Prefeitura recebe Conselho Nacional dos Direitos Humanos para tratar sobre refugiados venezuelanos



A missão do Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH), que começou a visitar os estados do Pará, Amazonas e Roraima e verificar a situação dos direitos humanos dos imigrantes venezuelanos, que ingressaram em território brasileiro solicitando refúgio e residência devido à crise estabelecida na Venezuela, teve uma reunião com o prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, secretários e técnicos municipais, na manhã desta sexta-feira, 19, no palácio Antônio Lemos, sede da Prefeitura Municipal de Belém.

A programação do CNDH começou na tarde de quinta-feira, 18, com visitas aos abrigos onde os imigrantes estão alojados em Belém. A missão é composta por integrantes do CNDH e representantes de organizações convidadas e vai observar a situação vivenciada por esses imigrantes nas cidades de Manaus (AM), Belém (PA), Santarém (PA), Boa Vista (RR) e Pacaraima (RR), em busca de soluções para as violações de direitos que venham a ser identificadas. A decisão pela visita se deu na 33ª Reunião Ordinária do colegiado, realizada nos dias 6 e 7 de dezembro do ano passado, em Brasília (DF).

Migração - O fluxo migratório crescente de venezuelanos ao Brasil tem como principal porta de entrada a cidade de Pacaraima, na fronteira norte com Roraima. Trata-se de um fluxo migratório misto, com solicitação de refúgio de migrantes econômicos e de migrantes indígenas, estes, principalmente da etnia Warao, que vivem no norte da Venezuela.

Zenaldo Coutinho disse que mesmo tendo consciência de que se está diante de uma atribuição de competência federal, visto que são questões relacionadas a migrações, refúgio e indígenas, a Prefeitura de Belém, em nenhum momento, se omitiu de prestar ajuda aos refugiados venezuelanos. “Desde que tomamos conhecimento da situação desses adultos, e, principalmente, das crianças, a Prefeitura, por meio de seus órgãos assistenciais, tem feito a abordagem a essas pessoas e posterior encaminhamento, em uma ação integrada com o Governo do Estado. O primeiro atendimento aos migrantes foi e é por meio do nosso Consultório de Rua, que faz a primeira avaliação da saúde de todos”, explicou o prefeito.

De acordo com a presidente da Fundação Papa João XXIII (Funpapa), Adriana Azevedo, a assistência social do município está garantindo acolhimento aos migrantes com uma equipe técnica interdisciplinar, em parceria com secretarias municipais e estaduais. “Desde o primeiro abrigo provisório, em outubro do ano passado, o atendimento tem sido priorizado aos indígenas. Atualmente, muitas das famílias já estão em um abrigo definitivo no Centro de Belém, em uma casa que é autogerida por eles mesmos, e eles continuam a receber assistência médica e social, em um trabalho ininterrupto”, pontuou Adriana.  

Saúde - Atualmente, segundo levantamento de técnicos da Funpapa, são 103 refugiados venezuelanos, mas eles já chegaram a 143, entre os meses de setembro e outubro do ano passado. Pelo levantamento, são cerca de 45 crianças, e as mulheres adultas são em maior número que os homens.

O titular da Secretaria Municipal de Saúde, Sérgio Amorim, informou que os indígenas já receberam imunização de vacinas, estão cadastrados no Sistema Único de Saúde (SUS) e cada um deles têm suas fichas de cadastro de saúde individualizadas. “Mesmo com apenas uma equipe itinerante de atendimento nas ruas centrais de Belém, o nosso Consultório de Rua já fez 528 atendimentos. Quando é um caso mais sério, o encaminhamento é feito para um dos Pronto Socorros da cidade, e nesse procedimento, até duas cirurgias de emergência já foram realizadas”, enfatizou o secretário.

Amorim também informou que está sendo tratada a questão da saúde bucal dos indígenas.  “O problema de saúde bucal deles é muito sério. Não é somente assistência básica. São problemas maiores, que requerem mais atenção, e alguns deles já começaram esse tratamento”, disse Sérgio Amorim.  

Durante a reunião, o prefeito Zenaldo Coutinho interveio na questão levantada sobre se os migrantes teriam direito ou não a emitir a Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS). Coutinho informou, quase ao final da reunião que, caso os indígenas solicitem, eles já podem ser encaminhados à Delegacia Regional do Trabalho para obter o documento.  

O conselheiro João Akira Omoto, representante do Ministério Público Federal no CNDH, que já acompanha o caso dos venezuelanos, por meio da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), disse que a missão saiu do encontro com a certeza de que há uma perspectiva de diálogo estabelecido com as instituições. “Esperamos que a partir de agora, possamos estabelecer políticas adequadas para a enorme vulnerabilidade em que esse grupo se encontra. O Conselho trabalha na perspectiva de verificação dos atendimentos às normas de Direitos Humanos nacionais e internacionais e estamos falando de um amplo espectro na questão migratória, que vai desde a regularização e permanência dos imigrantes”, disse

“Após visitar os três Estados, iremos construir um relatório, e se encontrarmos potenciais violações dos direitos humanos dos refugiados, faremos recomendações às entidades governamentais, se for o caso”, encerrou o conselheiro.


Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), de 250 a 300 imigrantes venezuelanos passam diariamente pela fronteira com o Brasil. Já de acordo com a Polícia Federal, até 1º de novembro do ano passado, haviam sido registradas 20.137 solicitações de refúgio, sendo 15.643, só em 2017, e 2.740 solicitações de residência temporária.