Arte gráfica popular da Amazônia é tema de evento que reúne artistas e designers da América Latina

  

A Amazônia se decodifica de muitas formas. Desde os abridores de letras de barcos ribeirinhos do Pará, à pintura de ônibus populares do Peru, Colômbia ou Equador, em cada esquina há signos que expressam uma urbanidade particular. A visualidade da Pan-Amazônica tem atraído cada vez mais atenção de artistas, designers e pesquisadores. Com uma proposta inédita, o projeto GraficAmazônica reúne mais de 20 convidados de países da região no sábado (14). São debates, documentários e palestras sobre a pluralidade da arte gráfica da América Latina, com transmissão online. As inscrições estão abertas.

 “Haveria uma linguagem gráfica popular comum aos países amazônicos – a Panamazônia? Existem laços identitários entre as diversas culturas populares latino americanas? Seriam diversas ou conectadas?”, essas questões norteiam o projeto, coordenado e idealizado pelas designers paraenses Sâmia Batista e Fernanda Martins. Contemplado pelo edital da Lei Aldir Blanc via Secretaria de Estado de Cultura do Pará, o GraficAmazônica é promovido pelo Mapinguari Design e ocorre em parceria o DiaTipoX, evento nacional sobre tipografia, que começa na sexta-feira (13). 

O projeto promove o encontro entre artistas da gráfica popular sul-americana, que irão partilhar saberes, ensinar técnicas, e estudiosos que apresentarão seus projetos, reflexões e propostas. O GraficAmazônica busca fortalecer a pesquisa e registro da memória desta cultura visual, e propiciar aos mestres populares, em particular aos abridores de letras da Amazônia, experiências de aprendizado e intercâmbio.

 Convidados 

O GraficAmazônica ocorre dentro da programação do DiaTipoX, e no sábado (14) dedica todo o debate para a pluralidade da arte gráfica popular da América Latina. O projeto é um desdobramento do “Letras Q Flutuam” (LQF), que desde 2013 faz o mapeamento dos abridores de letras da Amazônia, um esforço capitaneado pela dupla Sâmia Batista e Fernanda Martins. 

O LQF é fruto de pesquisa iniciada ainda em 2004, quando a designer e pesquisadora paulista Fernanda chega a Belém - cidade na qual depois se naturaliza, e entra em contato com a pintura dos barcos, começa a viajar por interiores do norte do país, conhece diversos mestres pintores, e realiza palestras, exposições, oficinas e documentários. Professora da Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal do Pará, designer e pesquisadora, Sâmia também desenvolve o projeto, que agora culmina no GraficAmazônica.

 O debate convida artistas de países como Colômbia e Peru, além do Brasil e Costa Rica. A GraficAmazônica busca ser uma via de superar as distâncias territoriais que dificultam a troca eficiente entre estes estudiosos e artistas. “Esperamos que o evento fortaleça os vínculos entre esses artistas e mestres, fomentando a criação da Rede da Gráfica Popular. Este seria um ambiente virtual para a troca de informações e a divulgação de pesquisas e artistas gráficos populares”, destaca Sâmia que, ao lado de Fernanda, integra a programação do sábado.

 O intercâmbio traz a tipografia popular do Peru com o projeto Carga Máxima, um grafismo pintado à mão que estampa letreiros de caminhões, carrinhos de comida, ônibus e uma variedade de suportes comunicativos. O nome do estilo batiza o estúdio de pintura e design, fundado por Azucena Cabezas e Alinder Espada, convidados do GráficAmazônica. 

Da Colômbia, o projeto recebe Roxana Martínez Vergara, Esteban Ucros e Juan Esteban Duque, do projeto Populardelujo, que trabalha em estreita colaboração com autores populares, buscando lançar visibilidade à cultura visual há muito subestimada na América Latina.

 Mestres do Pará são convidados de destaque do evento, que lança uma série de cinco documentários sobre esses artistas, e traz para o debate Luis da Silva Souto Júnior, que há 37 anos abre letras em cidades ribeirinhas. Ele atuou como parceiro do projeto “Letras Q Flutuam” em diversas atividades e já ministrou oficinas de pintura em Belém, Salvador, Niterói e São Paulo. 

Integram ainda o time da GraficAmazônica Thiago Nevs, que começou na pixação e hoje realiza pinturas que fazem referência à decoração de filetes de caminhão. Outro nome é Filipe Grimaldi, diretor do Ateliêr Sinlogo, uma das maiores referências em pintura de letra popular do Brasil; e Mariana Bernd, mestra pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo [FAU/USP] com a dissertação “Pinturas de paisagem amazônica e a construção de um imaginário da cultura popular [2011]”, com foco no design gráfico popular amazônico.

 Serviço

GraficAmazônica, neste sábado, 14, a partir de 10h, onlilne. Inscrições abertas no DiaTipoX.