Quem vê o menino R.G.L, 10 anos, ao
realizar movimentos sincronizados com o videogame, não imagina que ele está de
pé após meses de reabilitação sob a supervisão dos profissionais do Hospital
Metropolitano de Urgência e Emergência (HMUE), em Ananindeua (PA). O garoto
fraturou o fêmur em janeiro deste ano, após cair de um cavalo na zona rural de
Santa Maria, município do nordeste paraense.
Passado o período inicial de internação,
R. retorna mensalmente com a mãe Bruna Rafaela Garcia Lima ao ambulatório da
unidade para o acompanhamento periódico. Uma das surpresas deste paciente em um
dos retornos foi quando passou por sessões de gameterapia, uma modalidade que
alia a fisioterapia ao uso de videogames com sensor de movimento no tratamento
de pacientes vítimas de traumas ortopédicos.
Originada no Canadá, nos meados do ano
de 2006, a proposta da gameterapia usa o videogame como suporte para
reabilitação de pacientes. A partir do sucesso da experiência canadense, a
técnica se espalhou pelo mundo, incluindo o Brasil. Com boa aceitação entre
profissionais e pacientes, a gameterapia ajuda a humanizar um tratamento, que
dependendo do tipo de fratura, é doloroso e exaustivo.
Implantada há mais de um mês, a gameterapia
foi iniciada nos pacientes infantis da Clínica Pediátrica do HMUE. Desde então
mais de 50 usuários já foram beneficiados pela modalidade, que completa o
tratamento de reabilitação tradicional oferecido na unidade gerenciada pela
Pró-Saúde Associação Beneficente de Assistência Social e Hospitalar. Nas
próximas semanas, a terapia será estendida para adultos internados na unidade.
O fisioterapeuta Vinicius Machado
explica que o método traz dinamismo à recuperação dos pacientes. No caso do
menino R., o profissional aponta que condições básicas como o andar tiveram
melhora. “O paciente ficava mais tempo deitado e hoje consegue andar melhor,
não tem déficit de equilíbrio. Com a gameterapia conseguimos melhores respostas
no tratamento”, conta.
R. se mostrou bastante receptivo à
atividade com videogame, especialmente por este ser um recurso com o qual ele
não conta em casa. O menino segue à risca as instruções do fisioterapeuta e da
terapeuta ocupacional Sheila Gonçalves. “Não consigo movimentar tanto a minha
perna, mas quando jogo fica melhor. É mais legal que fazer o exercício na
cama”, conta enquanto encarava mais uma partida no console com sensor de
movimento.
Sheila Gonçalves enfatiza a função
complementar da gameterapia no tratamento tradicional e ressalta o interesse
que o videogame causa ao público infantil. “A realidade virtual desperta o
interesse das crianças. Mesmo aquelas que estão acamadas, restritas ao leito e,
que não têm indicação para a gameterapia, arregalam os olhos, colocam o pescocinho
para fora da cama para ver o que está acontecendo”, acrescenta.
O tipo de jogo a ser indicado na
modalidade depende da necessidade do paciente. “O mesmo jogo pode ser adaptado
para diversos pacientes. Às vezes, ele serve para quem tem limitação no membro
superior, assim como pode servir para alguém que com limitações nos membros
inferiores. Adaptamos de acordo com a necessidade do usuário”, explica Sheila.
As limitações também não são um
impedimento para que o paciente tenha acesso ao equipamento de gameterapia, o
console de videogame de última geração com sensor de movimento fica em um móvel
com rodinhas.
Desta forma, o aparelho e os jogos podem
ser levados para qualquer local da unidade, fazendo com que as atividades sejam
desenvolvidas nas enfermarias ou em áreas comuns como a brinquedoteca e hall
das clínicas de internação.
Apesar do apelo que o uso da realidade
virtual possui, o fisioterapeuta Vinicius Machado faz questão de reforçar que a
atividade complementa a terapia convencional, não ficando restrita ao ato de
jogar. “Temos que ter em mente que não são só crianças ou adultos jogando
enquanto estão hospitalizados. A gameterapia completa a terapia convencional já
utilizada na unidade. Não é só videogame”, destaca.
Experiência positiva
Além do HMUE, o Hospital Público
Estadual Galileu (HPEG), em Belém (PA), utiliza a gameterapia na reabilitação
de pacientes vítimas de trauma ortopédicos. Na unidade, que também é gerenciada
pela Pró-Saúde, o trabalho foi iniciado em 2015.