O cultivo de cacau, matéria-prima para a
produção do chocolate – doce preferido de milhares de brasileiros – pode estar
com os dias contados. Uma combinação de fatores, que inclui as mudanças
climáticas e a crise hídrica, pode prejudicar gravemente a cacauicultura e
transformar o chocolate em um artigo de luxo ou até mesmo provocar a extinção
do cacau, que tem como maior produtor no Brasil o Estado do Pará, com 54% do
cultivo do País, de acordo com dados do IBGE.
Muitas pessoas não sabem, mas o plantio
do cacau é complexo, sendo especialmente sensível à temperatura, à erosão, à
contaminação do solo e, sobretudo, ao ataque de pragas. “O cacaueiro –
Theobroma cacao – é uma árvore nativa de ecossistemas tropicais e só cresce em
climas onde as chuvas são frequentes.
Por esse motivo, é encontrado principalmente a dez graus acima ou abaixo
da linha do Equador – onde está localizado o Estado do Pará. “Em um cenário de
mudanças climáticas em que são esperadas menos chuvas, as áreas próprias para a
cultura tendem a se tornar cada vez mais raras”, explica a consultora do
Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB) e doutora em Biologia
Molecular Sulamita Franco.
Segundo Pesquisas do Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), a
Costa do Marfim e Gana, por exemplo, que respondem por boa parte do cacau
produzido no mundo, perderão grandes áreas de cultivo. “Apesar de muitos
considerarem um exagero falar em extinção do cacau, especialistas buscam, no
mundo, soluções na biotecnologia, como estudar genes do próprio fruto que são
responsáveis pela resistência a pragas, ou a introdução de genes de outras
espécies, como alguns da mandioca que são responsáveis por inibir a produção de
toxinas em altas temperaturas, minimizando os impactos”, acrescenta Franco.
No Brasil, a principal preocupação é
desenvolver plantas que não sejam sensíveis à vassoura-de-bruxa, praga que
gerou uma fortíssima redução na produção brasileira, de 320 mil toneladas, na
década de 1980, para 190 mil toneladas em 1991. O cenário é motivo de
preocupação, tendo em vista que o setor é responsável por gerar R$ 14 bilhões
ao ano.
O cultivo do cacau no Pará
Segundo relatório da Comissão Executiva
do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), a safra no Pará em 2017 foi de 132.720
hectares, com produção de mais de 120 mil toneladas de amêndoas secas. Se forem
levados em consideração também os dados do IBGE, o Estado chega ao total de
125.104 toneladas na safra do ano passado. Isso representa 54% da produção
brasileira.
No Pará, o cultivo do cacau, fruto
endêmico e nativo da região amazônica, ganhou forte destaque na última década.
Nos dias atuais, a história do cacau no Estado é contada por pequenos e médios
produtores da Transamazônica. Principal polo de cultivo, a região engloba sete
municípios, com destaque para Medicilândia, maior produtor de amêndoas do
Brasil.
No que depender do Estado, haverá
esforços contra a hipotética extinção do cacau. Há previsão de investimos do poder
público e da iniciativa privada no setor de cacauicultura. Além disso, a
produtividade do fruto no Pará é impressionante: são 911 quilos por hectare,
enquanto a média nacional é de 500 quilos por hectare.