BBC Londres destaca trabalho de cooperativa de presas no Pará




O repórter Daniel Gallas, correspondente internacional da BBC World News TV, com sede em Londres, na Europa, esteve em Ananindeua para conhecer o trabalho realizado por detentas do Centro de Recuperação Feminino (CRF), na Cooperativa Social de Trabalho Arte Feminina Empreendedora (Coostafe) - a primeira cooperativa formada exclusivamente por mulheres presas no Brasil. Em quase quatro anos de existência, mais de 250 detentas já foram atendidas pelo projeto social de economia criativa.

A reportagem foi exibida nesta segunda-feira, 2, no programa World Business Report, que apresenta notícias sobre o mundo financeiro e iniciativas de empreendedorismo global. O programa é transmitido para os cinco continentes no mundo. O correspondente internacional da BBC acompanhou o trabalho desenvolvido pelas detentas da Coostafe durante dois dias. As gravações foram realizadas dentro do presídio e nos locais onde os produtos fabricados na Coostafe são comercializados: em um quiosque dentro de um shopping center e em uma praça pública de Ananindeua.

“Fiquei sabendo da Coostafe por meio de um amigo que trabalha no Instituto Humanitas, que é uma organização sem fins lucrativos com sede nos Estados Unidos e que apoia abordagens inovadoras para reintegração na sociedade, e que conheceu o projeto de reinserção social no ano passado. Foi ele quem me colocou em contato com a diretora do CRF. A partir daí achei que seria interessante mostrar o trabalho feito pelas detentas dentro do presídio, como forma de tentar resolver um pouco o problema da segurança, que é global, através da economia, criando uma cooperativa que ajuda mulheres presas a se reinserir na sociedade”, destacou o repórter Daniel Gallas.

A Coostafe foi criada em fevereiro de 2014, por portaria interministerial do governo federal. O projeto garante acesso ao trabalho e à geração de emprego e renda para as detentas na economia solidária. As mulheres envolvidas no projeto trabalham diariamente na produção de artesanatos, como pelúcias, crochês, vassouras ecológicas, sandálias e bijuterias, entre outros produtos, que são comercializados em shoppings, feiras e praças públicas de Belém e Ananindeua.

“Eu não conhecia uma ideia nesse formato, já tinha ouvido falar que os detentos trabalham para reduzir a pena, mas nunca ouvi comentários de uma prisão que funciona como uma empresa. É uma ideia sensacional e que consegue atacar vários problemas graves que o sistema prisional tem atualmente e dá oportunidade para pessoas presas mostrarem que podem ser ressocializadas sim”, ponderou o repórter.

A detenta Kátia Ferreira, de 38 anos, é presidente da Coostafe e está desde o início do projeto. Ela diz que nunca pensou que um dia pudesse se tornar empresária. “Eu não imaginava que teria a chance que estou tendo hoje, ainda mais dentro de um presídio. Ver que hoje o nosso trabalho vai ser conhecido internacionalmente é uma alegria muito grande. É muito bom que estamos crescendo e que só temos a melhorar cada dia mais”, disse a detenta.

Para Carmen Botelho, diretora do CRF e idealizadora da cooperativa, o alcance global de uma iniciativa desenvolvida no sistema prisional do Norte do Brasil é uma oportunidade de mostrar ao mundo um modelo de empreendimento, através da economia criativa, com o uso da mão de obra carcerária.

“Fico feliz de ver que o trabalho feito na Coostafe vai ser mostrado para o mundo todo por uma das mais respeitadas e reconhecidas redes de TV no planeta. Espero que possamos servir de exemplo para o sistema carcerário e que mais pessoas privadas de liberdade tenham as mesmas chances de ressocialização que estamos oferecendo para as detentas aqui no Pará. São pessoas que sofrem um preconceito muito grande da sociedade e precisam de uma oportunidade de ser reinseridas no mercado, até conseguirem uma garantia formal de emprego e renda”, informou a diretora.

A reportagem "Brazil's female prision: using business as a second chance" pode ser assistida na íntegra neste link: vimeo.com/262966934.