O gênero Dipteryx (cumaru) abriga nove
espécies, das quais quatro podem ser encontradas na Amazônia. No estado do Pará
foram relatadas três espécies: Dipteryx odorata, Dipteryx magnifica e Dipteryx
punctata. Os cumaruzeiros podem ser utilizados para exploração de madeira,
recuperação de áreas degradadas, obtenção de cumarina das sementes para a
indústria de perfumaria, como fixadora de essências, e atualmente, na
culinária. As sementes têm aroma e sabor fortes que lembram a baunilha.
Chegar ao final de quatro anos de muitos
estudos e identificar substâncias que apresentem potencialidades para uso no
controle alternativo de doenças em plantas é o objetivo da bióloga e doutoranda
do Programa de Pós-graduação em Sociedade, Natureza e Desenvolvimento (PPGSND)
da Ufopa, Bruna Cristine Martins de Sousa.
O tema da pesquisa é: “Caracterização
química e atividades biológicas de extratos e óleo de Cumaru-amarelo”. A
pesquisa além de trabalhar com extratos de folhas, galhos e sementes e óleo de
sementes, tem como diferencial, também, avaliar os resíduos dos frutos
(epicarpo, mesocarpo e endocarpo) que são descartados após a coleta das
sementes.
A doutoranda Bruna Martins explica que
“o estudo visa analisar a composição química dos extratos e óleo de
cumaru-amarelo, fracionar e purificar as substâncias presentes nesses produtos,
bem como realizar testes biológicos direcionados, principalmente, à atividade
antifúngica”.
A bióloga iniciou o doutorado em 2017 e
a partir de fevereiro de 2018, começou a pesquisa para sua tese, em parceria
com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), escritórios de
Santarém e de Mojuí dos Campos, região produtora de sementes de cumaru.
“Durante este primeiro período dos estudos, foram realizadas visitas,
entrevistas e coleta de material vegetal para identificação das espécies nas
áreas e extrações. A espécie identificada nas amostras coletadas foi a Dipteryx
punctata, ainda pouco pesquisada e conhecida na Amazônia”.
Em Mojuí, estão sendo acompanhadas cinco
propriedades, em plantios com um a dois hectares de cumaru consorciado com
frutíferas. A frutificação do cumaru ocorre a partir de oito anos de idade,
quando em condições adequadas para o seu desenvolvimento. Cada árvore produz em
média cinco quilos de sementes, anualmente. Portando, do plantio de 120, em
cada propriedade, a produção média é de aproximadamente 600 quilos de sementes
por safra.
De acordo com a doutoranda, o quilo da
semente está sendo comercializado a R$ 30,00. “Essas sementes são selecionadas
e vendidas tanto para o mercado nacional, como internacional por terceiros e, é
na fase de retirada das sementes dos frutos que é gerada a matéria prima
utilizada na pesquisa que estamos desenvolvendo, material que seria descartado.
Para cada cinco quilos de sementes são gerados aproximadamente 50 quilos de
resíduos”.
Bruna Martins diz ainda, que a atividade
antifúngica será avaliada com fitopatógenos presentes nas propriedades
estudadas, afim de se encontrar alternativas para o controle das doenças das
plantas cultivadas por esses agricultores, especialmente. “Atividades
antibacteriana, antioxidante, antiproliferativa, anti-inflamatória, antiviral,
larvicida e a toxicidade dos extratos e óleo poderão ser avaliados até a
conclusão da tese”.
Para o orientador, professor Thiago
Almeida Vieira, doutor em Ciências Agrárias, “este trabalho pode dar um grande
retorno à agricultura, apresentando uma alternativa sustentável para o controle
de doenças em plantas cultivadas na Amazônia, possibilitando ainda, que o
agricultor aproveite o material que seria descartado. Isto pode ser uma
alternativa limpa que proporcione diminuição de custos para o agricultor”.
Para a co-orientadora da tese, a
professora Denise Castro Lustosa, doutora em Fitopatologia, “não temos dúvidas
que seria muito importante e interessante encontrarmos substâncias com
atividade antifúngica a partir de um resíduo. O avanço nessa pesquisa aumenta a
possibilidade da obtenção futura de um produto alternativo para o controle de
doenças em plantas, principalmente para uso pelo pequeno produtor. No entanto,
antes de chegar a um produto, muitos testes precisam ser realizados. Os
resultados promissores em condições de laboratório servem como indícios da
potencialidade das substâncias encontradas até o momento. Mas, esse efeito
precisa ser comprovado em campo, uma vez que as condições podem diferir do
ambiente controlado, como ocorre em laboratório”.
Processo histórico - O estudo do gênero
Dipteryx teve início no mestrado, desenvolvido no Programa de Pós-graduação em
Recursos Naturais da Amazônia (PPGRNA/Ufopa), em 2015 e 2016. Foram realizadas
a comparação química e as atividades antimicrobianas dos extratos das folhas,
galhos e frutos e, dos óleos das sementes de duas espécies, identificadas
botanicamente como Dipteryx odorata e Dipteryx magnifica.
Este estudo teve a orientação do Dr.
Lauro Euclides Soares Barata e co-orientação da Profa. Dra. Denise Castro
Lustosa e contou com a parceria do Herbário e laboratórios da Ufopa como
P&DBio, Sementes Florestais e Fitopatologia; Divisão de Microbiologia e
Química Orgânica e Farmacêutica do CPQBA da Unicamp e, do Prof. Dr. Domingos
Benício Oliveira Silva Cardoso da UFBA.
O projeto de doutorado iniciou em 2017
sob orientação do professor Dr. Lauro Euclides Soares Barata e atualmente
encontra-se vinculado aos professores, Dr. Thiago Almeida Vieira (orientador) e
Dra. Denise Castro Lustosa (co-orientadora).
Parcerias – Neste trabalho, foram firmadas parcerias envolvendo a Emater,
órgão que destina o servidor Daniel do Amaral Gomes para fazer o acompanhamento
da doutoranda nas áreas em Mojuí; Dr. Domingos Cardoso (UFBA), responsável pela
identificação da espécie alvo do estudo; Herbário da Ufopa, sob
responsabilidade da Dra. Thais Elias Almeida (Iced) e Dr. Leandro Lacerda
Giacomin (ICTA), que orientaram no processo de deposição e envio de amostras
para identificação botânica; viveiro da Ufopa, coordenado pelo servidor Antônio
de Sousa Pereira (Ibef), onde foi realizada a triagem dos frutos; Laboratório
de Pesquisa e Desenvolvimento de Produtos Naturais Bioativos (P&DBio),
coordenado pela Profa. Dra. Kelly Christina Ferreira Castro (Ibef), onde foram
realizadas as extrações e análises químicas preliminares e Laboratório de
Farmacognosia e Fitoquímica, coordenado pelo Prof. Dr. Bruno Alexandre da Silva
(Isco), onde foram realizadas a atividade antioxidante dos extratos e óleo.
Próxima fase – Após a análise química e
testes biológicos com os extratos e óleo do cumaru-amarelo, serão realizados os
fracionamentos e purificações das substâncias para novos testes. “O trabalho é
árduo e demorado. Mas, os resultados preliminares promissores nos motivam a
continuar as pesquisas com as espécies de cumaru”.
Assim que concluir o doutorado, Bruna
Martins realizará uma roda de conversa com os produtores e projeta o lançamento
de uma cartilha didática contendo informações técnicas sobre as espécies e
alguns resultados encontrados na pesquisa, considerados úteis aos agricultores
e público em geral. O prazo para a
conclusão do doutorado é fevereiro de 2021.
Albanira Coelho – Comunicação/Ufopa