o ser humano, que deve ser tratado e acolhido em qualquer circunstância. O Ministério Público do Trabalho tem interesse, obviamente, na inserção dessas pessoas na educação para fins laborais, ou seja, não só para autoconhecimento, mas também, para a empregabilidades dessas famílias. Com isso, estamos demonstrando um esforço conjunto, para que possamos juntos resolver”, pontuou.

Assistencialismo - Todos os indígenas Warao que já estavam em Belém foram vacinados, receberam consultas, tratamentos e até internações. O grupo recebe, ainda, visitas permanentes do consultório de rua da Sesma.