Oriã Costa ficou paraplégico - Crédito: Rodrigo Pinheiro / Ag.Pará
Há 20 anos, o atleta Oriã Costa, 50 anos, foi vítima de ferimento com arma de fogo, após reagir a um assalto, que o deixou paraplégico. Em 2014, conheceu o Programa de Equoterapia do Centro Interdisciplinar de Equoterapia (CIEC) da Polícia Militar do Pará (PM-PA) e afirma ter vivido um amor à primeira vista.
"A minha vida mudou. Quando eu monto no cavalo sinto como se tivesse movimento nas pernas novamente, me sinto renovado. Aprendi a ser mais humano, a ter paciência. Agora consigo fazer minhas transferências da cadeira de rodas para a cama ou cadeira sozinho, o que me dá muito mais independência. Comecei como tratamento e me apaixonei tanto que desenvolvo a prática também como esporte", conta o praticante.
O Programa de Equoterapia, que faz parte do Centro de Reabilitação da Polícia Militar, é uma das estratégias para garantir qualidade de vida aos praticantes, e busca desenvolver as áreas motora e emocional, intervenções cognitivas e do ensino-aprendizado, inclusive com pacientes pós-covid. A terapia, que inclui cavalos em todas as atividades, promove a inclusão social de pessoas com deficiência. O Dia Nacional da Equoterapia é celebrado nesta segunda-feira (9).
"Para pacientes com paralisia cerebral, que possuem comprometimento motor, o cavalo pode ajudar através de estímulos para ganho de mobilidade, de equilíbrio, de movimentação, de força, entre outros. Os praticantes com déficit de aprendizagem ou autismo, o cavalo ajuda a estimular o raciocínio, na aprendizagem, a treinar a concentração. Para combater a ansiedade e outras questões psicológicas, o cavalo auxilia no relaxamento, na respiração", explica o coordenador do programa, o fisioterapeuta, Major Ângelo Scotta.
A intervenção profissional junto ao cavalo é fundamental para identificar a melhor abordagem para cada praticante, de acordo com as suas necessidades, por isso, a equipe multidisciplinar do programa, é composta por fisioterapeuta, fonoaudióloga, terapeuta ocupacional, psicólogo, educador físico e pedagogo, além do instrutor de equitação. O programa atende, atualmente, cerca de 40 pacientes. Por conta da pandemia, foi necessário reduzir a capacidade de atendimento simultâneo para garantir o cumprimento dos protocolos sanitários.
Subdiretora do Centro e fonoaudióloga, a
major Mardonia Alves explica que a atuação da fonoaudiologia junto a
equoterapia é destinada a quem possui algum tipo de alteração na linguagem,
atrasos no desenvolvimento, alterações na articulação das palavras, na
aprendizagem, leitura ou escrita, entre outros casos.
"Acompanhando o dia a dia dos praticantes, a gente entende o tamanho gigante desse programa, que traz tantos benefícios para todos nós que estamos envolvidos. O cavalo agrega valor à terapia, traz uma paz inexplicável. Percebemos que muitas vezes só de estar perto do animal, os praticantes já renovam a energia", conta a fonoaudióloga.
A psicóloga Waleska Jorge atua desde
1999 no programa e explica o papel fundamental da psicologia durante as
sessões. "Procuramos trabalhar, principalmente, a questão da autoimagem,
autoconfiança, autocontrole e autoestima, a partir das características do
cavalo, o que ajuda ao praticante ter mais independência, ser mais ativo, com
equilíbrio emocional", explica.
SUPERAÇÃO
A dona de casa Odineia Magno, que é mãe
da Caroline, uma das praticantes da equoterapia com deficiência intelectual,
explica que a filha participa do programa há quase dez anos e que a prática faz
toda a diferença no desenvolvimento e para a qualidade de vida da família.
"Ela é outra pessoa, muito mais madura, atenta, concentrada, interativa, com coordenação motora. O contato com o animal ajuda muito. Hoje, ela já consegue conversar, o que quando começou era inimaginável. A equipe é muito competente, enquanto mãe também me sinto acolhida e abraçada por esse amor que exala dos profissionais. Não tem nada que pague no mundo ver ela se desenvolvendo", afirma.
A praticante Caroline Magno, 21 anos, conta, com orgulho, que já consegue montar sozinha no cavalo. "Eu gosto muito de vir, porque me sinto ótima. Adoro andar e alimentar o cavalo. Todas as profissionais ficam perto de mim, com todo o cuidado", diz.
SERVIÇO
O programa é destinado aos policiais militares e dependentes, além de ser portas-abertas à sociedade civil. O interessado, que possua encaminhamento médico, deve procurar a unidade, localizada na Avenida Transmangueirão, S/N, complexo de Cavalaria da Polícia Militar do Pará, localizado na rua ao lado do Centro de Perícias Técnicas Renato Chaves, para realizar a inscrição e passar, posteriormente, por um processo avaliativo da equipe multidisciplinar.
Interessados em mais informações, podem
ligar para o número funcional 98575-4250, disponível a partir de 7h30 às 13h30,
de segunda a sexta-feira.
EQUOTERAPIA NA PM
Em 1993, a Polícia Militar do Pará inaugurou seu primeiro Centro de Equoterapia no estado. A iniciativa, pioneira e gratuita, auxilia na recuperação de pacientes com problemas neurológicos e com lesão motora. Atualmente, a CIEC, atende adultos e crianças, com idades que variam entre dois e 60 anos.