Período chuvoso exige maior atenção no diagnóstico de doenças



Com a chegada do inverno amazônico e várias doenças infecciosas com sintomas iniciais semelhantes, como febre, dor de cabeça e dor nos músculos e articulações, os profissionais de saúde precisam estar mais atentos às queixas dos pacientes, evitando que doenças graves, como a dengue, zika, chikungunya e leptospirose, por exemplo, possam ser vistas como viroses. O diagnóstico inicial deve ser feito analisando-se o aspecto clínico, por meio do exame físico e escutando a história do paciente; aspecto epidemiológico e laboratorial. Portanto, é importante que o paciente fale tudo o que está sentindo e o médico escute e o examine para não cometer equívocos.

E como diferenciar a dengue da zika e da chikungunya, que são transmitidas pelo mesmo mosquito, o Aedes aegypti? Segundo a médica infectologista da Universidade Federal do Pará (UFPA), Rita Medeiros, que é Doutora em Virologia, os três vírus podem causar doença semelhante na forma de síndrome febril exantemática (que apresenta manchas na pele), no entanto, algumas diferenças na manifestação da doença podem ajudar a distinguir clinicamente uma da outra.

A especialista explicou que a febre moderada ou alta é mais comum na dengue e chikungunya e que a diferença está na associação com o exantema. Em casos de chikungunya, o exantema aparece no segundo ou terceiro dia de doença concomitantemente com a febre; já na dengue, o exantema ocorre mais frequentemente no quarto ou quinto dia de doença, e, na maioria das vezes, quando a febre já passou.

Já em casos de zika, conforme a infectologista, o que chama atenção é um exantema mais exuberante, que muitas vezes abre o quadro e dura mais tempo que as demais. Além disso, febre na zika, quando há, geralmente é baixa e fugaz.

Outro sintoma a ser observado é a poliartralgia (dor em várias articulações) com artrite e/ou tenossinovite, que é característica da chikungunya, menos exuberante e autolimitada na zika. E laboratorialmente, tem sido observado que plaquetopenia (baixa de plaquetas) e leucopenia (baixa de leucócitos) são comuns na dengue e mais raros nas duas outras doenças.

“Resumindo, o exantema exuberante precoce e sem febre ou febre baixa é característico da zika. Artralgia importante é mais comum na chikungunya. Exantema que surge após de fervescência (declínio da febre), cefaleia, dor retro-orbitária (detrás dos olhos), além de hemograma mostrando plaquetas e leucócitos baixos são característicos da dengue”, concluiu a virologista.

De acordo com dados da Coordenação Estadual de Controle da Dengue, Zika e Chicungunya, de janeiro até o dia 23 de novembro de 2017, o Pará teve confirmados 4.645 casos de dengue, 6.366 casos de chikungunya e 332 casos de zika.

Todo mundo sabe, mas não custa nada lembrar que para combater a proliferação do mosquito Aedes aegypti basta armazenar bem o lixo e evitar água parada em garrafas, pneus, ou qualquer outro objeto que possa acumular água e se tornar criadouro de mosquito.

Leptospirose - Outra doença que preocupa as autoridades sanitárias no período chuvoso, porque os riscos de contaminação aumentam nas áreas alagadas pela água da chuva é a leptospirose, uma doença infecciosa causada pela leptospira, uma bactéria encontrada na urina de roedores, principalmente do Rattus norvegicus (ratazanas de esgoto), mas que também pode ser encontrada na urina de animais domésticos como cachorro, porco e cavalo.

As pessoas contraem a leptospirose quando entram em contato com a água contaminada e têm algum ferimento na pele, pois é por meio da pele lesada que a bactéria penetra no organismo. Mas também pode ser contraída, pela mucosa e pele íntegra quando imersa por muito tempo em água ou lama contaminados e ainda pela ingestão de alimentos ou água contaminados.

Segundo o médico veterinário Roberto Brito, a área técnica do GT Zoonoses da Sespa, a leptospirose é uma doença sazonal cuja incidência aumenta no período de dezembro do ano em curso a maio do ano subsequente. “Ela atinge principalmente homens na faixa etária de 25 a 45 anos de idade porque estão em idade produtiva e são os que mais estão expostos aos riscos principalmente em função da atividade laboral”, informou Brito.

No que tange aos sintomas, conforme Brito, o doente apresenta inicialmente febre, dor de cabeça e mialgia (dor nos músculos), que são sintomas semelhantes com o de diversas doenças infecciosas. “Sendo assim, para suspeitar de leptospirose, associa-se, o aspecto ambiental, procurando saber se o paciente manteve contato com áreas alagadas ou ambiente em que há roedores e, em seguida, associa-se mais um sintoma, ou seja, náusea, vômito ou icterícia (pele amarelada).

Se tiver mais um desses sintomas, deve-se suspeitar de leptospirose. O que vai fazer o diferencial é o aspecto clínico, epidemiológico e laboratorial”, explicou Brito. Nesse tempo de chuvas, é muito importante que o médico faça uma boa anamnese para evitar idas e vindas do paciente à unidade de saúde, pois um caso pode se tornar grave, deixar sequelas irreversíveis, como insuficiência renal ou hepática e até levar a pessoa à morte.

Segundo dados do GT Zoonoses, até o momento, o Pará teve 118 casos confirmados de leptospirose contra 124 confirmados em 2016, tendo havido 13 óbitos em 2107 e 12 em 2016. Na série histórica de 2007 a 2017, houve 1.242 casos confirmados e 152 óbitos, com uma média de 13,81 óbitos ao ano e taxa de letalidade de 16,36% no Estado, maior do que a preconizada pelo Ministério da Saúde.

As principais medidas preventivas contra a leptospirose são evitar acúmulo de lixo e água parada, proteger os pés ao andar em áreas alagadas, beber água tratada, não deixar restos de alimentos de animais de estimação disponíveis aos roedores, não consumir alimentos de origem duvidosa ou expostos aos roedores e evitar tomar banho em igarapés, açudes e riachos próximos de áreas infestadas por roedores.


Serviço: para o primeiro atendimento, os usuários do SUS devem procurar as Unidades Básicas de Saúde ou as Unidades de Pronto Atendimento (UPA).