Pesquisadores paraenses estão de
malas prontas para o município de Mocajuba, no nordeste do Estado. De 7 a 10 de
julho, eles irão verificar as condições de saúde e bem-estar de grupos de botos
que vivem na orla da cidade. Apesar de mansos e sociáveis, os “botos de
Mocajuba” são animais selvagens. e o contato, especialmente o turístico, com
seres humanos pode afetar o comportamento dos mamíferos aquáticos e, até mesmo,
pôr a vida deles em risco.
“Acompanhamos esses animais há
vários anos e os conhecemos. Todos os anos, voltamos para verificar como eles
estão e sempre realizamos ações, especialmente de educação ambiental com os
moradores e feirantes que atuam no Mercado de Mocajuba a fim de ajudar na
preservação do ecossistema e habitat dos botos. Porém nos preocupa que os botos
possam se tornar atração turística, pois eles são animais selvagens”, pondera
Gabriel Melo Santos, integrante do Grupo de Biologia e Conservação de Mamíferos
Aquáticos da Amazônia (BioMA), que une pesquisadores da Universidade Federal do
Pará (UFPA) e da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA).
Check Up - O biólogo explica que,
na expedição, que ocorre no mês de julho, serão realizadas várias atividades.
Os pesquisadores farão uma espécie de check up com os animais e verificarão as
condições do grupo. “Vamos avaliar se eles estão com uma aparência saudável, ou
seja, se não estão magros demais; se possuem marcas, feridas ou machucados e a
possível causa destes; e também vamos gravar os animais conversando, que é um
dos nossos focos de pesquisa”, enumera Gabriel Santos Melo.
Outra atividade é fazer a
identificação do grupo, por meio da qual se pode avaliar se indivíduos
desapareceram ou se novos botos se uniram ao grupo, incluindo a constatação
sobre o nascimento de filhotes.
ConversadeBoto4Botos não são pets
- As atividades de educação ambiental também são destaque na expedição. Os
botos sempre se relacionaram com os moradores da cidade e, principalmente, há
uma relação com os feirantes do Mercado de Mocajuba e com as crianças e jovens
do município. (Leia mais)
Por outro lado, há o
relacionamento com os pesquisadores. “Nosso contato com eles sempre foi com
fins de pesquisa e preservação. Além disso, temos treinamento e conhecimentos
sobre como lidar com eles. Se alguém sem essa preparação tentar contato, pode
haver acidentes, ou seja, pessoas podem machucar os animais ou os animais podem
machucar as pessoas. Não podemos esquecer que eles são mamíferos aquáticos. São
selvagens e não podem ser tratados como pets. Eles não são animais de
estimação”, alerta o biólogo do BioMa.
Turismo não pode ser
irresponsável - Um dos cuidados inclui as partes do corpo dos botos que podem
ou não ser tocadas. “Não se pode tocá-los muito perto da boca, nem do orifício
que eles usam para respirar, pois são locais sensíveis que podem facilmente ser
feridos ou gerar reação nos animais.”
Além disso, os pesquisadores da
UFPA e da UFRA alertam que os animais tendem a reagir melhor com quem eles
conhecem e podem ser mais “tímidos” ou mesmo ficarem agitados com
desconhecidos, especialmente se foram numerosos. “A docilidade deles pode ser
um risco para os botos. Temos dois animais que foram gravemente feridos e
poderiam ter morrido, e são, justamente, alguns dos mais calmos e sociáveis”,
conta o pesquisador do BioMA.
botos1Animais dóceis são mais
feridos - Uma fêmea adulta foi cortada no “melão”, num local que é usado para
emissão de sons, que, por sua vez, são importantes para a localização dos
animais enquanto nadam. E um macho adulto foi amarrado com fio de náilon e
feriu gravemente seu bico ao tentar se soltar. “Ficamos uma semana cuidando do
animal, entre biólogos e veterinários, e ele se recuperou, mas poderia ter
morrido pela ferida ou de fome, já que não poderia se alimentar”, lembra.
“O turismo com botos é uma opção,
mas, se praticado, deve seguir normas para garantir o bem-estar das pessoas e
dos animais. E antes do turismo, é preciso resolver uma questão de saúde
pública: o lixo que é jogado nos locais onde ficam os botos, o qual pode feri-los. Além disso, essa aproximação
turística pode gerar tragédias piores do que as que já ocorreram: Temos
filhotes lá. Se alguém tenta tocar num filhote, pode machucá-lo, pois eles são
mais frágeis. E se a mãe reagir e ferir quem tentou tocar ou se aproximar do
filhote? Que tipo de ‘retaliação’ ela receberia da população ou do poder
público?” isso para citar algumas das questões que precisam ser consideradas.