O programa “Direção Viva” é desenvolvido no Hospital Metropolitano desde novembro de 2016 - Foto Ascom |
Dois meses antes
de completar 17 anos, a estudante H.B.R. sofreu um acidente de motocicleta no
bairro de Val-de-Cans, em Belém (PA). Na noite do Círio de Nazaré, em outubro
de 2017, a jovem fraturou a bacia, depois que a moto em que ela voltava para
casa com um amigo derrapou e ambos caíram no asfalto.
Distante dali,
no bairro do Barreiro, a diarista Odenise Teixeira Barbosa, recebeu a notícia
do acidente da filha por meio de uma sobrinha. Chegou ao local do episódio
pouco depois. “Ela estava deitada no chão, com muita dor, dizendo que ia
morrer”, contou.
Após os
primeiros atendimentos no Pronto Socorro Municipal Mário Pinotti, a jovem foi
transferida para o Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência (HMUE), em
Ananindeua (PA), onde recebeu atendimento especializado em trauma e após 16
dias retornou para casa.
A adolescente é
um dos 4.313 pacientes vítimas de acidentes de trânsito que deram entrada no
Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência em 2017. Do total, 1.799
atendimentos foram realizados em pacientes vítimas de acidentes de motocicleta.
Outros 1.587 pacientes foram vitimados por colisões. A unidade atendeu, ainda,
755 pacientes vítimas de atropelamentos e 172 em decorrência de acidentes de
bicicleta.
O número total
de atendimentos relacionados a pacientes vítimas de acidentes de trânsito em
2017 é 23,62% menor que o registrado no ano anterior. Em 2016, a unidade
gerenciada pela Pró-Saúde Associação Beneficente de Assistência Social e
Hospitalar sob contrato de gestão com a Secretaria de Estado de Saúde Pública
(Sespa), recebeu 5.467 pacientes vítimas de acidentes de trânsito. A unidade
possui 96,43% de aprovação dos usuários.
A desatenção do
condutor foi a causa do acidente que resultou na fratura da jovem H.B. Ela
precisou retornar para atendimento no HMUE depois que passou a sentir fortes
dores na região da bacia no final de 2017. “Quando voltei para cá, o médico
disse que eu estava com uma infecção e que eu tinha de ficar internada tomando
antibiótico”, contou.
Com isso, H.B.
passou as festas de fim de ano na unidade. “Já fiquei a época do Círio aqui, o
Natal e o Ano Novo, quando vi alguns fogos pela janela. Vou pular o Carnaval
também”, divertiu-se a jovem. Antes, no entanto, a adolescente passou por
momentos de tensão. “Fiquei com medo de não voltar a andar. Via as pessoas indo
tomar banho e eu sem poder ir sozinha. Chorava todos os dias pensando nisso”,
contou.
Foi o receio de
não voltar a andar, que impulsionou a adolescente a focar os esforços em sua
reabilitação. “Os médicos me disseram que demoraria seis meses pelo menos para
eu voltar a andar, mas quando fui para casa eu investi na minha recuperação”,
acrescentou. O acidente deixou uma certeza para a jovem: moto nunca mais.
“Quando eu tinha 15 anos, pensava em ter uma moto, via que ela corre, tem uma
adrenalina, mas isso é só ilusão. Quando a gente sofre um acidente não sabe o
que vai acontecer”, refletiu.
Direção Viva
Diretor-geral do
Hospital Metropolitano, Rogério Kuntz, credita essa redução a ações educativas
que a unidade desenvolve como o programa Direção Viva. 'Não podemos afirmar que
houve redução no número de acidentes de trânsito na região metropolitana de
Belém, mas dentro do perfil de pacientes que o Hospital Metropolitano atende,
de média e alta complexidades, houve menos pacientes vítimas de acidentes
graves e nós creditamos isso a ações preventivas como o Direção Viva', avaliou.
Durante o ano de
2017, Kuntz e o coordenador do Pronto-Atendimento do HMUE, o médico José
Guataçara, percorreram universidades, escolas e órgãos públicos levando
informações sobre as sequelas deixadas nos pacientes vítimas de acidentes de
trânsito.
Uma das ações de
destaque foi a palestra alusiva ao Dia do Motociclista, realizada no dia 27/7,
no Centur, em Belém (PA), que contou com a participação de mais de 100
motociclistas, que compareceram ao centro de eventos para acompanhar a palestra
com o tema “Quero andar de moto até morrer, mas não quero morrer andando de
moto”.
Segundo
Guataçara, as palestras do programa são uma oportunidade dos profissionais da
Pró-Saúde saírem da área hospitalar para divulgar informações para a
comunidade. “É uma forma de capacitação,
para mostrar a importância do uso dos equipamentos de proteção, como evitar
lesões e diminuir a mortalidade”, disse.
O programa também
levou orientações a motoristas, pedestres, ciclistas e condutores de
motocicletas para a importância do uso de equipamentos de segurança e direção
responsável no verão paraense durante o mês de julho. Colaboradores e
residentes multiprofissionais da unidade utilizaram maquiagens para simular
lesões causadas por acidentes de trânsito. A caracterização foi feita com itens
simples como farinha de trigo, cola branca, açúcar e corante alimentício. A
mistura resultou em lesões realistas nos braços e face dos colaboradores.
Além da
maquiagem realista, os colaboradores distribuíram material educativo aos
condutores que paravam no semáforo localizado no sentido Belém-Ananindeua da
rodovia BR-316, em Ananindeua (PA). A ação teve apoio da Polícia Rodoviária
Federal, responsável por orientar o trânsito na área.
O programa
“Direção Viva” é desenvolvido no Hospital Metropolitano desde novembro de 2016.
Criado pela Pró-Saúde Associação Beneficente de Assistência Social e
Hospitalar, o programa busca sensibilizar cada vez mais pessoas sobre as
sequelas oriundas dos traumas causados por acidentes de trânsito. Realizado de
maneira contínua, o ‘Direção Viva’ envolve profissionais de diversas
especialidades, discutindo esse tema sob ângulos distintos.
Paulo Czrnhak,
diretor Operacional da Pró-Saúde no Pará e coordenador do programa Direção
Viva, explica que a Pró-Saúde tem atuado na sensbilização da sociedade em prol
de um trânsito mais seguro, para que assim, seja possível reduzir cada vez mais
a ocupação de leitos por conta de traumas evitáveis. 'Para que haja uma melhor
qualidade de vida é preciso que haja saúde, e essa, muitas vezes é consequencia
das nossas próprias escolhas. Optamos, enquanto entidade beneficente, em atuar
na sensibilização e prevenção de traumas evitáveis, para que os cidadãos
compreendam seu papel em prol de um trânsito seguro, em que cada vez menos
famílias chorem a dor de perder vidas por consequencia de imprudências',
comentou o diretor.
Para 2018, Paulo
Czrnhak conta que os hospitais ampliarão as ações de educação em saúde, levando
cada vez mais profissionais a escolas e empresas, alertando sobre a importância
de um trânsito mais seguro.