Pará foi o segundo estado com maior área queimada no Brasil desde 1985

 

Uma casa que pega fogo todos os anos: esse é o retrato do Brasil - e da Amazônia - obtido pelo MapBiomas após analisar imagens de satélite entre 1985 e 2020 para entender o impacto do fogo sobre o território nacional. A cada ano, a Amazônia perde o equivalente a pelo menos 6 vezes a área média desmatada nos últimos 3 anos no Bioma Amazônia para incêndios ambientais (64.955 km²/ano). No acumulado do período, foram 690.028 km², ou 16,4% do total do bioma. 39% de toda a área queimada no país nesse período ficam na Amazônia. 

Os estados do Pará (31%) e Mato Grosso (29%) correspondem por 60% das queimadas na Amazônia. No total do território brasileiro, o Pará ocupa a vice-liderança em área total queimada no período (215.715 km²), atrás apenas do Mato Grosso (389.014 km²). Nos dois estados o fogo afeta mais as áreas de vegetação nativa do que as áreas de uso do solo consolidadas. No Pará 40% da área queimada atingiu vegetação nativa, principalmente as áreas de formação campestre. Em relação ao fogo em área antropizada, as pastagens registraram maior área queimada no estado com 60% em relação às áreas de agricultura ou mosaico de agropecuária (menos de 1%). 73% das áreas queimadas na Amazônia ocorreram nos meses de agosto (17%) setembro (34%) e outubro (22%). Mais de dois terços do fogo na Amazônia ocorreram mais de uma vez no período, sendo que 48% queimaram mais de três vezes. 39% das queimadas ocorreram em áreas naturais. 

Para chegar a esses números, inéditos, a equipe do MapBiomas processou mais de 150 mil imagens geradas pelos satélites Landsat 5, 7 e 8 de 1985 a 2020. Com a ajuda de inteligência artificial, foi analisada a área queimada em cada pixel de 30m X 30m dos mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados do território brasileiro ao longo dos 36 anos entre 1985 e 2020, independente do uso e cobertura da terra. Ao todo, foram 108 terabytes de imagens processadas para mostrar áreas, anos e meses de maior e menor incidência do fogo. 

Os dados nacionais são igualmente impressionantes. A cada um desses 36 anos entre 1985 e 2020, o Brasil queimou uma área maior que a da Inglaterra: foram 150.957 km² por ano, ou 1,8% do país. O acumulado do período chega a praticamente um quinto do território nacional: 1.672.142 km², ou 19,6% do Brasil. Quase dois terços (65%) do fogo ocorreram em áreas de vegetação nativa. 85% de toda a área queimada no país nesse período ficam no Cerrado (44%) e na Amazônia (41%). No caso do Cerrado, a área queimada por ano desde 1985 equivale a 44 Chapadas da Diamantina. 

"Analisar as cicatrizes do fogo ao longo do tempo permite entender as mudanças no seu regime de fogo e seu avanço sobre o território brasileiro. Saímos de menos de 200 mil km² de área queimada em 1985 para chegar perto de 2 milhões de km² em 2020 em uma escalada constante e ininterrupta", explica Ane Alencar, Coordenadora do MapBiomas Fogo. "Outro dado preocupante é que cerca de 61% das áreas afetadas pelo fogo entre 1985 e 2020 foram queimadas duas vezes ou mais, ou seja, não estamos falando de eventos isolados", ressalta. 

Embora os grandes picos de área queimada no Brasil tenham ocorrido principalmente em anos impactados por eventos de seca extrema (1987, 1988, 1993, 1998, 1999, 2007, 2010, 2017), altas taxas de desmatamento principalmente antes de 2005 e depois de 2019 tiveram um grande impacto no aumento da área queimada nesses períodos. A estação seca, entre julho e outubro, concentra 83% da ocorrência de eventos de fogo. 

Os dados de áreas de queimadas e incêndios florestais estão disponibilizados em mapa e estatísticas anual, mensal e acumulada em para qualquer período entre 1985 e 2020 na plataforma https://mapbiomas.org/, aberta a todos. Ela também inclui dados de frequência de fogo, indicando as áreas mais afetadas nos últimos 36 anos. A resolução é de 30m, com indicação do tipo de cobertura e uso da terra que queimou, permitindo recortes territoriais e fundiários por bioma, estado, município, bacia hidrográfica, unidade de conservação, terra indígena, assentamentos e áreas com CAR.