O Dia Mundial de
Conscientização e Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço é celebrado em 27 de
julho. A data foi estabelecida pela International Federation of Head and Neck
Oncologic Societies (IFHNOS) para informar sobre a doença. A Sociedade
Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SBCCP) promove durante todo o mês
de julho atividades de conscientização e informação no combate a esses tipos de
câncer, que atingem boca, língua, palato mole e duro, gengivas, bochechas,
amígdalas, faringe, laringe, esôfago, tireóide e seios paranasais.
O slogan da campanha
deste ano é “O câncer tá na cara, mas às vezes você não vê!”.
Em todo o mundo, o
câncer de cabeça e pescoço é o quinto de maior incidência. São mais de 780.000
casos por ano. De acordo com o INCA, no Brasil, é o quinto de maior incidência
entre os homens (cavidade oral e laringe). Hoje, no Brasil, em 60% dos casos a
doença já está avançada quando é descoberta.
O câncer de cabeça e
pescoço afeta diversas áreas e funções do corpo humano, como a respiração,
fala, deglutição, paladar e olfato. Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia
de Cabeça e Pescoço, os principais sintomas são nódulo persistente no pescoço,
lesão na boca que não cicatriza (por mais de 20 dias) e rouquidão por mais de
três semanas.
Adilson de Souza, 71
anos, se incomodava com uma espinha que crescia na orelha direita. Ao consultar
um dermatologista, descobriu que era câncer de pele (carcinoma) e precisou
fazer uma cirurgia para retirar o tumor e reconstruir a orelha em outubro de
2012. Mas apenas um mês após a cirurgia, durante uma consulta a um dentista,
percebeu um nódulo no queixo.
O câncer de pele havia
progredido para a mandíbula e ele precisou fazer mais duas cirurgias – para a
retirada do nódulo e depois para retirada das glândulas salivares – em novembro
e dezembro de 2012. A quimioterapia e radioterapia foram feitas em fevereiro de
2013 e, desde então, Adilson faz exames de acompanhamento a cada ano.
Ele conta que foi
fumante desde os 18 anos e só parou depois de descobrir o câncer. “Graças a
Deus, o tratamento foi tranquilo, apesar dos efeitos colaterais da
quimioterapia serem fortes. Hoje, as únicas sequelas são uma perda parcial do
paladar e a diminuição da salivação. “tenho que beber bastante água. Me cuido
para me manter livre do câncer”, diz Adilson.
Fatores de risco -
Cigarro, álcool e o vírus HPV estão no topo da lista dos causadores dos
cânceres de cabeça e pescoço. São cerca
de 41 mil novos casos anualmente, segundo estimativas do Instituto Nacional de
Câncer. Os números correspondem a 4% de todos os tipos de câncer.
Estima-se que cerca de
15 mil novos casos de câncer de cavidade oral surjam por ano no Brasil, sendo
80% em homens e caracterizando-se como o 5º tumor de maior incidência no país
no ranking geral. No Pará, em 2019, a
estimativa do Inca apontou 220 novos casos de câncer na cavidade oral, sendo
140 em homens e 80 em mulheres. A taxa estimada é de 3,88 casos para cada 100 mil
homens e de 2,01 para cada 100 mil mulheres.
Para o câncer de
laringe, estima-se 8 mil novo casos no país, sendo que 97% dos diagnósticos são
provenientes do tabagismo. O consumo de álcool associado ao tabagismo aumenta o
risco em 140 vezes esse tipo de câncer.
No Pará, a estimativa do Inca para 2019 apontou 110 casos novos de
câncer de laringe, sendo 80 em homens e 30 em mulheres. A taxa estimada é de
2,69 caso casos para cada 100 mil homens e de 0,88 casos para cada 100 mil
mulheres.
Em pacientes jovens, a
infecção pelo HPV (papilomavírus humano) tem ampliado o número de novos casos
de orofaringe devido à prática do sexo oral sem preservativos. Além disso, a
utilização do narguilé (cachimbo de água utilizado para fumar tabaco
aromatizado) e o consumo excessivo do álcool também têm correlação com o
aumento do número de casos em jovens de 18 a 30 anos.
O perigo que o álcool e
o tabaco associados representam é significativo. Alguém que fuma e bebe tem
chances até 10 vezes maiores de desenvolver algum tipo de câncer de cabeça e
pescoço. Por causa dos ‘hábitos sociais’ de beber e fumar, os homens são mais
acometidos em relação às mulheres, numa proporção de 8 homens para duas
mulheres, nos casos do câncer de boca, faringe e laringe.
Apesar de atingir
principalmente fumantes e pessoas que consomem bebidas alcoólicas, já é
possível verificar um aumento na incidência entre pessoas com menos de 40 anos
por causa do HPV, que pode ser prevenido com a vacina e o uso de preservativos
nas relações sexuais.
O Ministério da Saúde
estima que cerca de 7% da população brasileira, mesmo sem saber, podem ter o
vírus HPV na boca. Esse percentual representa cerca de 14 milhões de indivíduos
em risco de desenvolver câncer por causa do HPV. “Estudos recentes demonstram
que a infecção oral pelo HPV é um fator de desenvolvimento do câncer de faringe
e de boca. Uma das formas de contágio é por meio da prática do sexo oral sem
proteção”, explica a médica Amanda Gomes.
Como são fatores de
risco que podem ser eliminados, esses tipos de câncer são considerados
evitáveis. Além da prevenção, a atenção para o diagnóstico precoce também é
fundamental. “Além de ficar longe do cigarro e bebidas alcoólicas e de não
esquecer a prevenção ao HPV, todos devem lembrar que a higiene bucal é
importante na prevenção. O dentista é um profissional com papel fundamental no
diagnóstico precoce e deve ser visitado regularmente. O exame clínico do
pescoço, feito por um médico, também é essencial”, alerta a oncologista clínica
Amanda Gomes. “No caso do câncer de boca, o papel do cirurgião-dentista é
importante porque pode garantir a identificação de lesões pré-cancerígenas ou
tumores em fase inicial”, destaca a médica.