“Isolamentos e Fluxos” é a nova
exposição do fotógrafo Cyro Almeida, que será aberta no dia 17 de abril, no
Espaço Cultural do Banco da Amazônia e foi uma das selecionadas pelo Edital de
pautas 2018. A exposição contempla fotografias realizadas entre 2011 e 2018 em
cinco bairros da capital paraense: São Brás, Guamá, Condor, Jurunas e Cidade
Velha. A curadoria é de Mariano Klautau Filho.
Com abordagem documentária, o
fotógrafo mineiro se dedica à figuração de habitantes e trabalhadores nas
periferias das metrópoles, com um olhar atento ao corpo, à cor e à ocupação dos
espaços. “As imagens são uma tentativa de escapar da visualidade predominante
sobre essas regiões, que normalmente se apoiam nos estereótipos da carência
material e da violência.”, declara o artista. Por seu trabalho em Belém, Cyro
recebeu o XV Prêmio Funante Marc Ferrez de Fotografia, em 2015, na categoria
Documentação Fotográfica do Brasil.
Influenciado por fotógrafos como
Luiz Braga e André Cypriano, e pelo cineasta Eduardo Coutinho, a poética de
Cyro Almeida é construída pelo desejo de conhecer o outro. Isso o levou a
percorrer a pé de Van um trajeto cujas extremidades abrigam os mercados de São
Braz e do Ver-o-Peso, indo ao encontro de açougueiros no Guamá, carregadores de
açaí nas feiras do Jurunas e da Cidade Velha, serralheiros no Porto do Sal,
além de diversos moradores serenamente posicionados nas portas de suas casas ou
em momentos de lazer.
Residindo em Belo Horizonte, o
artista vem a Belém todos os anos desde 2009, normalmente no período mais
chuvoso, entre dezembro e abril. “A primeira vez que estive em Belém, andando pelo
Ver-o-Peso, foi como uma mágica, pela conexão e identificação que eu senti. Não
tenho nenhum parente em Belém e naquela época nenhum vínculo de trabalho. Era
como se eu estivesse matando a saudade de um lugar que eu nunca havia estado”,
conta. Ao conviver com os espaços fotografados, observá-los e interagir com as
pessoas, Cyro entendeu que estava em áreas marcadas por estigmas da violência
social, sendo constantemente alertado para não estar ali.
Sem acreditar que está imune a
qualquer ameaça, o fotógrafo prefere a ideia de que os discursos da intimidação
podem, às vezes, levar à própria violência que criticam. “Minhas fotografias
não são pra dizer que não existe violência nesses bairros, mas para que eu
mesmo não me torne violento a eles pela representação estereotipada, a
distinção social e fantasia produzida pelo medo”. Portanto, as fotografias
apresentadas em “Isolamentos e fluxos” não são apenas um documento histórico de
uma parte da vida em Belém na década de 2010, mas uma tentativa de remontar os
sentidos convencionalmente colocados sobre essas populações em âmbito local e
global.
Nas palavras do curador, Mariano
Klautau Filho, o resultado desse processo é uma “fotografia franca, sensível na
experiência do contato e precisa nos enquadramentos em que a persona e seu
ambiente estão em uma harmonia dissonante aos discursos sobre os perigos da
cidade”, examinando ainda que “há certa paz nas imagens, muito provavelmente
pela qualidade da experiência entre fotógrafo e retratado”. Trata-se assim da
oportunidade do público belenense conhecer pela primeira vez no formato de
exposição os resultados de constantes vivências e imersões feitas por um
retratista forasteiro que tem tomado a capital paraense como base de sua
poética.
Serviço
Exposição “Isolamentos e Fluxos”,
de Cyro Almeida
Abertura: 17/04, 3ª feira
Hora: 18h30
Local: Banco da Amazônia (Av.
Pres. Vargas, 800 - Campina)
Conversa com o artista e curador:
dia 24/02, 4ª feira
Hora: 18h30
Visitação: 18/04 a 15/06, de
segunda a sexta-feira, das 9h às 17h
Entrada gratuita