Oferecer escolarização e
qualificação profissional a cidadãos privados de liberdade são os desafios
diários de vários professores que dão aula nas unidades prisionais da
Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe). Por meio de uma
parceria com a Secretaria Estadual de Educação (Seduc), 55 educadores saem de
suas casas todos os dias com a esperança de que a educação seja para o interno,
o primeiro passo para o retorno à sociedade. No Centro de Recuperação do
Coqueiro (CRC), um corredor no meio do bloco carcerário leva a uma sala de
aula. É lá que a professora Flor de Lis Brito passa boa parte do dia. São 10
anos lecionando dentro de unidades prisionais e para ela as dificuldades com o
espaço físico vão além do desafio como educador. “A gente dá aula em um local
com as condições mínimas para acolher um aluno. O local é quente e abafado, mas
o meu papel é passar conhecimento, independente de quem seja o aluno,
independente do local que ele está”, disse a professora. Adepta da concepção
"freireana" de educação, ela diz ficar também feliz ao passar aos
alunos que "o caminho da educação é o único que o homem percorre
dignamente diante da sociedade", como diz o educador Paulo Freire. Segundo
Flor de Lis, os alunos do presídio, assim como os que estão fora dele, veem no
professor um exemplo. “Passamos muitas horas do dia com eles, ouvimos muitos
relatos, é uma troca, uma confiança que um vai adquirindo no outro. É um
trabalho muito prazeroso. É um desafio? É, porque ninguém acredita que a
educação dentro do cárcere venha tirar o homem daquela condição. Mas nós
acreditamos neles”, destacou a professora.
Atualmente, a Susipe conta com
cerca de dois mil internos envolvidos em atividades educacionais regulares. No
Pará, segundo dados do Infopen (Sistema Integrado de Informações
Penitenciárias), 12,9% da população carcerária estão na sala de aula; do total,
1.218 detentos estão matriculados na educação formal, 592 na educação
não-formal e 110 em cursos profissionalizantes. Mais de 47,85% da população
carcerária feminina do Estado desenvolvem atividades educacionais. Das 45
unidades prisionais paraenses, 33 têm salas de aula.
Os avanços na educação prisional
fizeram do Pará uma referência em gestão penitenciária. A média nacional de
presos estudando em todo o país é de 10%. Nesse ranking, o Pará está à frente
de Minas Gerais (11,1%), Santa Catarina (7,8%), Rio de Janeiro (7,5%), São
Paulo (5,7%) e Rio Grande do Sul (7,8%), de acordo com o último levantamento
sobre educação prisional no Brasil, realizado pelo Ministério da Justiça, em
2013.