: Ipomoea cavalcantei / Carla Lima
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Na Floresta Nacional de Carajás,
no Pará, está localizada uma das maiores províncias minerais do mundo e também
ecossistemas vegetais peculiares, conhecidos como cangas ou campos
ferruginosos. É lá que pesquisadores do Instituto Tecnológico Vale (ITV) e do
Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) desenvolvem, desde 2015, o projeto
"Flora das cangas da Serra dos Carajás, Pará, Brasil", considerado o
mais recente e sistematizado estudo botânico sobre o ecossistema da região já
realizado. O projeto conta com a colaboração de 74 botânicos taxonomistas do
Brasil e do exterior, oriundos de 22 instituições nacionais e do exterior. É
possível que o número total de espécies da flora, quando concluído o
levantamento, previsto para dezembro de 2017, atinja quase 10% das 7.071
espécies referidas para o estado do Pará.
Nesta quita-feira (9), será
realizado um evento para celebrar o primeiro volume do estudo, que foi
publicado em uma edição especial da Rodriguésia - Revista do Jardim Botânico do
Rio de Janeiro, considerada uma das mais importantes e tradicionais da área de
Botânica, em especial em Taxonomia Vegetal. O evento acontece a partir das 15h,
no auditório do campus de pesquisa do Museu Goeldi, em Belém. O Jardim Botânico
também organiza um evento de lançamento no dia 7 de março. Este primeiro
volume, dos três a serem publicados pela Rodriguésia, é composto por 55
monografias em nível de família botânicas, incluindo 139 gêneros e 248 espécies
tratadas.
As monografias incluem descrições
taxonômicas, ilustrações, distribuição geográfica e chaves de identificação
para os gêneros e espécies. É o resultado do primeiro ano de pesquisa do
projeto, que inclui um extensivo programa de coletas na área. Através da
sistematização da informação e do resgate de registros do passado, o estudo
atual contribui para disponibilização de informação correta e autenticada, substituindo
listas desatualizadas e propiciando o uso dessa informação para os mais
variados fins.
O projeto do Museu e do ITV, sob
a coordenação do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, também contribuirá para a
Flora do Brasil 2020, que reúne mais de 700 colaboradores que estão preparando
um acervo online com objetivo de cumprir a meta 1 da Estratégia Global para
Conservação das Plantas, assinada pelo governo brasileiro.
O Museu Goeldi é a instituição
pioneira na investigação científica sobre a flora de Carajás, com a primeira
expedição de coleta na região realizada em 1969. De lá para cá, Carajás entrou
na rota da pesquisa institucional. Há dois anos um passo decisivo foi dado para
ampliar o estudo da vegetação endêmica de Carajás, que resultou no projeto
"Flora das cangas da Serra dos Carajás, Pará, Brasil", cujo primeiro
volume está sendo lançado agora. A pesquisa conta com apoio do Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Os coordenadores do projeto, os
botânicos Pedro Viana, do Museu Emílio Goeldi, e Ana Maria Giulietti, do ITV,
estimam que até a conclusão da pesquisa serão monografadas mais de 600 espécies
vegetais. A informação gerada é resultado de coletas de campo em Carajás e em
outros pontos do Pará, levantamento bibliográfico, e consulta a coleções
botânicas de várias partes do mundo, que detêm dados sobre a vegetação de
canga.
Todo o material coletado desde
2015 já está incluído em banco de dados, com 8.800 amostras depositadas no
herbário do Museu Goeldi, em Belém. Com essas informações, os pesquisadores
esperam organizar informações muitas vezes dispersas ou incompletas sobre as
espécies.
Considerada uma referência no
estudo da flora brasileira, Ana Giulietti ressalta que "o trabalho
permitiu atualizar e sistematizar os dados sobre a flora desta importante
região que é a canga de Carajás. Espécies que não apareciam nas listas
anteriores foram encontradas e espécies consideradas como ameaçadas e raras
foram recoletadas".
Vera Fonseca, coordenadora do
projeto pelo ITV, complementa ao explicar que muitas plantas tiveram uma única
amostra coletada antes de 2015. "Agora, coletamos várias amostras para
ampliarmos este conhecimento, estudarmos as populações, pois cada uma carrega
um embasamento genético diferenciado, além de marcarmos matrizes para coletas
de sementes".
Pedro Viana, curador do Herbário
do Museu Goeldi e editor responsável pelo volume especial da Rodriguésia,
pontua outros impactos da pesquisa. "Com os trabalhos de campo do projeto,
o acervo botânico de Carajás no herbário do museu praticamente dobrou e novos
materiais foram coletados", afirma.
"Os resultados publicados
são advindos de um projeto de grande relevância, uma vez que representa um
registro mais fiel sobre a verdadeira biodiversidade vegetal desta região
peculiar do Brasil e que constitui subsídio para a definição de políticas de
gestão e preservação. Além disso, as informações constantes neste volume
contribuem para um aumento do conhecimento sobre o bioma amazônico ainda
bastante desconhecido no contexto científico", afirma o diretor de
pesquisa do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Renato Crespo, ressaltando que o
estudo reafirma a importância da Rodriguésia na publicação de artigos de grande
relevância científica.