Brinquedos de miriti ganham forma pelas mãos de detentos em Abaetetuba


Detentos custodiados no Centro de Recuperação Regional de Abaetetuba - Foto Ascom/Susipe

A cidade de Abaetetuba, no nordeste paraense, tradicionalmente é conhecida pela produção dos brinquedos de miriti – a fibra do buritizeiro, uma palmeira típica da Amazônia. A confecção ganha força no período que antecede a festa do Círio de Nazaré. Detentos custodiados no Centro de Recuperação Regional de Abaetetuba concluíram nesta quinta-feira (15) o curso para a fabricação dos tradicionais brinquedos, promovido pela Associação dos Artesãos de Brinquedos e Artesanatos de Miriti de Abaetetuba (Asamab), em parceria com a Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe).

Durante o curso, dez detentos tiveram aula teórica e de técnicas de acabamento, selagem e pintura, ministrada por artesãos que fazem parte da associação. Inicialmente, os internos começaram a produzir os brinquedos mais tradicionais, como o barco e a cobra, fazendo a montagem e pintura dos objetos.

O presidente da Asamab, Rivaildo Peixoto, 41 anos, destacou a importância do curso. “Nossa intenção junto a esses presos não é apenas mostrar as técnicas de fabricação dos brinquedos, mas também a importância econômica e cultural que ele tem para o nosso município e do quanto ele pode contribuir para o desenvolvimento de renda, além da ocupação para cada um. Acreditamos que o miriti possa ser um agente transformador ajudando estes internos a voltarem para a sociedade”, disse.

Quando soube que haveria o curso na unidade prisional, o interno Jailton Araujo, 34, quis participar das oficinas. “Nasci em meio a artesãos. Minha família trabalha com a confecção de miritis. Quando era adolescente cheguei, a ter alguma experiência, mas não encarava como um trabalho, e sim como diversão. Com o tempo fui me afastando da prática e até mesmo da minha família. Fiz questão de participar do curso, não apenas por curiosidade, mas principalmente para adquirir técnica e um dia ter meu próprio atelier e dar continuidade na minha vida de forma honesta”.

Aprendizado – “Passar meu conhecimento para estes internos me deixa entusiasmado, pois a importância desse curso para eles vai além da geração de renda, serve também como uma terapia, fazendo com que eles foquem a mente na criação de arte e de novas peças”, afirmou Nildo Farias, um dos artesãos que ministraram o curso.

Para Rafael da Silva, 42, que já tinha experiência com artesanato antes de ser preso, o curso é uma oportunidade para ajudar no sustento da família fora do cárcere. “Trabalhava com artesanato antes de entrar no mundo do crime, porém é a primeira vez que manuseio o miriti. Trabalho pensando na minha família, em levar para eles um sustento, pouco, mas digno, algo que deixe minha esposa e meus filhos orgulhosos", relatou o detento.

Para o diretor do centro de detenção, Antônio Reis, o curso possibilita geração de emprego e renda para os detentos. “Abaetetuba é conhecida coma a terra do brinquedo de miriti e tem experiência em feiras nacionais e internacionais. Com a associação dos artesãos, buscamos uma parceria para ministrar o curso junto aos presos, pois na maioria das vezes eles estão ociosos, e assim dar-lhes uma alternativa, até mesmo, de gerar renda para ajudar a família. Sabíamos que haveria boa aceitação por parte deles, pois alguns dos internos já tinham experiência com artesanato e outros com o próprio miriti”, explicou.

O curso de fabricação de brinquedos de miriti teve duração de dois dias. A produção feita pelos internos será vendida na Feira do Artesanato do Círio 2017 e também no atelier dos próprios artesãos de Abaetetuba.