Os participantes foram divididos em três
grupos: confinados da exposição solar por 24h, expostos a doses baixas de sol
(10-15 min que não chegam deixar a pele avermelhada) com e sem fotoprotetor
tópico (FPS 30). Os seus níveis de vitamina D no sangue foram medidos na manhã
antes da exposição solar e também na manhã seguinte, permitindo o cálculo da
variação desses níveis, no intervalo de 24h.
A pesquisa revelou que a variação dos
níveis plasmáticos de vitamina D foi maior
para o grupo exposto com filtro solar do que para o grupo confinado,
mostrando que ocorreu síntese efetiva de vitamina D após breve exposição ao
sol, mesmo com filtro solar.
“A diferença da variação dos níveis
plasmáticos de vitamina D entre o grupo exposto com filtro solar e o grupo
exposto sem o filtro não atingiu diferença significativa, indicando que não
houve diferença substancial entre a exposição solar leve com e sem filtro
solar”, explica Hélio Miot.
O médico salienta que a síntese de
vitamina D depende de doses muito baixas de UVB em pequenas áreas do corpo. A
radiação atinge a pele através do vestuário leve e couro cabeludo, áreas que
não são completamente cobertas pelo filtro solar.
Entre outras informações decorrentes do
estudo realizado pela SBD estão:
- O uso regular de filtro solar nas
áreas diretamente expostas ao sol para prevenção ao câncer da pele, queimaduras
e fotoenvelhecimento tem sido criticado por alguns profissionais como
importante causa da hipovitaminose D na população devido à redução de sua
síntese cutânea, culpando o dermatologista e sua recomendação do uso de filtro
solar. Até o momento, nenhum estudo havia sido conduzido para avaliar e
subsidiar recomendações de uso de filtro solar, especialmente, em populações de
risco para hipovitaminose D.
- A vitamina D é um importante hormônio
produzido a partir da ingesta nutricional, e, principalmente (90%) pela pele, a
partir da exposição leve à radiação UVB. Desempenha importantes funções no
organismo, principalmente no metabolismo ósseo, imunidade e resistência à
insulina. Diversas condições clínicas e de hábitos interferem nos níveis de
vitamina D, como dietas restritivas, cirurgia bariátrica, obesidade,
hepatopatia, nefropatia, idosos, acamados, indivíduos que não se expõem
diretamente ao sol, sedentarismo, diabetes mellitus, entre outras.
- Significativa fração da população
mundial apresenta níveis plasmáticos de vitamina D insuficientes e até
deficientes. Isso tem originado políticas de suplementação da indústria
alimentar (por exemplo, laticínios, sucos industrializados), ou mesmo
suplementação oral em populações de risco (por exemplo, idosos).
- Os resultados do experimento subsidiam
a manutenção da indicação da fotoproteção regular frente à exposição moderada
ao sol e confirmam que a exposição solar mais segura para a pele deva ocorrer
fora dos horários de pico do UVB (10h-16h), sob vestuário adequado, sem risco
de vermelhidão (o que degrada a vitamina D da pele) e sem compromisso da
síntese de vitamina D.
- A atual epidemia de hipovitaminose D
deve decorrer da ingesta insuficiente e, principalmente, dos hábitos de lazer e
de trabalho em ambientes abrigados da proteção solar, característicos da
sociedade moderna que não se expõe ao sol no seu cotidiano. Isso não depende do
uso de filtro solar. Ademais, há
elementos ligados ao indivíduo, como a espessura da pele exposta (reduzida em
idosos), má-absorção do intestino (como ocorre em pacientes que fizeram
cirurgia bariátrica), medicamentos de uso regular, obesidade, sedentarismo, e
variações nos receptores de vitamina D nos tecidos, que interferem com a
síntese e disponibilidade de vitamina D.