Mais de 1,4 mil detentos realizam prova do Encceja no Pará



No Pará, 1.485 custodiados pela Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe) realizam nesta terça-feira (19) e na quarta (20) as provas do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja). De acordo com dados da Agência Brasil, 63,7 mil presos estão inscritos para o exame em todo o País.

O Encceja tem a finalidade de garantir o diploma do ensino fundamental e/ou médio para jovens e adultos que não tiveram oportunidade de concluir os estudos na idade apropriada. Detentos realizam o exame em 43 unidades da Susipe, localizadas na capital e no interior. O Encceja também contempla jovens que cumprem medidas socioeducativas.

A primeira prova, realizada nesta terça-feira, foi direcionada para quem busca a certificação do ensino fundamental. Segundo dados do “Susipe em Números”, até novembro deste ano, dos 17.310 custodiados pelo Estado, 9.231 possuíam apenas o nível fundamental incompleto, o equivalente a 53,33% da população carcerária do Estado.

Os candidatos responderam pela manhã, das 8 às 12 h, a questões de ciências naturais, história e geografia. À tarde, das 14 às 19 h, foram aplicadas as provas de língua portuguesa, língua estrangeira (inglês ou espanhol), artes, educação física e redação. Os detentos fazem a prova na própria unidade prisional.

Redação - Neste ano, a primeira prova exigiu mais dos candidatos, e trouxe como tema da redação a situação dos trabalhadores autônomos. David Araújo Nóvoa, 32 anos, custodiado no Centro de Progressão Penitenciário de Belém (CPPB) se preparou durante todo o ano para o exame. A motivação foi mostrar que somente com o estudo é possível progredir na vida.

“Às vezes eu tenho vergonha de andar com a farda da minha escola, que vem escrito ensino fundamental. Pra mim, que tenho uma filha de 12 anos, é mais vergonhoso ainda. Mas sei que é necessário pra mostrar a ela que tem que estudar pra progredir na vida”, contou.

Em relação à prova, o interno disse que sentiu dificuldade nas questões de matemática. Já na redação, o detento utilizou o conhecimento adquirido quando estava em liberdade. “Eu morava perto da feira da 8 de Maio, em Icoaraci (distrito de Belém), e lá eu via as dificuldades de algumas pessoas que queriam trabalhar certinho, mas não tinham condições de se legalizar; tinha outros que nem conseguiam. Então, resolvi falar sobre isso”, disse David Nóvoa.

Qualificação - Os candidatos que alcançarem no mínimo cinco pontos na redação e 100 pontos nas disciplinas comuns serão aprovados. Com o diploma em mãos, ainda na condição de internos do sistema penitenciário, os detentos poderão aumentar os conhecimentos ao buscar qualificação em cursos técnicos ofertados pelo “Sistema S” - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), entre outras instituições parceiras da Susipe.

Na quarta-feira (20) farão a prova os detentos que buscam a certificação do ensino médio. Os detentos também farão provas pela manhã (das 8 às 12 h) nas disciplinas de ciências da natureza e suas tecnologias, e ciências humanas e suas tecnologias. À tarde (das 14 às 19 h) serão realizadas as provas de língua e códigos e suas tecnologias, e a redação.

Admilson Liberato da Luz, 41 anos, custodiado na Central de Triagem Metropolitana II, em Ananindeua (na Região Metropolitana de Belém), parou de estudar no 1º ano do ensino médio, e agora busca com a prova retomar os estudos.

Mesmo trabalhando como eletricista, Admilson sentiu a falta do certificado. “Surgiu uma oportunidade de trabalho muito boa pra mim, mas eles pediam o ensino médio e eu não tinha. Então, tive que continuar trabalhando muito e ganhando pouco. Agora, eu já quero ter o certificado do ensino médio, já pensando em fazer um curso superior de engenharia elétrica. Nunca é tarde para buscar o que realmente queremos”, afirmou.


A coordenadora de Educação Prisional da Susipe, Aline Mesquita, disse que “a preparação para as avaliações são contínuas, a fim de proporcionar aos internos uma progressão no estudo e para a vida dentro e fora do cárcere. A nossa expectativa é a melhor possível, pois sabemos que quanto maior o nível de escolaridade do interno, maiores as chances de ressocialização”. Em 2014, realizaram o Encceja no Pará 650 detentos.