Projeto de marcenaria garante capacitação e geração de renda para detentos


Uma marcenaria instalada no Centro de Recuperação do Coqueiro (CRC), em Belém, é mais uma das oportunidades de qualificação da mão de obra carcerária no Pará. O projeto, iniciado há 15 anos, já profissionalizou mais de 100 internos do regime fechado custodiados na unidade prisional pela Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe). Atualmente, 11 internos fazem parte do grupo que trabalha na confecção de móveis em madeira MDF.

Pelo trabalho, os detentos recebem remuneração de 3/4 do salário mínimo, conforme determina a Lei de Execução Penal brasileira, além da remição de pena e a oportunidade de se profissionalizar para o mercado de trabalho.

“Todos os internos que trabalham na marcenaria passam por cursos de capacitação e posteriormente colocam em prática o que aprenderam. Incentivamos essa capacitação para que o trabalho executado aqui dentro seja sempre de qualidade. Nossa prioridade é proporcionar a mudança na expectativa de vida desses homens. O objetivo do trabalho é o de qualificar os presos para que quando saírem daqui possam ter uma boas oportunidades e ajudar na renda de suas famílias,” explica o coordenador do projeto, Rodrigo Dias.

Para os internos do projeto atualmente, essa oportunidade desperta também, o interesse em empreender e formar seus próprios negócios. “Quando você chega aqui dentro tem duas opções, ou você escolhe ficar ocioso, ou procura alguma coisa pra mudar a cabeça. Fiz um curso profissionalizante de marcenaria no Sebrae e agora estou aqui remindo minha pena, indicado pela casa penal. Cada vez mais me especializo, além de fazer isso, também faço faculdade de analista de sistemas e pretendo montar uma loja virtual com as minhas produções,” diz Francisco Junior, 30 anos, que trabalha na marcenaria há dois anos.

A marcenaria funciona de segunda a sexta-feira. Os detentos trabalham na produção de cadeiras, mesas, balcões, móveis para escritório e estantes. As produções são feitas para atender o mobiliário da Susipe e também para outros órgãos do Estado, além de peças produzidas para mostras laborais e eventos em todo o Brasil. As produções chegam à média de 150 móveis por mês, dependendo da demanda. Todo o trabalho é feito na fábrica instalada dentro da própria unidade prisional.

O interno Jhonata Holanda, 32 anos, há um ano e meio trabalhando no projeto, também sonha com o emprego depois de sair do cárcere. “Fiz um cursos pelo Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego) e a direção da casa me encaixou na marcenaria. Minha especialidade é em MDF. Aqui a gente trabalha e produz as peças, além de aprender também recebo por isso. E já penso em abrir minha própria marcenaria quando sair daqui”, afirma.

Produção

O material usado pelos detentos para a produção das peças é o MDF, derivado da madeira de lei apreendida de desmatamento e doada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e também pela Secretária de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas). Para participar do projeto, o interno precisa ter bom comportamento e aptidão para o trabalho, além de passar por avaliação psicossocial.

“O CRC sempre foi referência em marcenaria no Pará. As capacitações são sempre realizadas e os presos saem daqui profissionalizados, prontos para dar continuidade lá fora. Os internos sempre prezam pela qualidade e delicadeza do trabalho na movelaria. Nosso foco principal é a educação e o trabalho e essas características estão sendo contempladas e feitas dentro das penitenciárias. Em algumas unidades temos galpões onde podemos desenvolver boas práticas e reintegrar esses homens para a sociedade para que eles possam sair em condições de serem cidadãos de bem”, finaliza a gerente da Divisão de Trabalho e Produção da Susipe, Izabel Ponçadilha.