O dia começou cedo para os
participantes da Semana dos Povos Indígenas, que ocorre em São Félix do Xingu,
no sudeste do Pará. A vasta programação se estendeu durante toda a
segunda-feira (16), com os serviços ofertados pelo Estado, os jogos e abertura
oficial, à noite. Pela manhã, enquanto homens e mulheres se revezavam nas
provas de atletismo, na Praia do Pedral, índios de diversas etnias foram até a
creche onde o Pro Paz, a Polícia Civil e a Defensoria Pública expedem certidão
de nascimento e carteira de identidade. Ao mesmo tempo, na Câmara Municipal,
ocorria o principal debate do evento, sobre o empoderamento da mulher indígena.
Depois do seminário na Câmara
Municipal – que ficou lotada, com a presença de caciques, estudantes e
autoridades, Sônia Guajajara, Puyr Tembé, gerente de Promoção e Proteção dos
Direitos dos Povos Indígenas da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos
(Sejudh) e outros convidados da semana se reuniram com o presidente da
Assembleia Legislativa, deputado Márcio Miranda (DEM), para solicitar apoio na
locomoção de índios paraenses ao Acampamento Terra Livre, que ocorre no próximo
dia 23, em Brasília (DF). De imediato, foi assegurado um ônibus para
transportar os índios paraenses, e outro será articulado pela Assembleia
Legislativa junto ao governo do Estado.
Esporte
Nesta segunda-feira também começaram as
competições. Além do atletismo, com a corrida de 100 metros rasos para homens e
mulheres, houve partidas de futsal feminino e de cabo de guerra masculino e
feminino. Espalhados por diversos espaços da cidade, os jogos são uma atração
muito esperada, tanto pelos índios quanto pelo público que prestigia as
disputas. Com apoio da Secretaria de Estado de Esporte e Lazer (Seel), cada
modalidade é acompanhada de perto por plateias apaixonadas e orgulhosas.
Um dos mais animados era o
cacique Daniel Juruna, líder da delegação que trouxe 44 índios a São Félix do
Xingu. Participando pela primeira vez da semana, a tribo, oriunda do Mato
Grosso, trouxe artesanato, habilidade física e muita cultura para mostrar.
“Estamos muito felizes de poder estar aqui na Semana dos Povos Indígenas no
Pará. Passamos dois dias viajando para chegar a tempo de participar dos jogos,
mostrar nossos costumes e fazer coro nos debates. Queremos engrossar a luta
pela reconquista de territórios, pois a principal briga do índio ainda é pela
terra”, afirmou.
Apoteose
À noite, a Semana dos Povos Indígenas ofereceu
outro momento memorável: a entrada das etnias participantes na Praça do
Triângulo durante a abertura oficial. A força da cultura podia ser vista em
cada tribo que pisava na quadra principal, entoando cânticos, dançando e encenando
situações cotidianas vividas nas aldeias. Com as vestimentas tradicionais,
corpos pintados e concentração, os índios marcavam presença e arrancavam
aplausos a cada apresentação. Crianças indígenas que estudam em escolas do
município também se apresentaram para o público presente.
No palanque, a prefeita de São
Félix do Xingu, Minervina Silva (PDT), dava as boas-vindas e declarava
oficialmente aberta a semana. “Temos a honra de receber no nosso município
grandes nomes da luta indígena, como Puyr Tembé e Sônia Guajajara. Esta última,
em especial, veio abrilhantar ainda mais essa festa. Esperamos que todos possam
aproveitar esses dias de congraçamento, discussões e oferta de serviços
essenciais trazidos pela equipe do governo do Estado”, assinalou.
Acompanhando Sônia Guajajara em
agendas pelo País, a cantora Maria Gadu encerrou a noite com um pocket show que
animou o público. “É uma honra estar aqui, sobretudo porque o Brasil vive um
momento crucial da sua história, em que a luta dos movimentos sociais se tornou
ainda mais fundamental. São Félix do Xingu, sem dúvida, cria um marco ao
promover um encontro de tamanha beleza e representatividade”, disse a artista.
Programação tem oficinas
culturais e serviços oferecidos pelo Governo
A programação da Semana dos Povos
Indígenas continua nesta terça-feira (17), com as competições de arco e flecha
e futebol masculino, além do seminário sobre gestão territorial e ambiental de
terras indígenas. Na Praça do Triângulo é possível apreciar o artesanato das
etnias participantes, que inclui peças únicas e cheias de cor, que refletem a
diversidade desses povos.
A agenda da programação conta,
também, com ação de cidadania ofertada pelo Governo do Estado e as oficinas de
arte e ofício da Fundação Cultural do Pará (FCP) e de comunicação comunitária
do projeto Biizu, da Secretaria de Comunicação (Secom). Todos os serviços
oferecidos pelo Estado são gratuitos.
A ação da Fundação Pro Paz está
sendo realizada na Creche Municipal Luiz Ferreira Santana, próximo à Câmara
municipal e atende também a comunidade não indígena do município com a emissão
de documentos diversos.
O cacique geral da nação Kayapó,
Akjaboro Kayapó, levou das aldeias para São Félix do Xingu quatro mil índios
para participar da festividade. “É muito importante para nós aproveitarmos os
serviços de emissão de documentação, que garantem a nossa cidadania. Estamos
aqui para mostrar a nossa beleza, cultura e dança na nossa grande festa do dia
do índio, porque queremos respeito pela nossa cultura, para que ela não seja
apagada”.
A nação Kaiapó tem
aproximadamente 12 mil indígenas, entre eles, Pati Kayapó, de 98 anos, o índio
mais velho da aldeia. Ele e seu genro Ykaryry Kayapó enfrentaram 12 horas de
barco até São Félix do Xingu para garantir os documentos de identificação. “Meu
sogro sempre trabalhou com coleta, farinha, pelo mato, então perdeu os
documentos de certidão de nascimento e RG. Agora estamos precisando da
documentação para ele ter acesso aos seus benefícios. Com a identidade em mãos
é possível assegurar que os seus direitos sejam respeitados”, disse Ykaryry
Kayapó.
Os mais jovens também estiveram
presentes na ação. A índia Nhak Nhunhti Kayapó chegou com a família em busca da
primeira documentação. “Eu vim tirar a identidade, aproveitando a ação aqui na
semana de povos indígenas. É um documento muito útil para nós”, disse a jovem
de 13 anos.
A Fundação Pro Paz, por meio da
Caravana Pro Paz Cidadania visita o município de São Félix do Xingu pela
segunda vez e a expectativa é de superar o número de atendimentos nesta semana.
“A grande expectativa é tirar as 300 identidades por dia, mas nós também
esbarramos aqui na questão do sub-registro. Eles primeiro precisam tirar o
Registro Administrativo de Nascimento de Indígena, o ‘Rani’, depois a certidão
civil e posteriormente o RG. A ação vai até quinta-feira e estamos calculando
chegar até sete mil atendimentos, entre RG, CPF, certidão de nascimento, foto
3x4 e a realização do aconselhamento jurídico”, explicou o coordenador do Pro
Paz Cidadania, Roberto Oliveira.
Colaboração: Emanuele Corrêa
(Ascom Pro Paz) e Agilson Lobato (Ascom FCP)