Pesquisadores da Embrapa Solos
iniciam neste mês de março o projeto-piloto do Programa Nacional de Solos do
Brasil (PronaSolos). A montagem do programa será feita em parceria com o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Companhia de Pesquisa
de Recursos Minerais (CPRM) e universidades brasileiras e deverá ser concluído
em nove meses. O custo estimado nessa fase é de cerca de R$ 900 mil.
Uma vez aprovado pelo governo
federal, o PronaSolos passará à fase de execução, que pode levar entre dez e 30
anos, estimou o chefe-geral da Embrapa Solos, unidade da Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (Embrapa) sediada no Rio de Janeiro, Daniel Vidal Perez.
O programa vai mapear o território brasileiro e gerar dados com diferentes
graus de detalhamento para subsidiar políticas públicas, entre outras
aplicações.
Perez explicou que a maioria dos
trabalhos de reconhecimento dos solos brasileiros foi feita nas décadas de 70 e
80, mas a representatividade do conhecimento do solo por área é muito baixa.
“Nos números atuais, aproximadamente, é como se eu tivesse conhecimento do solo
a cada 150 mil hectares, o que, para uma necessidade estadual ou mesmo
municipal, é inviável”. As escalas de mapeamento existentes no país são em
torno de 1 por milhão, “na melhor das hipóteses”.
Ele informou que o número de
informações disponíveis é muito pequena para o Brasil. Nos Estados Unidos, a
escala de conhecimento dos solos é de 1 centímetro para cada 25 mil
centímetros. “O nível de detalhe, de conhecimento, é muito melhor”, comentou
Perez.
Estudo completo
O PronaSolos será um estudo
completo do tipo de solo em profundidade, informação necessária para, por
exemplo, incentivar projetos de irrigação ou calcular o estoque de carbono para
mitigar as emissões de gases de efeito estufa, por meio da manutenção ou do
sequestro desse carbono em solo. “Mas, para isso, é preciso conhecer o solo em
profundidade e em detalhe. E essa informação, infelizmente, nós não temos”.
Alguns estados das regiões Sul e
Sudeste têm informação melhor, mas no resto do país os dados são reduzidos,
disse o chefe-geral da Embrapa Solos. São áreas desconhecidas em que não há
informações sobre o tipo de solo. “Às vezes, a gente encontra solos que não são
esperados”. Na Amazônia, por exemplo, há forte influência dos Andes. “Essa
influência nunca foi analisada, é forte e muito presente”. Ele disse ainda que
mesmo na região de crescimento da agricultura brasileira, que abrange partes do
Maranhão, Tocantins, Piauí e da Bahia, o conhecimento desses solos é muito
baixo. O PronaSolos permitirá que os dados sejam mais precisos, inclusive em
relação aos insumos e nutrientes de que necessitam para que não haja, entre
outros problemas, a contaminação de águas subterrâneas.
Daniel Perez advertiu que se não
forem tomados agora os cuidados necessários com o solo do país, “daqui a 50 ou
100 anos a gente vai estar pagando o preço da ignorância”. O representante da
Embrapa lembrou que o solo é um dos componentes da produção e, em termos
ambientais, é talvez o mais importante. “Tudo passa por ele. Se você não tratar
bem o solo, vai ter sérios problemas”.
Resposta
Diante das projeções de
crescimento populacional nos próximos anos, Perez destacou que a agricultura do
Brasil é uma das que apresentam melhores possibilidades de resposta. O
PronaSolos vai fornecer dados para que o país obtenha ganhos de produtividade.
“Vai dar informação necessária para que se estabeleçam políticas de uso
eficiente e mais adequado dos diversos insumos agrícolas, entre eles o
fertilizante”. Ele chamou a atenção para o fato de que a informação detalhada
será útil até na definição do local onde deverão ser colocadas linhas de
transmissão de energia elétrica.
A execução do PronaSolos
demandará investimentos públicos e privados que poderão alcançar R$ 1 bilhão,
para um trabalho básico a ser feito no prazo de 30 anos, ou R$ 3 bilhões para
um trabalho que poderá ser feito em dez anos. O PronaSolos deverá gerar ganhos
para o Brasil de R$ 40 bilhões, em uma década. Uma vez aprovada sua estrutura,
a execução do programa será imediata. “Nós estamos correndo contra o tempo”. Os
Estados Unidos, que são um dos principais competidores do Brasil, já têm esse
conhecimento e não precisam mais investir nessa área. “Mas nós precisamos”,
disse Daniel Perez.
O chefe-geral da Embrapa Solos
destacou que o desconhecimento dos tipos de solo provoca ineficiência da
produção e da produtividade, problemas ambientais, como assoreamento de rios.
Já o conhecimento do solo vai aumentar a competitividade do agronegócio
nacional, criando até modelos de produção. Para isso, é preciso ter dados que
ainda não existem, acrescentou.