Em 2018, Adrian Martins, com apenas 13
anos, descobriu a aplasia medular, uma doença que afeta a produção de células
sanguíneas. Sua mãe, Rosângela Souza, 45 anos, conta que não foi fácil receber
o diagnóstico. No primeiro momento, os médicos acreditavam que era uma
inflamação no ouvido, mas Adrian começou a sentir febre e fraqueza e foi
encaminhado para realizar diversos exames. A partir do mielograma, ele foi
diagnosticado e está em tratamento na Fundação Centro de Hemoterapia e
Hematologia do Pará (Hemopa), onde realiza exames todos os meses para
monitoramento e faz medicações para o estímulo de células.
Residente no município de Ananindeua, na
Região Metropolitana de Belém, o paciente está na fila de espera há dois anos
por um transplante de medula óssea, um tecido encontrado no interior dos ossos,
responsável por produzir glóbulos vermelhos, leucócitos e plaquetas. Três
doadores foram localizados, porém nenhum deles é brasileiro, o que complica
ainda mais a situação e aumenta o tempo de espera.
Para Rosângela Souza, a informação por
meio de campanhas pode conscientizar as pessoas. "Muitos acreditam que
podem ficar aleijados ou que, para serem doadores de medula, precisam morrer, o
que não é o caso, pois o procedimento é simples e rápido. Também acredito que
ser doador é algo que vem de dentro de nós. A população precisa ter mais
empatia pelo outro", disse a mãe de Adrian.
Doação de medula - A Semana de
Conscientização Sobre a Doação de Medula Óssea foi criada pela Associação
Brasileira de Linfoma e Leucemia, sendo realizada de 14 a 21 de dezembro. A
Semana visa lembrar à população sobre a necessidade da doação de medula óssea
para o tratamento de pacientes com cânceres e outras doenças do sangue. Segundo
dados divulgados pelo Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome),
na fase preliminar a chance de conseguir um doador compatível é de 88%, e no
final de toda a análise esse percentual é de 64%.
O aumento de doadores ao longo dos anos
se deu graças às campanhas e investimentos para mobilizar e sensibilizar a
população, promovidos pelo Ministério da Saúde e órgãos vinculados. O Pará é o
estado da Região Norte com maior número de doadores de medula óssea inscritos
no Redome, com 115.311 pessoas dispostas a ajudar a salvar vidas, enquanto 288
aguardam por uma doação compatível.
O Hospital Ophir Loyola é referência no
tratamento das doenças hematológicas malignas, mas o transplante de medula
óssea ainda não é realizado no norte do Brasil. Segundo o especialista em
Hematologia do HOL, João Saraiva, o doador é fundamental, por ser uma pessoa
saudável que doará a medula óssea para outra que está precisando, por causa da
doença ativa.
Transplantes - Existem dois tipos de
transplantes de medula óssea: autólogo e alogênico. O autólogo ocorre quando as
próprias células do paciente são removidas e armazenadas para posterior uso,
antes que a quimioterapia ou radioterapia de alta dose seja administrada.
Após a conclusão do processo, as
células-tronco armazenadas são devolvidas ao paciente por via intravenosa. O
transplante alogênico utiliza células de outro indivíduo, podendo ser
familiares ou demais. Esse tipo é aplicado para uma ampla gama de doenças,
principalmente as leucemias e alguns subgrupos de linfomas que já passaram pelo
processo autólogo, mas acabaram se manifestando novamente.
"O mais conhecido é o transplante
com o doador não aparentado, que depende do voluntário. Para isso, a pessoa faz
o cadastro no Redome até encontrar o receptor perfeito para realizar a doação.
Tanto os doadores voluntários como os pacientes que receberão o transplante
precisam de cadastros, o Redome para os doadores e o Rereme para os receptores.
O cadastro é feito pelo próprio médico. Neste momento, já acontecem as
primeiras tentativas de encontrar o doador compatível, em todo o Brasil",
explicou o hematologista João Saraiva.
Longa espera - Além de Adrian Martins,
há pacientes como Daniel Cavalcante, 25 anos, habitante do município de
Tomé-Açu, no nordeste paraense, que está há 22 anos no banco de espera, pois
descobriu com apenas três anos de idade ser portador de anemia falciforme, uma
doença hereditária (passa dos pais para os filhos) caracterizada por alteração
nos glóbulos vermelhos. A descoberta ocorreu após ele passar mal em casa. A mãe
o trouxe para Belém, onde Daniel realizou os exames e os primeiros procedimentos.
Desde então, a cada dois meses ele vem à capital fazer transfusão de sangue.
"Eu tenho esperança de que algum
dia irei conseguir fazer o transplante, pois quero realizar os meus sonhos. O
maior deles é ser locutor de rádio, pois devido à doença eu me sinto muito mal
e preciso sempre ter alguém do meu lado quando vou sair de casa, dificultando
muito a minha vida", contou.
Daniel também reitera que o doador é
indispensável, pois como não tem um familiar compatível, isso dificulta ainda
mais sua espera pelo procedimento. "Eu peço que as pessoas tenham mais
sensibilidade e que possam se informar mais sobre o transplante. Também é
importante divulgar informações para que as pessoas procurem os hemocentros de
suas cidades e doem sangue com frequência. Sempre tem alguém precisando nos
hospitais, como eu", acrescentou.
O popular tutano - A medula óssea é um
líquido gelatinoso do interior dos ossos, conhecido popularmente por
"tutano". Ela tem um papel fundamental no desenvolvimento das células
sanguíneas ao produzir leucócitos (glóbulos brancos), hemácias (glóbulos
vermelhos) e plaquetas.
Os leucócitos são os agentes mais
importantes do sistema de defesa do organismo, por protegerem o corpo das
infecções. Pelas hemácias, o oxigênio é transportado dos pulmões para todas as
células e o gás carbônico é levado das células para os pulmões, a fim de ser
expirado. As plaquetas compõem o sistema de coagulação do sangue.
Cadastros - O Redome é o banco de
informações do doador. Nele são encontrados nome, endereço, resultados de
testes e características genéticas dos cadastrados. A partir das informações de
destinatários que não possuem doadores próximos ou com parentesco, é possível
procurar o cadastro de pessoas compatíveis e, ao encontrar, esclarecer o
processo de doação.
Para ser um doador é preciso ter entre
18 e 55 anos, estar em bom estado geral de saúde e não ter doenças neoplásicas
(câncer), hematológicas (doenças do sangue) e do sistema imunológico. Caso
atenda a esses critérios, o voluntário deve comparecer ao Hemopa.