As alergias podem surgir em qualquer idade, porém, as mais comuns em
crianças, principalmente em lactentes, são as alergias alimentares e a
dermatite atópica, seguidas das alergias respiratórias como a asma e rinite.
“Podemos ter uma criança que inicia a vida com dermatite atópica ou
mesmo alergia alimentar e depois poderá ter mais asma ou rinite. O contrário
pode ocorrer, porém é raro. É o que chamamos de "marcha atópica", que
é a evolução de uma alergia para outra(s) com o decorrer da idade”, explica o
Coordenador do Departamento Científico de Alergia em Crianças e Adolescentes,
Dr. Antonio Carlos Pastorino.
O especialista conta ainda que, no adolescente, as alergias mais comuns
são a rinite e a asma, podendo haver maior chance de alergias a medicamentos e
insetos. Na adolescência, pode haver uma piora dos sintomas da rinite alérgica
e da dermatite atópica e, muitas vezes, as alergias acometem órgãos como o
nariz, olhos e pele, que necessitam de apoio de otorrinolaringologista,
oftalmologista e dermatologista pela gravidade das lesões.
“Na alergia alimentar múltipla, por exemplo, a restrição a diversos
alimentos pode acarretar déficits nutricionais. O auxílio de uma nutricionista
é muito importante na condução de dietas especiais que mantenham a adequada
nutrição do paciente”, explica Dr. Pastorino.
Tratamentos - Não é possível estabelecer um tratamento único para todas
as alergias, segundo o especialista da ASBAI, mas diante de doenças com
inflamação alérgica crônica, os medicamentos de escolha são os corticosteroides
nas suas várias apresentações ("sprays" para a asma, cremes para a
pele, de aplicação nasal e mesmo os de uso via oral ou endovenosos) e os
anti-histamínicos. Em muitos casos de alergia alimentar o afastamento do
alimento que provoca a alergia pode ser o único tratamento disponível. “Numa
crise de asma, que representa uma inflamação dos brônquios e seu estreitamento,
o uso de broncodilatadores é essencial. Na anafilaxia, a droga de escolha é a
adrenalina aplicada no músculo. Como podemos verificar, cada tipo e gravidade
de alergia tem seu tratamento específico”, alerta o especialista. Hoje a
medicina vem buscando tratamentos cada vez mais personalizados e “na medida”
para aquele paciente ou grupo de pacientes que apresentem características
clínicas e laboratoriais mais específicas.
Cada tipo de alergia pode ter uma certa evolução para o controle ou não.
Na alergia alimentar, por exemplo, o sistema imunológico gastrintestinal tende
a promover uma "tolerância" aos alimentos com o passar do tempo.
Desta forma, entre 80% e 85% das crianças alérgicas ao leite podem ser tornar
tolerantes e ingerir o leite normalmente após os cinco anos de idade.
“Cada vez mais no Brasil e no mundo entre 15% e 20% das crianças
permanecem alérgicas e muitos adultos também podem ter alergia ao leite. Outras
alergias podem mesmo começar na fase adulta. Para a asma podemos dizer que
existe um adequado controle com as medicações atuais e o próprio crescimento
das vias aéreas favorece esse controle, mas muitos asmáticos permanecem com
sintomas quando adultos, o mesmo ocorrendo com a rinite alérgica”, explica o
Dr. Pastorino.
Cuidados - A genética não é única responsável pelas alergias e o meio
ambiente que vivemos é parte do problema. Em famílias com presença de diversas
alergias, a não exposição a ambientes mais repletos de alérgenos domiciliares
ou mesmo ambientais, uma boa e variada dieta desde os primeiros meses de vida,
com a manutenção do aleitamento materno por, no mínimo seis meses, e evitar a
fumaça de cigarro já ajudaria ou protelaria o aparecimento de muitas doenças
alérgicas.
O especialista da ASBAI dá algumas dicas aos pais para minimizar as
restrições diárias por causa da alergia:
- “Antes de mais nada, é preciso ter certeza de que se trata de uma
alergia à proteína do leite de vaca, ou asma, ou outra alergia qualquer. Um
diagnóstico duvidoso pode trazer graves problemas psicológicos ao paciente e
familiares.
- Saber fazer uma boa história clínica e relacionar esse histórico com
os sintomas que surgem a partir do contato com determinados alérgenos, seja
alimento, ácaros ou outros, e ter o auxílio de exames que possam comprovar essa
alergia, vai facilitar muito o trabalho de orientação aos pais.
- Existem ótimos sítios na internet e livros de orientação com receitas
para alérgicos ao leite, ovo, soja, trigo, etc. Sem dúvida, o auxílio de uma
nutricionista pode ser essencial nesse particular.
- Em geral, crianças muito pequenas que sofreram reações mais graves
relacionadas a alimentos são muito participativas em perguntar e evitar
alimentos proibidos. Ter uma lista de alimentos proibidos e todas as suas
diferentes nomenclaturas em rótulos e produtos também é muito útil nesses
casos, além de orientar os cuidadores na leitura de rótulos e produtos que
possam entrar em contato com as crianças e adolescentes. ”
Sobre a ASBAI
A Associação Brasileira de Alergia e Imunologia existe desde 1946. É uma
associação sem finalidade lucrativa, de caráter científico, cujo objetivo é
promover o estudo, a discussão e a divulgação de questões relacionadas à
Alergologia e à Imunologia Clínica, além da concessão de Título de Especialista
em Alergia Clínica e Imunologia a seus sócios, de acordo com convênio celebrado
com a Associação Médica Brasileira. Atualmente, a ASBAI tem representações
regionais em 21 estados brasileiros.