Em 2006, o estado do Pará
contabilizava 200 mil casos de malária. Dez anos depois, esse número caiu para
11 mil. A diminuição dos casos comprova a eficiência de um simples utensílio
que passou a fazer parte do cotidiano de muitas famílias e que mostra a sua
eficiência no controle de doenças endêmicas: o mosquiteiro. Ele auxilia no
combate à dengue, chikungunya e zika, todas transmitidas pelo mosquito Aedes
aegypti.
Em uma nova campanha de combate
ao mosquito, a Secretaria de Estado de Saúde (Sespa) conta com a mobilização
das prefeituras e das Secretarias de Saúde e de Comunicação dos municípios
paraenses. “Conseguimos diminuir drasticamente esses números e certamente o mosquiteiro
impregnado de repelente que distribuímos nos municípios é uma grande arma nesse
combate”, afirma Heloisa Guimarães, secretária adjunta de Gestão em Políticas
em Saúde da Sespa.
A distribuição de mosquiteiros
pela Sespa no interior do estado começou em 2012, nas regiões do Marajó e Baixo
Tocantins. A partir daí, a prática se tornou frequente e eficaz no combate ao
inseto. Somente em 2016 e nos primeiros dias deste ano já foram distribuídos
27.400 mosquiteiros com repelente.
Mesmo nas noites de calor, dona
Isabel Monteiro, 83 anos, não abre mão de dormir com o mosquiteiro, hábito que
foi repassado para seus oito filhos. “Graças a isso, meus filhos nunca tiveram
essas doenças. É um cuidado tão importante quanto limpar as caixas d’água e
evitar a água parada”, defende a donna de casa. Uma de suas filhas, a
professora aposentada Ana Rosa Monteiro, 58 anos, também passou para os filhos
o hábito de usar o utensílio. “Nunca sabemos se os vizinhos têm cuidados
preventivos como nós temos, por isso o uso do mosquiteiro é fundamental”,
reforça Ana Rosa.
No Brasil, o maior surto de
dengue ocorreu em 2013, com quase dois milhões de casos registrados. Em
estágios mais graves, a dengue pode levar ao óbito. Mais recentemente vieram os
primeiros casos de zika e febre chikungunya, assim como o aparecimento de uma
forma mais agressiva da chikungunya em Xinguara, no sul do Pará, que é causada
por uma mutação do vírus original, com sintomas ainda mais fortes acrescidos do
surgimento de bolhas pelo corpo, e que já causou duas mortes.
Ações - A Sespa emitiu, por meio
da Coordenação Estadual de Vigilância em Saúde, o primeiro Informe
Epidemiológico de 2017 sobre as ocorrências confirmadas no Pará das quatro
doenças que são transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. Foram registrados, ao
todo, 86 casos de dengue, dois de febre chikungunya e um de zika vírus. Nenhum
de febre amarela.
Os dados confirmam a redução no
número de pessoas acometidas por essas doenças no Pará em relação ao mesmo
período de 2016, que registrou 191 confirmações para dengue, uma para
chikungunya e cinco por zika.
Assim como no ano passado, as
ações de prevenção continuam, com o trabalho do governo do Estado, prefeituras
e Forças Armadas, que vão de casa em casa distribuindo material educativo de
combate ao mosquito. As secretarias municipais estão reforçando a limpeza nas
vias urbanas e a Sespa permanece fazendo o “fumacê” nas ruas de Belém. Com o
surgimento da forma mais severa da chikungunya, a Sespa aperfeiçoou o
tratamento aos infectados pela doença, colocando à disposição destes
especialistas como fisioterapeutas e reumatologistas, para tratar a endemia de
forma específica e mais adequada.
Em fevereiro, começam as reuniões
da Sespa com os prefeitos, autoridades da área da saúde e de comunicação locais,
em polos estratégicos do Estado. “No ano passado, o Pará foi o quarto estado
melhor classificado no combate à dengue, com zero de mortalidade. Isso mostra
uma saúde pública comprometida com resultados. Nossa preocupação é criar
barreiras de contingenciamento no município de Xinguara, onde está o foco mais
preocupante no momento, para tratar essas pessoas e evitar que essa forma mais
grave se espalhe pelo estado”, destaca Heloisa Guimarães.
Cuidados - Não existe um tipo de
sangue que atraia o mosquito de uma forma mais intensa. Todas as pessoas,
independente da tipagem sanguínea, correm o risco de serem contaminadas pelo
Aedes aegypti. O mosquito precisa ser combatido tanto na forma adulta, quanto
na forma de larva. Assim, deve se evitar acumular lixo e água parada. Ao entrar
em locais como bosques e florestas é preciso se proteger com calças e blusas de
mangas compridas. O uso de repelente é fundamental durante todo o dia e a
reaplicação do produto deve ser feita a cada seis horas.
Quem perceber a presença de focos
do mosquito pode entrar em contato com número 4006-4857 e fazer a denúncia. Uma
solicitação será encaminhada à secretaria de saneamento do município em questão
para que seja feita a limpeza do local denunciado. O serviço da “Sala de
Situação”, como e chamado, está disponível desde fevereiro do ano passado.
Prevenção nas escolas - A
Campanha Estadual de Combate ao Aedes Aegypti também é feita nas escolas do
estado. A abertura simbólica da campanha aconteceu em janeiro, na Escola
Estadual de Ensino Fundamental General Gurjão, na Cidade Velha, que tem mais de
500 alunos matriculados da primeira à oitava séries do Ensino Fundamental.
A campanha funciona com a
distribuição de material educativo, contendo dicas práticas para evitar a
proliferação do Aedes Aegypti, palestras educativas e trabalhos em sala de aula
voltados para essa temática. O objetivo é preparar as crianças para serem também
agentes multiplicadores da prevenção contra o mosquito dentro de casa. “Outro
dia eu vi um copo cheio de água em casa e pensei assim: eu tenho que jogar
fora! Aprendi também que o mosquito que faz a gente ficar com dengue tem uma
perninha branca e ensinei isso pra minha mãe”, conta a pequena Marcela Barroso,
de apenas 7 anos. “Hoje nos sentimos mais fortalecidos nessa campanha, porque
nossas crianças estão conseguindo internalizar o que tem sido feito no âmbito
pedagógico”, informou a diretora da escola, Jorgina Barros.