A World Allergy Organization (WAO)
realizará a Semana Mundial de Alergia, entre os dias 07 e 13 de abril. Com o
objetivo de conscientizar sobre diagnóstico, tratamento e prevenção das
diversas formas de alergias, a iniciativa é organizada no Brasil pela
Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI). O tema central deste ano
é "Alergia Alimentar: Um Problema Global".
No Brasil, não há estatísticas oficiais,
porém, a prevalência parece se assemelhar à literatura internacional, que
mostra cerca de 8% das crianças com até dois anos de idade e 2% dos adultos
sofrendo algum tipo de alergia alimentar.
Mais de 170 alimentos são considerados
potencialmente alergênicos, apesar de uma pequena parcela deles ser responsável
por um maior número de reações: leite, ovo, soja, trigo, amendoim, castanhas,
peixes e frutos do mar.
A Dra. Renata Cocco, Coordenadora do
Departamento Científico de Alergia Alimentar da ASBAI, explica abaixo quais os
sintomas, diagnóstico, tratamento e os mitos que rodeiam o leite.
O que é alergia alimentar - É uma
resposta exagerada do organismo a determinadas proteínas presentes nos
alimentos. Envolve um mecanismo imunológico e tem apresentação clínica muito
variável, com sintomas que podem surgir na pele, sistema gastrointestinal,
respiratório e/ou cardiovascular. As reações podem ser leves, com simples
coceira nos lábios, até mais graves, incluindo comprometimento de vários órgãos
e potencial risco de óbito.
Considerada um problema de saúde
pública, a alergia alimentar está aumentando em todo o mundo. Apesar de poder
se manifestar em qualquer época da vida, o quadro geralmente se inicia na
infância. Dependendo do alimento e mecanismo envolvidos, a alergiapode se
resolver até a adolescência ou persistir por toda a vida.
De acordo com o alergista e presidente
regional da ASBAI Pará, Bruno Paes Barreto, não existe um fator isolado
relacionado ao problema. Acredita-se que uma série de aspectos levam aos
desequilíbrios imunológicos com maior predisposição para o desenvolvimento
deste tipo de alergia. Como, por exemplo, o aumento no número de partos
cesarianos, levando a um desequilíbrio na microbiota intestinal do
recém-nascido, que gera um desbalanço imunológico que pode favorecer as AA.
Sintomas de alergia alimentar - Pelo
menos um dos sintomas citados abaixo deve ser apresentado pelo paciente para se
desconfiar de uma alergia alimentar:
- Reações cutâneas (vermelhidão na pele,
coceira, urticária com ou sem inchaço de olhos, boca, orelhas etc.)
- Reações gastrointestinais orais
(coceira nos lábios e céu da boca, inchaço de língua ou de lábios,) e
gastrointestinais baixas (dor abdominal, diarreia com ou sem presença de sangue
nas fezes, vômitos, refluxo exacerbado)
- Reações nas vias aéreas (congestão
nasal, coceira, espirros, tosse, falta de ar, chiado no peito que se iniciam de
forma abrupta)
- Reações cardiovasculares (aumento da
frequência cardíaca, queda da pressão arterial, tontura, desmaios ou até mesmo
perda de consciência)
Diagnóstico - Somente o médico pode
realizar o diagnóstico preciso da alergia alimentar. É importante que este
profissional se especialize em Alergia e Imunologia para estar preparado, uma
vez que os sintomas da alergia alimentar podem se manifestar em outras doenças,
ocasionando um diagnóstico equivocado. O diagnóstico preciso da alergia
alimentar deve seguir quatro pilares:
01- História clínica: deve ser muito bem
avaliada por um médico experiente.
02- Exames laboratoriais: também
precisam ser muito bem interpretados, pois nem sempre um exame de IgE positivo
indica que o paciente seja alérgico. Exames que avaliam a presença de IgG a
alimentos não possuem qualquer relevância clínica e não devem ser recomendados
na investigação de qualquer tipo de alergia alimentar.
03- Dieta de restrição: consiste em
retirar o alimento, avaliar a melhora e expor o paciente novamente ao alimento,
para assim ter a certeza de que existe a relação de causa e efeito.
04- Teste de provocação oral: é o que
realmente estabelece o diagnóstico. Consiste na oferta do alimento ao paciente,
em doses regulares, crescentes, sempre sob supervisão médica. Deve ser
realizado em ambiente apropriado - clínica, hospital ou até mesmo dentro da UTI
-, dependendo da necessidade que o médico julgar. Nunca deve ser feito em casa
se o médico não orientar, pois coloca em risco a vida do paciente.
Alergia x Intolerância - São doenças
diferentes, porém muito confundidas. A lactose é um tipo de açúcar encontrado
no leite e não é desencadeador de alergias, mas sim de intolerância, por isso
não se deve utilizar o termo ´alergia à lactose´. Os sintomas da intolerância à
lactose são dores abdominais, diarreia, flatulência (gases) e abdômen
distendido. O paciente pode ingerir alimentos que contenham proteínas do leite,
mas com quantidades reduzidas da lactose, e permanecerá com a intolerância até
o final da vida. A especialidade que trata da intolerância à lactose é a
Gastroenterologia.
Já a alergia ao leite é desencadeada por
proteínas, principalmente as caseínas, alfa-lactoalbumina e
beta-lactoglobulina. Os sintomas podem ser vários, como placas vermelhas pelo
corpo, coceira, inchaço dos lábios e olhos, vômitos em jato e/ou diarreia e até
anafilaxia, considerada a reação mais grave.
Mitos sobre o leite de vaca e as
alergias
Autismo - Os mitos em torno da alergia
ao leite de vaca são muitos; entre eles, estão os distúrbios de comportamento,
incluindo o autismo. Não existe comprovação científica de que o leite de vaca
cause autismo.
Secreção nasal - Não pode ser
relacionada à alergia à proteína do leite de vaca se for o único sintoma
referido.
Asma e rinite - É preciso haver outros
sintomas associados - como dermatológicos e gastrointestinais - para relacionar
sintomas respiratórios à APLV.
Outras doenças: Infecções recorrentes
como otites e urticária crônica seguem a mesma orientação: dificilmente estão
relacionadas a alergias alimentares.
É preciso conhecer as reais
manifestações clínicas para um diagnóstico correto. A restrição desnecessária,
seja do leite ou de qualquer outro alimento pode causar prejuízos nutricionais,
principalmente em crianças. Só o especialista em Alergia e Imunologia pode
fazer o diagnóstico preciso.
Anafilaxia - é a reação alérgica mais
grave e pode ser fatal, caso a pessoa não seja imediatamente tratada com
adrenalina. Vários fatores podem desencadear uma crise de anafilaxia, entre
eles, a alergia alimentar.
Os sintomas da anafilaxia são urticária
gigante, geralmente acompanhada de angioedema (inchaço), comprometimento
respiratório (como falta de ar, chegando à insuficiência respiratória),
sintomas gastrointestinais (cólicas, vômitos e diarreia agudos) e
comprometimento cardiocirculatório, com hipotensão e choque, sendo que, em
questão de minutos, o paciente pode evoluir para morte. Na vigência de dois ou
mais sintomas ou da queda de pressão arterial isolada, o paciente já deve ser
tratado como anafilático.
Prevenção - O médico alergista, Bruno
Paes Barreto, ainda ressalta a importância do aleitamento materno exclusivo até
o sexto mês de vida dos bebês para prevenir futuras alergias alimentares.
"O leite passa anticorpos protetores para a criança e retarda introdução de outros alimentos precocemente.
Por exemplo, se uma mãe deixa de amamentar vai ter que dar uma fórmula
substitutiva que é oriunda da proteína do leite de vaca, a qual pode provocar
sensibilização, levando aos sintomas", explica.
Sobre a ASBAI
A Associação Brasileira de Alergia e
Imunologia existe desde 1972. É uma associação sem finalidade lucrativa, de
caráter científico, cuja missão é promover a educação médica continuada e a
difusão de conhecimentos na área de Alergia e Imunologia, fortalecer o
exercício profissional com excelência da especialidade de Alergia e Imunologia
nas esferas pública e privada e divulgar para a sociedade a importância da
prevenção e tratamento de doenças alérgicas e imunodeficiências. Atualmente, a
ASBAI tem representações regionais em 21 estados brasileiros.