Afonso Cappela conquistou os jurados no The Voice Brasil - Foto Divulgação |
Afonso Cappela, o paraense de 17
anos que arrebatou jurados e plateia cantando em italiano no programa “The
Voice Brasil”, da TV Globo, é um autodidata. Desde criança, ouvia a mãe cantar
músicas da igreja em casa. Acabou adquirindo noções de entonação sozinho. Na
internet, se aperfeiçoava com a parte teórica. Sempre teve o sonho de aprender
violino, um dos instrumentos mais difíceis. A teoria virtual não seria
suficiente. No ano passado, o garoto procurou as aulas do Movimento de Emaús,
no bairro do Benguí, em Belém, desenvolvidas em parceria com o governo do
Estado.
As aulas de violino, flauta,
violão e canto no Emaús fazem parte de um dos polos do projeto Música e
Cidadania, desenvolvido em parceria com a Fundação Carlos Gomes. Nesta
segunda-feira (17), Afonso estará nos estúdios da TV Globo gravando a segunda
fase do programa “The Voice”. A partir de agora, a disputa será eliminatória.
Quem não conquistar os jurados, estará de fora da competição.
O paraense está confiante no
futuro depois que abraçou a música como sonho de vida graças ao projeto
desenvolvido pelo Estado. “Quando vim para cá, passei a enxergar a música com
outros olhos. Aqui vi exemplos de pessoas que acreditaram no poder de
transformação da música e mudaram suas vidas ao investir em um sonho. Tem gente
que saiu daqui e está estudando até no exterior. Conviver com essa força
proporcionada pela música despertou isso dentro de mim. O meu canto agora vai
chegar a vários lugares e proporcionar esse poder de transformação”, diz o
cantor.
O projeto Música e Cidadania
surgiu há 16 anos na Fundação Carlos Gomes para democratizar a formação musical
de crianças e jovens. Para atender a grande demanda – a fundação recebe a média
de mil ligações todo início de ano –, o projeto foi dividido em onze polos
espalhados pelos bairros de Belém. Somente no Movimento de Emaús, onde Afonso
estuda, são 160 alunos, de 7 a 19 anos de idade. As aulas de violino, canto,
violão e flauta doce ocorrem duas vezes por semana.
Oportunidade
O objetivo da Fundação Carlos Gomes,
além de democratizar o ensino da música, é formar técnicos que serão
aproveitados como professores na própria fundação. Quando os instrutores dos
polos percebem que o aluno está pronto, o que leva em média dois anos, a pessoa
é convidada a fazer um teste para se tornar aluno bolsista e buscar a formação
profissional.
Muitos dos professores da
Fundação Carlos Gomes saíram desses polos deixando para trás situações de
vulnerabilidade social. Alguns já fizeram mestrado em Portugal e estão ganhando
o mundo. Mais de 20 mil pessoas já passaram pelo projeto. Hoje 20 deles hoje
são professores no Carlos Gomes; outros atuam no mercado informal e ganham a
vida como músicos na noite de Belém.
A fundação faz todo o
acompanhamento pedagógico e fornece os instrumentos, os profissionais e o
material didático. São 28 professores divididos nos onze polos. O número de
ligações procurando os locais de ensino da música aumentou assustadoramente
depois do sucesso de Afonso no “The Voice Brasil”, assim como as propostas de parcerias
com o projeto. Quem estiver interessado nas aulas de musicalização, porém, vai
ter que esperar pelo período de inscrições, que começa no início de fevereiro
de 2017.
A fama repentina do paraense no
“The Voice Brasil” vem sendo decisiva para diminuir o que era uma preocupação
dos coordenadores do projeto Música e Cidadania: a evasão escolar. ”Muitos dos
nossos alunos deixam de assistir às aulas porque precisam trabalhar, mas agora
a gente tem percebido, nas reuniões com os pais, o interesse em fazer com que
os filhos abracem o compromisso do aprendizado da música e pensem nela como uma
chance de futuro”, atesta o coordenador do projeto, Reginaldo Vianna.
Fã de Ed Motta, Afonso Cappela já
mostrou o talento para o Brasil e sabe que o futuro é uma questão de
oportunidade. Assim como a que teve e não desperdiçou, em um projeto social de
música do Estado. “Eu me sinto grato ao Governo do Estado porque são projetos
como esse que transformam a vida de muita gente. Se transformou uma única vida,
já valeu a pena; se já mudou a história de uma família, já valeu a pena. A
minha, com certeza já mudou”, destaca o cantor.