Mais renda, menos impacto no meio
ambiente e valorização dos conhecimentos culturais. Esses são os pontos que
rodeiam a produção de Encauchados de Vegetais da Amazônia, no Norte do país. As
folhas, sandálias e bolsas, entre outros produtos oriundos da extração do
látex, têm presença confirmada na Biofach América Latina. A feira acontece
entre os dias 7 e 10 de julho, no pavilhão da Bienal do Ibirapuera, em São
Paulo.
Encauchados de Vegetais da
Amazônia é o nome da borracha natural produzida em seringais nativos por
comunidades indígenas e tradicionais da Amazônia. O trabalho na região foi
resgatado a partir de uma pesquisa do professor Samanek que constatou que as
indústrias não estavam pagando um valor justo para os produtores que forneciam
o látex. O Polo de Proteção da Biodiversidade e Uso Sustentável dos Recursos Naturais
(Poloprobio) decidiu, então, se unir às comunidades locais e usar o látex para
gerar renda e resgatar práticas culturais nas comunidades, com a produção de
artesanatos.
A artesã Maria Damasceno,
representante do Poloprobio na Biofach, está no projeto há 14 anos e desde
então tem visto a borracha mudar a vida dos produtores da região. “Quando eu
cheguei, eles falavam que estavam há mais de 30 anos sem cortar a seringa,
porque ninguém comprava e não tinha valor. Eles chegavam a vender o litro do látex
por R$ 1,15”. Hoje, com um litro de látex, eles produzem até quatro peças que
são vendidas, em média, por R$ 40.
A produção envolve cerca de 3.500
famílias do Pará, Acre, Amazonas e Rondônia. O projeto trouxe benefícios para o
bolso dos produtores e fortaleceu a comunidade. “O trabalho envolve a família
inteira. Antes, o seringueiro coletava a borracha para vender nas indústrias
sozinho. Agora ele coleta, aquece o látex e leva para trabalhar com toda a
família. A gente estende a atividade para o filho, o genro, a nora”, afirma
Maria.
Esse conhecimento passado de
geração em geração tem tido um papel fundamental no bom andamento dos negócios
em volta do látex. A inciativa conta com as mãos de índios, quilombolas,
ribeirinhos e demais produtores. Maria explica que o projeto busca aproveitar e
valorizar o conhecimento cultural, a força de vontade e o trabalho espetacular
que os povos tradicionais oferecem. Os índios, por exemplo, fazem um show na
hora de decorar as peças. “A gente vai se encaixando naquilo que eles preferem
fazer. Os índios pegam as peças e simplesmente começam a pintar. Isso enriquece
o trabalho e todos querem se envolver, pondo sua arte no material”, ressalta a
artesã.
Outra questão fundamental é a
preocupação do produtor com o seu principal objeto de trabalho: a natureza.
Segundo a artesã, o projeto usou do conhecimento prévio dos seringueiros para
extrair o látex sem agredir o meio ambiente e sem derrubar árvores. “Tem
seringueira que tem mais de 100 anos e seringueiro que trabalha com uma mesma
árvore desde criança. Eles mesmos falam que aquela árvore sustentou ele e hoje
sustenta os netos. Eles sabem que a natureza é a fonte de renda deles”, relata
Maria Damasceno.