Dois cientistas e um astronauta americano encerram (26/9), no
Amazonas, uma aventura de mais de mil quilômetros sobre bicicletas pela rodovia
Transamazônica, que cruza a Amazônia de leste a oeste.
Osvaldo Stella e Paulo Moutinho,
pesquisadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), e Chris
Cassidy, chefe dos astronautas da NASA, a agência espacial americana, percorreram
o trajeto em 16 dias entre Itaituba (PA) e Humaitá (AM) e testemunharam as
belezas da floresta – mas também desmatamentos, queimadas e garimpos ilegais,
além das dificuldades daqueles que vivem ao longo da estrada.
A aventura recebeu o nome de Transamazônica
+25, pois aconteceu 25 anos depois de Stella percorrer a estrada pela primeira
vez em uma bicicleta. “Na época, eu estava impactado pela ECO-92, encontro no
Rio que marcou as discussões globais sobre desenvolvimento sustentável, ele
queria ver de perto o que era a Amazônia. Aquela viagem marcou minha vida e
direcionou minha carreira”, diz.
Para Cassidy, esta foi uma
oportunidade única de ver em outra perspectiva a Amazônia que poucos conhecem:
a vista do espaço. “Na estação espacial, quando olhamos a Terra, a Amazônia
aparece como uma grande mancha verde. Mas ela parece diminuir.”
Destruição
Ao longo da aventura, os três
ciclistas observaram a fragilidade da floresta e como os recursos naturais são
rapidamente impactados pela ação humana quando não há planejamento adequado
para sua ocupação.
Quando a vegetação estava
preservada, como em unidades de conservação e terras indígenas, o clima era
mais ameno e a água, mais pura. Essa situação era rapidamente modificada em
regiões onde o garimpo ilegal ou a pecuária extensiva haviam derrubado as
árvores perto da estrada.
“O primeiro impacto é sobre a
qualidade da água, que fica contaminada pelos produtos usados no garimpo, pela
erosão dos solos ou pelos dejetos do gado. A própria população local sente a
falta do recurso, e precisa cavar poços para buscar o que antes tinha no rio ao
lado”, conta Moutinho.
Outra cena que os impactou foram
as queimadas. Em certos trechos do caminho, a fumaça não se dissipava, tornando
o céu permanentemente branco. Até uma castanheira, espécie protegida por lei,
foi vista em chamas. O que os três ciclistas observaram e registraram no chão é
o que os cientistas têm registrado com a ajuda de satélites: os incêndios
florestais estão piores do que no ano passado.
Solidariedade
Se por um lado a ação antrópica
desmatou e impactou a floresta, os aventureiros contaram com a ajuda dos
moradores e dos trabalhadores que vivem à margem da rodovia. Garimpeiros,
motoristas e pequenos comunitários foram fundamentais para fornecer água e
abrigo durante o trajeto. “Tirando uma noite, quando fomos expulsos de um
garimpo pelo segurança local e tivemos de pedalar 10 quilômetros no escuro,
sempre fomos bem recebidos”, diz Moutinho. “Essas são pessoas esquecidas pelo
poder público, envelhecidas pelo trabalho árduo mas que perduram com grande
tenacidade.”
A Transamazônica por si só também
foi um desafio: em todo o trecho percorrido ela não tem asfalto e, com a seca,
a poeira era companheira constante dos ciclistas, dificultando que fossem vistos
e tivessem uma boa visão do caminho. Eles viram motoristas consertando estradas
com as próprias mãos, ou não poderiam seguir viagem.
Os ciclistas registraram todo o
percurso em vídeo e fotos, que estarão à disposição do público no site
http://transamazonica25.org/pb, no Instagram (instagram.com/transamazon25), no
Twitter (twitter.com/TransAmazon25) e no Facebook
(www.facebook.com/transamazon25) – onde alguns registros, enviados durante a
viagem, já podem ser vistos.
