A Leitura que Liberta. Como o próprio
nome diz, o projeto possibilita aos internos privados de liberdade reduzir a
pena e aumentar as chances de um futuro melhor por meio da leitura.
Desenvolvido pela Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe)
em parceria com a Secretaria de Estado de Educação (Seduc) e a Defensoria
Pública do Estado, o projeto foi criado em 2015 e já beneficiou mais de 200
pessoas.
Ao participar do projeto cada interno
faz a leitura de uma obra literária, previamente selecionada, e tem até trinta
dias para produzir um relatório de leitura, para aqueles que possuem até o
Ensino Médio completo, ou uma resenha, para aqueles com nível superior. Todas
as produções textuais são avaliadas por meio de notas de 0 a 10, sendo aprovado
o leitor que atingir nota igual ou superior a cinco. Alcançando a nota mínima,
um atestado de desempenho é encaminhado ao juiz que concede ou não a remissão
de quatro dias da pena.
O projeto é realizado em quatro unidades
penitenciárias localizadas na região metropolitana de Belém e está em processo
de extensão para outros munícipios, como Castanhal e Altamira. De agosto de
2016 a setembro deste ano, 296 textos foram produzidos. Os participantes são
acompanhados por professores de língua portuguesa, história, sociologia e
literatura, entre outras disciplinas. Durante os 30 dias, cada leitor deverá
estar presente em no mínimo 50% dos encontros realizados para o acompanhamento
da elaboração dos textos.
Elzemam Ledo entrou no projeto com a
única pretensão de fazer uma atividade que lhe ajudasse a esquecer que estava
presa. Mas o projeto a presenteou com muito mais. Com a leitura, a interna
custodiada no Centro de Recuperação Feminino (CRF) de Ananindeua encontrou no
projeto uma maneira de libertar a mente e alimentar as esperanças de uma vida
nova.
“Eu procurei fazer algo que me fizesse
esquecer que estava aqui, algo diferente. Antes eu lia um livro em um ano, hoje
eu leio um livro por mês. Sou uma das internas aprovadas no Enem (Exame
Nacional do Ensino Médio) e a leitura me ajudou muito a tirar uma boa nota na
redação. Eu nunca tive vontade de cursar uma faculdade, mas depois do projeto
tudo mudou, e hoje posso comemorar a minha aprovação no curso de Direito. Uma
vez me falaram que se nos derem limão, devemos fazer uma limonada, e é pensando
nisso eu procuro fazer tudo de bom que tem dentro da casa penal”, relatou
Elzemam, custodiada há dois anos e dois meses no CRF.
Defensora Pública do Estado e mentora do
projeto, Anna Izabel Santos afirma que os resultados positivos dessa iniciativa
já podem ser observados. “O que a Susipe vem fazendo junto à Defensoria Pública
e à Seduc é tentar diminuir as mazelas no cárcere e melhorar o nível
educacional dos apenados. E isto está sendo alcançado, visto que vários deles
melhoraram a leitura, a escrita, e muitos já estão cursando uma faculdade”,
avaliou.
De acordo com o Superintendente do
Sistema Penitenciário do Estado, Coronel Rosinaldo Conceição, a Susipe vem
buscando incansavelmente parcerias, atividades e iniciativas que proporcione ao
preso uma nova perspectiva de vida. “Hoje a Susipe tem buscado esforços para
melhorar o sistema penal e parcerias como esta são importantíssimas, pois se
conseguirmos fazer com que uma pessoa perceba que o mundo do crime não traz
coisa boa pra ninguém já é uma vitória”, pontuou.
Além da produção textual feita pelos
detentos, por meio do projeto já foram realizados o I Encontro Paraense de
Remição da Pena pela Leitura, em agosto de 2016; a publicação do jornal “Os
Canários”, em abril deste ano, e da I Coletânea dos leitores do projeto. O
próximo evento será um Sarau Cultural denominado “Flores, Sabores e Belezas do
meu Jardim”, que será realizado no dia 20 de outubro, no Centro de Recuperação
Feminino (CRF) de Ananindeua.
“A Leitura que Liberta é um projeto que
vem mudando a vida de pessoas por meio da leitura, despertando nelas um novo
olhar para a vida. Nossa meta é levar essa experiência a mais casas penais,
começando com aquelas beneficiadas por outro projeto, o 'Arca da Leitura', que
estimula os presos a ocuparem o tempo antes ocioso com leituras”, finalizou o
diretor de Reinserção Social da Susipe, Ivaldo Capeloni.