Profissionais mostram consequências dos acidentes de motocicleta na saúde pública

Só em 2016, até o mês de setembro, mais de 2 mil atendimentos foram realizados a vítimas de acidentes com motocicleta no Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência, em Ananindeua (Região Metropolitana de Belém). No ano passado, o número de atendimentos foi superior a 3 mil. Diante dessas estatísticas, aumenta a preocupação dos gestores em saúde com ações de prevenção a acidentes de trânsito, sobretudo os que envolvem motos.

Um grupo de oito profissionais de saúde pública elaborou e apresentou um trabalho sobre os impactos favoráveis da redução desses acidentes para a rede assistencial e os cofres públicos, na conclusão do curso em Gestão de Emergência em Saúde Pública, promovido pelo Ministério da Saúde, Hospital Sírio-Libanês e Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa). Quatro profissionais do Hospital Metropolitano e funcionários da Sespa, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e Cruz Vermelha Brasileira integram o grupo, que debateu a estrutura da rede assistencial e o cuidado com as vítimas de trauma ortopédico resultante de acidente de moto.

Os profissionais concluíram que ações de conscientização tendem a reduzir drasticamente os gastos com esse tipo de paciente, desafogando a rede assistencial e possibilitando que os recursos sejam alocados para outras áreas.

Conscientização - Segundo o diretor geral do Hospital Metropolitano, Rogério Kuntz, integrante do grupo, é viável investir em prevenção para reverter as estatísticas atuais. Hoje, as vítimas de acidentes de moto representam 50% do volume de atendimento no Hospital Metropolitano. “Entendemos a questão principal da factibilidade: o que é factível para nós, enquanto gestores, executar. O que entendemos foi, basicamente, a questão da prevenção”, ressaltou Rogério Kuntz, acrescentando que a formação de gestores vai beneficiar a área de emergência na Região Metropolitana de Belém.

Para ele, a ênfase do trabalho de prevenção é a conscientização dos condutores e futuros condutores de moto. “Com ações focadas, principalmente em escolas, empresas e comunidades. É o trabalho extramuros, tentando reduzir os acidentes de moto e o número de pacientes com este perfil, diminuindo os custos do Estado e disponibilizando estes recursos para situações prementes”, frisou.

Em média, uma vítima de acidente de moto gera um custo de internação de aproximadamente R$ 7,2 mil. Na avaliação de Rogério Kuntz, considerando os últimos três anos, o impacto nas contas públicas foi significativo. “De acordo com os nossos estudos, só no Hospital Metropolitano houve um impacto de cerca de R$ 80 milhões nos cofres públicos com o tratamento destinado a vítimas de acidentes de moto”, informou.

Além do diretor geral, participaram do curso a diretora Assistencial do HMUE, Ivanete Prestes; o gerente de Enfermagem, Diego Pes, e o coordenador do Departamento de Ensino e Pesquisa, Leonardo Ramos.

Estratégias - Para Diego Pes, que gerencia uma área de atendimento de urgência e emergência, é necessário ampliar estratégias para amenizar esse problema de saúde pública. “Nós atuamos para salvar vidas, minimizando todos os riscos possíveis. Mas este tipo de acidente vem acometendo uma grande parte da população. Precisamos de um trabalho, em longo prazo, para abranger outras gerações, capacitando com enfoque imediato os profissionais que trabalham se deslocando com motocicleta, mas também incluindo no colégio matérias sobre prevenção de acidentes”, ressaltou o gerente de Enfermagem.

Leonardo Ramos enfatizou o problema socioeconômico gerado a partir da internação de uma vítima de acidente de trânsito. Além da assistência, é necessária a intervenção de fisioterapeutas para reabilitar o paciente, que se afasta da população economicamente ativa da sociedade.

Sobre o curso, Leonardo Ramos afirmou que o diálogo entre vários agentes de saúde pública produziu um trabalho vasto sobre o tema. “A metodologia agrega várias instituições dentro do mesmo curso, possibilitando que saíssemos da realidade do hospital para encontrar outras instituições voltadas à rede de saúde da Região Metropolitana”, informou.

Paulo Czrnhak, diretor Operacional da Pró-Saúde no Pará, instituição responsável pela gestão do HUME, participou da apresentação do trabalho de conclusão do curso, na Escola de Enfermagem da Universidade do Estado do Pará (Uepa), e disse que a área de urgência e emergência existe para salvar vidas, mas requer a “humanização com os pacientes”.


O Hospital Metropolitano oferece atendimento de média e alta complexidade, nas áreas de traumatologia e queimados. É administrado pela Pró-Saúde Associação Beneficente de Assistência Social e Hospitalar, sob contrato de gestão com a Sespa.