Seminário debate a função descolonizadora da poesia



A produção literária amazônica estará em debate nos dias 1 e 2 de junho, na programação da XXI Feira Pan-Amazônica do Livro, durante o seminário “Poesias e Poetas na Contemporaneidade: Criatividades Descolonizadoras”, que aborda os escritos dos povos da floresta. Para esse debate foram convidados Luís Heleno Montoril, Vasco Cavalcante, Rita Melem, Isabela Leal, Márcia Kambeba e Paulo Vieira. A programação ocorrerá pela manhã e tarde no auditório Eneida de Moraes, e traz ainda a participação de Tchiseka Lobelt, da Guiana Francesa, do cinema angolano de Francisco Ewerton Almeida e a “Poesia de um novo mundo”, de Rosa Martin.

Márcia Wayna Kambeba, do povo Ticuna do Amazonas, será uma das palestrantes do seminário e discorrerá sobre o tema “A poética das Aldeias: identidade, cultura e biodiversidade”. A autora detalha que seus poemas e sua literatura são feitos com o objetivo de contribuir para um pensamento que tenha função descolonizadora. “Para isso, busco trazer para meu trabalho poético questionamentos pertinentes, como o fato de não gostarmos de sermos chamados de ‘índios’, teoria que muitos pesquisadores de vários povos reafirmam, entre eles Daniel Mundurucu e Almires Guarani”, rebate.

Em uma de suas poesias, “Índio eu não sou”, Márcia Kambeba procura despertar no leitor uma visão crítica da cultura indígena que as escolas não costumam trabalhar por meio dos livros didáticos, como a questão da pajelança, o olhar do indígena sobre a biodiversidade, a relação entre homem e natureza. ”Também falo de preconceito em meus poema,s porque ainda sentimos a dor da descriminação, da violência e de leituras equivocadas que sempre colocam o indígena em uma situação desfavorável.”

Com um livro publicado, intitulado “Ay kakyri tama”, Márcia Kambeba descobriu a literatura aos 14 anos, quando começou a escrever as primeiras poesias. Mas foi durante o mestrado que voltou a fazer da literatura uma ferramenta de divulgação e informação sobre alguns povos, como Wai Wai, Surui, Kocama e Assurini.

Vozes do tempo do contar e cantar

Outro palestrante que estará presente no seminário será o poeta paraense radicado em São Paulo, Paulo Nunes, que falará sobre “Vozes do Tempo do Contar/Contar: A ação do Grupo de Mãos Dadas. Engenheiro florestal por formação, Nunes sempre usou a natureza, a terra e a morte como pano de fundo do seu trabalho poético. Para ele, a Feira do Livro cumpre a função de oferecer aos povos da terra a oportunidade de discutir as origens da produção poética local. “Afinal, a literatura paraense ainda carece de ter sua história contada sob outros pontos de vista, como o dos poetas, por exemplo”, diz.

O escritor afirma que a Amazônia sempre foi um campo vasto à literatura e alimentou a imaginação dos artistas. “Ao mesmo tempo, certas passagens históricas acabaram por deixar oculta boa parte da produção poética da floresta. Daí a importância e pertinência desses diálogos na Feira Pan-Amazônica do Livro.”

Serviço: Feira Pan-Amazônica do Livro. Hangar Convenções e Feiras da Amazônia. De 26 de maio a 4 de junho. Horário de visitação: 10h às 22h. Entrada franca.