O governo federal divulgou, em
Brasília, que a taxa de desmatamento na Amazônia caiu 16% entre agosto de 2016
e julho de 2017 em relação ao mesmo período anterior. Com isso, a derrubada
volta a cair depois de dois anos de tendência de alta, mas não há real motivo
para celebração.
“Bom que caiu a taxa, mas temos
de focar em acabar com o desmatamento. Já passou da hora de o Brasil pensar
somente em comando e controle e passar a trabalhar as políticas públicas que
estimulam aqueles que não desmatam e que produzem de maneira sustentável. Só
assim poderemos comemorar”, afirma o diretor-executivo do IPAM (Instituto de
Pesquisa Ambiental da Amazônia), André Guimarães.
“Adicionamos 6.624 quilômetros
quadrados desmatados na Amazônia - somando tudo, é uma Alemanha e um Portugal
destruídos”, afirma o pesquisador sênior do IPAM, Paulo Moutinho. “Enquanto
ficarmos comemorando as quedas das taxas, vamos fechar os olhos para o fato que
estamos apenas destruindo florestas em um ritmo mais lento, mas a destruição
continua.”
Em 2016, o Brasil desmatou 7.893
km2 na Amazônia e, no ano anterior, 6.207 km2. A taxa ainda é muito mais alta
do que a meta proposta pelo próprio governo, em 2009, de chegar a 3,5 mil km2
em 2020.
Com isso, também fica em xeque a
capacidade de o país cumprir sua parte no Acordo de Paris, compromisso global
de redução de emissão de gases estufa: são mais 330 milhões de toneladas de CO2
emitidos pelo desmatamento em 2017, quando deveríamos reduzir de 36% a 39%
essas emissões até 2020, em relação aos níveis de 1990. E isso na véspera da
23ª Conferência do Clima da ONU, que acontecerá em novembro, na Alemanha.
O desmatamento na Amazônia também
não traz benefícios ao país, pelo contrário: proteção florestal, num contexto
de mudança climática, representa a manutenção de um regime climático mais
estável, incluindo a ocorrência de chuvas, tão necessária para a produção
agrícola. Sem florestas, haverá impactos econômicos consideráveis no campo no
futuro.
“Tudo indica que essas quedas são
flutuações que existem desde 2012, pelo menos. Mas o fato é que todo ano uma
área enorme é desmatada na região. Só vamos comemorar quando o desmatamento
chegar a zero”, diz Moutinho.