Música, artista e comida que mais gosta,
esporte favorito e time do coração, essas são algumas das informações que
ajudam a contar um pouco mais da história de cada paciente em tratamento em
hospitais públicos no Pará.
As informações ajudam a compor o
“Prontuário Afetivo”, ferramenta implantada em unidades de saúde no Hospital
Materno-Infantil de Barcarena (HMIB), no interior do Estado, no Regional do
Sudeste do Pará (HRSP), em Marabá, no Hospital Metropolitano de Urgência e
Emergência (HMUE), na Região Metropolitana de Belém, além do Hospital de
Campanha do Hangar, localizado na capital.
Os hospitais integram a rede pública do
Pará, sendo gerenciados pela entidade filantrópica Pró-Saúde, por meio de
contrato de gestão com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa).
O projeto piloto estava sendo testado
desde o início deste ano e, por conta dos resultados positivos, a ação foi
oficializada nos hospitais durante o mês de julho. A iniciativa, que
complementa as ações de humanização nas unidades hospitalares, busca, ainda,
amenizar o difícil período de internação, estabelecer vínculos, facilitar a comunicação
e fortalecer a autoestima dos pacientes.
“O projeto é simples e tem um grande
impacto para o paciente, principalmente para quem está sedado ou saindo de uma
sedação. Chamá-lo pelo apelido ou colocar uma música que a pessoa gosta
estimula áreas do cérebro e cria um ambiente de acolhimento”, ressaltou
Valdejane Barros, assistente social do Regional Público do Sudeste do Pará.
Internado há 35 dias no Hospital
Metropolitano, o paciente Evandro da Silva, de 37 anos, disse que ficou
surpreso com a ideia. “Estava deitado e ouvi dizerem meu nome e que ‘o nosso
leão ganhou’. Era o enfermeiro comemorando a vitória do meu time, o Remo”,
explicou o paciente.
No Hospital Materno-Infantil de
Barcarena o prontuário possui uma abordagem diferente: fortalecer o vínculo de
uma mãe com o filho internado na unidade. No prontuário são escritas as
primeiras percepções que as mães têm dos filhos, que podem passar meses em
tratamento ou ganhando peso na unidade.
Antônia Aurilene Leitão, mãe do pequeno
João Miguel, descreveu a experiência dela com o projeto. “João gosta de receber
carinho, foi minha primeira percepção. Coloquei o nome dos irmãos também para
lembrar que não estamos sós”, disse sorridente.
“Ele tem dois apelidos, um meu e outro
que a cidade deu. Lá, todos estão torcendo por ele. É tão bom receber esse
cuidado, o João foi acolhido e vai ter alta levando muito amor”, completou
Antônia.
Segundo Daniella Dias, psicóloga da
Pró-Saúde e com atuação no Materno-Infantil de Barcarena, o “Prontuário
Afetivo” beneficia tanto os pacientes como familiares e profissionais dos
hospitais.
“Nosso maior objetivo é aproximar ainda
mais os pacientes e a equipe multiprofissional, gerando um ambiente de
personalização do atendimento, trazendo memórias positivas, o que ajuda e muito
no tratamento”, completa a profissional.
Elizabeth Cabeça, responsável pelo setor
de Humanização do Hospital de Campanha do Hangar, também destaca a importância
do projeto. “O foco de todos os profissionais que estão aqui dentro é restaurar
a saúde desses pacientes. Entendemos que, nesse caminho, inserir a humanização
é o processo que está mais alinhado com o melhor tratamento, a fim de não
automatizar esse cuidado e preservar a sensibilidade”, afirma.