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Everton de Souza durante tratamento - foto Sidney Oliveira AG. PARÁ
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É possível reabilitar
portadores de paralisia cerebral através de um simples jogo de Videogame?. A
terapeuta ocupacional Ana Irene Alves de Oliveira garante que sim. Ela é
responsável em colocar em prática o tratamento conhecido como “Gameterapia”. “Temos
protocolos avaliativos, primeiramente antes do usuário se submeter a utilização
da “Gameterapia”, inclusive protocolos internacionais. Após essa intervenção
com o usuário, fazemos uma reavaliação. Por isso, notamos que eles têm uma
avaliação bem positiva sobre suas reações cognitivas e funções motoras”, atesta
Ana de Oliveira, que coordena o Núcleo de Desenvolvimento em Tecnologia
Assistiva e Acessibilidade (Nedeta), da Universidade do Estado do Pará (Uepa).
Segundo a terapeuta ocupacional, a avaliação é feita a cada quatro meses. Se o
paciente conseguir se desenvolver, ele passa por outras diversas etapas do
processo. Caso ele não apresente nenhuma melhora, será feito um replanejamento das
sessões terapêuticas, como por exemplo, troca de games e até de recursos.
Jogos para desenvolver
a capacidade
A “Gameterapia” começou a
ser usada no Estado há três anos, através de uma pesquisa feita por três alunos
da Uepa. “Resolvemos investir, adaptar para nossos pacientes e conseguimos
provar através de testes que o resultado estava aparecendo muito rápido”,
detalha Ana de Oliveira. O tratamento com a “Gameterapia”
é gratuito e atende atualmente cerca de 70 crianças e adolescentes,
desenvolvendo novas tecnologias de acessibilidade. Eles passam por uma
avaliação para se conhecer suas limitações, suas potencialidades e dificuldades,
e então saber o que eles podem desenvolver. Á partir daí é traçado um plano
terapêutico.
Os jogos de Video Game,
inclusos no tratamento, são variados e escolhidos após uma rigorosa avaliação dos
aplicativos de games das marcas Playstation, X Box e Nintendo. Os preferidos são
jogos de corrida, tênis, basquete, futebol e etc. “Escolhemos os jogos dependendo
da necessidade do que o usuário vai desenvolver, como por exemplo, a atenção, a
concentração, o raciocínio lógico, a sequência de pensamento”, afirma a
terapeuta.
Mãe vê avanços na
recuperação do filho
Everton de Souza, de 23
anos, é portador de paralisia cerebral. Ele faz tratamento no Nedeta. No início
ele não andava, não falava e muito menos conseguia jogar vídeo game. Após nove
anos de tratamento no Nedeta, Everton desenvolveu diversos avanços. “Até os 10
anos de idade, eu tinha que carregar meu filho no colo. Eu já não tinha mais
forças e não saía mais de casa com ele. Quando vejo meu filho caminhando na
praça, sorrindo e fazendo atividades normais, eu me emociono”, diz Rita de
Souza, mãe do rapaz, ao site da Uepa.
Roupa especial também
ajudam crianças com paralisia cerebral
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Taíssa Silva testando a roupa biocinética - Foto Rodolfo Oliveira AG. PARA |
Além da “Gameterapia”, o
Nedeta apresenta outros projetos que prometem ajudar no tratamento de crianças
e adolescentes com paralisia cerebral. “Desenvolvemos diversos aplicativos para
tablets e ajudar pessoas que não falam, não leem e não escrevem. Desenvolvemos
ainda mobiliários para escolas que possuem crianças com deficiência
neuromotoras. O nosso objetivo é melhorar a condição de funcionalidade desse
aluno e fazer sua inclusão escolar, social e melhorar a sua qualidade de vida”,
disse a terapeuta Ana de Oliveira.
Outro projeto que colhe
resultados positivos é a roupa biocinética, criada em 2013, pela própria
terapeuta ocupacional junto com uma de suas alunas. A roupa é feita de laicra e
anéis metálicos, que corrige a postura, dá firmeza e ajuda a executar
movimentos. Ela já era utilizada em outros países, mas foi adaptada para nossa
realidade. Atualmente, oito crianças no Pará utilizam a roupa biocinética como
tratamento.
Taíssa Silva, de 7 anos,
utiliza a roupa há nove meses. Em pouco tempo de tratamento, os movimentos
realizados por ela melhoraram consideravelmente. “Eu divido o tratamento da
minha filha em dois momentos: antes e depois de começar a usar a roupa. É
incrível como ela melhorou, como passou a ter mais postura e equilíbrio”, diz
Lucidéia da Silva, mãe de Taíssa.
As roupas são
confeccionadas por profissionais terapeutas ocupacionais do núcleo, em parceria
com uma malharia que se propôs a ajudar a causa. Após fazer o tratamento dentro
da unidade, as crianças podem levar a roupa para casa, para continuar o
tratamento.
Outras tecnologias
A terapeuta Ana de
Oliveira cita ainda outras tecnologias na reabilitação de pacientes, como o
VoxLaPS, um vocalizador para língua portuguesa que auxilia no tratamento de
pacientes com problemas ou limitações na linguagem oral. Há, ainda, o
aplicativo chamado “Desenvolve”, um software especial com características
adaptadas, com eixo principal de um sistema de escaneamento (varredura)
trabalhando com imagens, textos e sons para favorecer o trabalho com as
crianças com paralisia cerebral, possibilitando, assim, avaliar e desenvolver
as habilidades cognitivas dessas crianças que apresentam alterações
neuromotoras e sensoriais.
Ana de Oliveira ressalta
que esse trabalho só é possível graças a parceria com diversos órgãos, professores
da Universidade Federal do Pará e principalmente com o curso de Ciência da Computação,
do Cesupa. “A gente não tem esse curso aqui na Universidade do Estado. Então, o
curso de Terapia Ocupacional trabalha a perspectiva desse usuário, estuda a tecnologia
que vai ser utilizada e vamos buscar apoio com o pessoal da informática para desenvolver
dispositivos e aplicativos”, revela a professora Ana de Oliveira, que recebeu, em
2007, em Brasília, o Prêmio Direitos Humanos pela elaboração do Software
Desenvolve. O projeto do software, assim como outros produtos desenvolvidos
pelo Nedeta, foi financiado pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e
Pesquisas do Pará (Fapespa).
Serviço:
Núcleo de Desenvolvimento
em Tecnologia Assistiva e Acessibilidade (Nedeta)
Endereço: Travessa
Perebebuí, 2623 entre Avenida Almirante Barroso e 25 de Setembro, Bairro do
Marco - Telefone: [91] 3277 1909