Durante o Carnaval do ano passado, o
jornalista esportivo Diogo Puget, 31 anos, foi parar nas páginas policiais como
vítima de violência. Ele brincava em um bloco, no bairro da Cidade Velha,
quando teve o cordão puxado por um ladrão. Diogo reagiu e, em represália,
comparsas do bandido o atingiram com vários golpes de gilete.
Quatro dias depois, graças a uma ligação
do Disque Denúncia, a Polícia Civil conseguiu prender os responsáveis pelo
crime. “Não fosse o Disque Denúncia eu acho que não conseguiriam chegar a esses
criminosos, já que não havia câmeras de monitoramento no local e foi tudo muito
rápido”, conta o jornalista. “A população precisa se conscientizar melhor sobre
a importância desse serviço, e não usá-lo para passar trotes”.
Criado nos Estados Unidos em 1975, com o
nome de “Crime Stoppers”, o Disque Denúncia é um serviço público que está à
disposição da população do estado para receber informações sobre atividades
criminosas.
A ideia é que, por meio de uma simples
ligação telefônica, feita de qualquer lugar do Pará, a partir de aparelho fixo
ou celular, o cidadão possa participar mais ativamente da segurança na sua
comunidade, contribuindo com informações relevantes para as autoridades e que,
muitas vezes, são decisivas nas investigações.
O Disque Denúncia existe no Pará desde
2006 e integrar os vários órgãos que compõem o Sistema de Segurança Pública do
Estado. O serviço recebe em média 60 ligações por dia; no ano passado foram
38.662. Apesar do número de trotes ainda ter sido alto (14.994), a maioria das
chamadas (23.668) foi válida. Destas, 11.304 denúncias, quase a metade, estavam
relacionadas ao tráfico de drogas.
Envolvimento
Uma das funcionárias do call center atua
há cinco anos no atendimento de denúncias, feitas por meio de ligações
anônimas, muitas delas quase um grito desesperado de socorro. “Eu acabo me
envolvendo emocionalmente com alguns casos, principalmente denunciados por
mulheres”, conta a atendente, que não pode ser identificada porque este é um
trabalho de extremo sigilo. “Já ouvi ligações de mulheres vítimas de violência
que foram surpreendidas por seus parceiros durante a própria ligação, e estes
passaram a gritar no telefone, ameaçando-as de morte”, relata. “Me sinto muito
útil sendo o canal para essas investigações”, diz a atendente.
Para disponibilizar esse serviço à
população, o Governo do Estado investe anualmente de 600 a 700 mil reais. E o
retorno tem sido positivo. “Embora a demanda seja grande, nós conseguimos
selecionar as informações de forma precisa e, ao longo desses anos, pudemos
colaborar para a solução de muitos casos. Graças a essas informações muitos
foragidos foram presos e homicidas localizados”, relata o diretor do serviço,
Raimundo Benassuly.
Como funciona
Para cooperar com alguma informação que
considere importante para a elucidação de um crime, o cidadão deve entrar em
contato com o número 181. Não é preciso se identificar. A pessoa é atendida por
um serviço de call center, onde seis servidores se revezam diariamente nos três
turnos. O Disque Denúncia funciona 24 horas. Cada ligação válida gera uma
denúncia que fica no sistema e é avaliada por analistas (um da Polícia Civil e
outro da Polícia Militar), responsáveis por dar o encaminhamento apropriado às
informações, de acordo com a natureza do delito.
Em 2016, um total de 18.265 denúncias
foram encaminhadas para a Polícia Civil e 4.898 à Polícia Militar. Através
delas 305 pessoas foram presas em flagrante; 47 foragidos do sistema penal
recapturados e 15 menores apreendidos. Depois de fazer a denúncia, o cidadão
recebe um número de protocolo. Com ele poderá acompanhar o andamento do
processo, cobrando o serviço dias depois.
É preciso alertar a população para a
diferença entre o 190, disponibilizado pelo Centro Integrado de Operações
(Ciop), e o 181, do Disque Denúncia. O Ciop atende apenas situações de
emergência, enquanto o Disque Denúncia se destina a investigação de crimes.