O Centro de Recuperação e
Educação Nutricional (CREN) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
realizou uma pesquisa inédita no Brasil. 139 crianças, de 9 a 11 anos, com
excesso de peso, de escolas públicas de São Paulo, foram acompanhadas para a
avaliação do consumo de alimentos ultra processados e os efeitos desse consumo
na saúde das crianças.
O estudo, publicado no
periódico científico Appetite, avaliou os hábitos de consumo de três tipos de
alimentos: biscoito, embutidos e refrigerante, para investigar o diagnóstico de
dependência alimentar nas crianças pesquisadas. A conclusão foi que alimentos
ultra processados podem causar vício alimentar.
Alimentos ultra processados –
São alimentos que passaram por técnicas e processamentos com alta quantidade de
sal, açúcar, gorduras, realçadores de sabor e texturizantes. Estes alimentos
possuem um perfil nutricional danoso à saúde. Por serem hiper palatáveis, ou
seja, acentuam muito sua palatabilidade ou aceitação pelo paladar da maioria da
população, danificam os processos que sinalizam o apetite e a saciedade e
provocam o consumo excessivo e “desapercebido” de calorias, sal, açúcar, etc.
Dependência alimentar – Assim
como os fumantes tem muita dificuldade em parar de fumar, as crianças e
adolescentes habituados com esse tipo de alimentos também não conseguem,
facilmente, mudar a dieta. O vício alimentar está associado ao fato de que a
pessoa pode desenvolver padrões de comportamento descontrolados ao consumir
substâncias que causam prazer.
Não existem testes sanguíneos
disponíveis para diagnosticar a dependência alimentar. Assim como em outros
vícios, as conclusões são baseadas em sintomas comportamentais que aumentam o
isolamento social e a sensação de descontrole:
1 - Dificuldade para controlar
a alimentação;
2 - Comer em excesso;
3 - Sentimento de culpa por
continuar comendo;
4 - Ter desculpas ou
justificativas para comer em excesso;
5 - Tentar parar ou diminuir
quantidade de alimentos sem sucesso;
6 - Esconder de outras pessoas
o consumo e a quantidade dos alimentos.
A pesquisa constatou que as
crianças já apresentam alguns sintomas de dependência alimentar:
- 95% das crianças pesquisadas
apresentaram pelo menos um dos 6 sintomas de dependência alimentar citados
acima.
- 24% das crianças com excesso
de peso já apresentam comportamentos ligados à dependência em alimentos ultra
processados.
- 69% das crianças ficam tão
ansiosas para consumir alimentos ultra processados que deixam de praticar
outras atividades.
- 71% das crianças apresentam
quadro de abstinência quando não consomem alimentos ultra processados.
Peso - Nas últimas quatro
décadas, estima-se que o número de crianças e adolescentes de até 17 anos com
sobrepeso aumentou em 10 vezes no mundo – somente no Brasil, o Ministério da
Saúde aponta que a obesidade atinge 13% dos meninos e 10% das meninas nesta
faixa etária. De acordo com pesquisa da Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp), os alimentos que podem causar vício alimentar podem agravar esse
cenário de aumento de peso em crianças.
Segundo o INCA, a obesidade é
o 2º fator de risco para o câncer (depois do tabagismo) e está relacionado a 13
tipos da doença. Dos 600 mil casos novos que devem ser diagnosticados neste
ano, 15 mil tem relação com o excesso de peso. Isso acontece porque a obesidade
predispõe a ter fatores pré-inflamatórios na circulação sanguínea, que
desequilibram o crescimento celular. Além disso, o excesso de gordura aumenta a
produção de hormônios, potencializando o risco de desenvolver tumores.
Para a nutricionista
oncológica Kelly Oliveira, o vício é uma situação de saúde grave porque a
criança já perdeu o controle. “O consumo de alimentos ultra processados deve
ser evitado o máximo possível, sendo preferível alimentos in natura ou
minimamente processados”, explica. Ela lembra que a obesidade é hoje um dos
principais fatores de risco para diversos tipos de câncer e outras doenças.
Obesidade é fator de risco
para:
· Alguns tipos de câncer (incluindo
endométrio, mama, ovário, próstata, fígado, vesícula, rim e cólon).
· Doenças cardiovasculares
(principalmente infarto e derrame), que são as principais causas de morte, por
doença, no Brasil.
· Diabetes.
· Distúrbios musculoesqueléticos
(especialmente osteoartrites — uma doença degenerativa altamente debilitante
das articulações).
Perigos de cada alimento
Biscoito - Biscoitos em
excesso podem fazer mal à saúde por causa da grande quantidade de gordura
saturada e/ou gorduras trans. A gordura trans pode acarretar o aumento do LDL,
conhecido como colesterol ruim, e a diminuição do HDL, considerado o colesterol
bom. O desequilíbrio nas taxas de colesterol é fator de risco para o surgimento
de graves doenças cardiovasculares. Já a gordura saturada é grande responsável
pelo aumento da gordura visceral no corpo, que pode gerar o comprometimento do
funcionamento de glândulas endócrinas e órgãos viscerais e evoluir, dentre
outros problemas, para o surgimento de Diabetes tipo II.
Embutidos – Ricos em sódio,
gordura e nitratos. Aumentam o risco do desenvolvimento de hipertensão arterial
e de cânceres.
Refrigerante – Rico em açúcar,
favorece o risco do desenvolvimento da obesidade desde a infância e de cáries.
Possui altos teores de sódio e, aqueles à base de cola, excesso de fósforo
(ácido fosfórico). Podem diminuir o aproveitamento do mineral cálcio pelo
organismo e/ou proporcionar a perda de cálcio óssea.